Ver os amigos gritarem por socorro em meio ao mar agitado, após serem arremessados da embarcação onde estavam por uma onda violenta, é uma cena que ainda assombra o pescador Deivid Luiz Monteiro Ferreira.
Ele foi um dos seis sobreviventes do naufrágio do barco “Safadi Seif”, em junho do ano passado, em Santa Catarina. “Não vou esquecer pelo resto da minha vida”, assegura. Ele foi encontrado sozinho, agarrado a uma boia, pelo Serviço de Busca e Salvamento da Marinha do Brasil (MB), 48 horas depois desse episódio.
Após ser notificada do desaparecimento da embarcação, a Força Naval imediatamente ativou o Centro de Coordenação de Salvamento, Salvamar Brasil, empregando os Navios-Patrulha “Babitonga” e “Benevente” e dois helicópteros UH-15 Super Cougar. Uma das aeronaves foi a que localizou Deivid, a cerca de 200km da costa catarinense. Ele conta que se lançou ao mar na tentativa de salvar os dois companheiros, que se debatiam na água. “O ciclone cresceu ali a dez metros da gente e foi muito rápido. Não teve tempo para nada”, lembra.
O pescador é um dos 754 sobreviventes de acidentes marítimos e fluviais registrados em 2023, segundo dados do Comando de Operações Marítimas e Proteção da Amazônia Azul (COMPAAz), que supervisiona o Serviço de Busca e Salvamento da MB. Casos como o de Deivid foram os que mais geraram incidentes SAR (do inglês, Search and Rescue) – 33% das 295 ocorrências correspondem a “homem ao mar” (que, apesar da nomenclatura, inclui águas interiores e costeiras) e 94% sucederam com pequenas embarcações, de até mil toneladas.
Os bastidores dos salvamentos
Apesar da constante fiscalização realizada pelas Capitanias, Delegacias e Agências, a fim de garantir a segurança da navegação, há fatores que extrapolam o controle da Marinha e influenciam no número de ocorrências.
“A quantidade de eventos dessa natureza pode sofrer alterações de acordo com fatores diversos, como falhas técnicas em embarcações, fatores humanos e questões meteorológicas”, exemplifica o Encarregado da Seção de Socorro e Salvamento do COMPAAz, Capitão de Fragata Gustavo Lemos.
Na linha de frente dos trabalhos de resgate, os navios e aeronaves são orientados por uma estrutura robusta de coleta e compartilhamento de informações, que permite localizar rapidamente tanto as vítimas, quanto embarcações próximas e em condições de prestar apoio. Os dados, fornecidos pelos barcos e navios ao COMPAAz e cadastrados no Sistema de Informações sobre o Tráfego Marítimo (SISTRAM), subsidiam as decisões dos Centro de Coordenação de Salvamento regionais (Salvamar).
Outro recurso utilizado pelo COMPAAz, segundo o Capitão de Fragata Gustavo Lemos, é o Sistema de Planejamento de Apoio à Decisão SAR (SPAD-SAR), que aplica técnicas de modelagem computacional e algoritmos computacionais avançados para o planejamento das operações de busca e salvamento. “Cabe ressaltar que o SPAD-SAR foi fundamental para a rapidez na elaboração dos planos de buscas e precisão dos dados de deriva para maior acurácia na definição das áreas de buscas”, conta ele, ao se referir ao caso do “Safadi Seif”.
“A Marinha do Brasil mobiliza seus meios ou solicita apoio de embarcações próximas conforme a localidade, o tipo de incidente, as condições meteorológicas e a quantidade de vítimas. Há, também, um Acordo de Cooperação entre a FAB e a MB para os casos de incidentes SAR em que seja necessário o emprego de meios de ambas as Forças. Dependendo da ocorrência, poderá ser solicitado, também, o apoio de Forças Auxiliares”, esclarece o Encarregado da Seção de Socorro e Salvamento do COMPAAz.
A MB também costuma empregar mergulhadores escafandristas, tecnicamente capacitados para resgate. Segundo o Instrutor de Natação de Resgate do Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA), Primeito-Sargento João Marcello Sarzedas Lansillote, um dos fatores essenciais para o sucesso de um salvamento é o preparo profissional.
“Durante o curso, os alunos são submetidos a várias simulações. O condicionamento físico e o preparo psicológico são bases elementares na formação do mergulhador, pois a atividade o expõe às forças e dinâmicas da natureza em suas múltiplas diversidades, o que demanda planejamento, utilização dos equipamentos e execução das técnicas, sendo cada uma para um contexto específico”, afirma o Primeiro-Sargento Lansillote, acrescentando que o mergulho influencia mudanças de hábito, como alimentação, estudo e treinamento continuado.
SOS no mar
O canal mais comum de notificação de incidente SAR é o telefone 185, gratuito e disponível 24h por dia, sete dias por semana, em todo o território nacional. Foi por meio dele que familiares da tripulação do “Safadi Seif” comunicaram a MB sobre o acidente.
“Após o recebimento do pedido de acionamento pelo Salvamar Brasil, a solicitação é encaminhada para o Salvamar regional responsável pela localidade onde está ocorrendo a emergência, que realiza a coordenação do incidente SAR”, explica o Capitão de Fragata Gustavo Lemos.
O Salvamar Brasil também atende ocorrências sinalizadas pelo Sistema Marítimo Global de Socorro e Segurança (GMDSS), que utiliza tecnologia de satélites para emitir alerta rápido e automático de socorro, em todo o mundo. A sua utilização é obrigatória para navios em viagens internacionais ou em mar aberto, de carga de 300 toneladas ou mais e para aqueles que transportam mais de 12 passageiros. A regra também se aplica a embarcações brasileiras, devido a acordos internacionais dos quais o País é signatário.
GSAR
O Curso Especial de Tripulantes Aéreos de Resgate para Busca e Salvamento tem a finalidade de habilitar militares para desempenhar tarefas atinentes às atividades realizadas pelo Grupo de Tripulantes Aéreos de Resgate (GSAR) do Comando da Força Aeronaval (GSAR-AerNav) e dos Comandos dos Distritos Navais (GSAR-ComDN), a fim de serem empregados, prioritariamente, em Operações de Socorro (Incidentes SAR), visando à salvaguarda da vida humana em qualquer ambiente operacional a partir de uma aeronave.
O Curso possui uma duração de 8 semanas e é dividido em 3 fases, sendo elas: fase de adaptação, fase técnica e fase operacional. Além destas, o curso possui uma fase de seleção onde é realizado a verificação dos dados biográficos, Teste de Avaliação do Condicionamento Físico Específico (TACFE) e Exame de Suficiência Peculiar (ESP).
Cada um faz a sua parte
Simples ações preventivas adotadas pelas tripulações podem salvar vidas e evitar chegar ao extremo de precisar do SAR. “O uso correto de equipamentos de salvatagem, o emprego pela comunidade marítima e fluvial de embarcações em condições de pronto uso e a verificação de avisos de mau tempo antes de se fazer ao mar, ou de efetuar travessias em rios, são medidas essenciais para que tenhamos condições seguras de navegação em toda área SAR marítima e fluvial brasileira”, avalia o Capitão de Fragata Gustavo Lemos.
Os condutores das embarcações também podem lançar mão do aplicativo gratuito NAVSEG, desenvolvido pela MB, em parceria com o Ministério do Turismo. A tecnologia permite aos comandantes cadastrarem os dados da embarcação e compartilharem o seu plano de viagem antes de iniciar a navegação. Assim, a Autoridade Marítima é capaz de localizar mais rapidamente qualquer embarcação em perigo e agilizar o envio de socorro a pessoas na mesma situação do pescador Deivid Ferreira.
FONTE: MB
FOTOS: MB/GSAR
O Serviço de busca e salvamento vem mostrando o seu valor ao longo dos anos. Em 2023 foram 754 famílias que receberam seus entes queridos. Contudo, por dever de justiça aqueles que arriscam suas vidas em prol do próximo, a matéria deveria citar os Tripulantes Aéreos de Resgate (TAR) componentes do GSAR do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN) que inclusive aparecem em todas as fotos da matéria. Adicionalmente, o Resgate do Sr. Daivid foi realizado por membro do GSAR que estava embarcado na aeronave UH-15. Por fim, parabéns a todos os componentes do serviço de busca e salvamento.
Bravo Zulu GSAR! 🚁⚓️🇧🇷
A matéria está errada ao citar os mergulhadores escafandristas como elementos de resgate. Todas as fotos usadas na matéria fazem alusão ao Grupo de Tripulantes Aéreos de Resgate que tem como membros, os Tripulantes Aéreos de Resgate, que é composto por militares de diversos corpos e quadros e formados no Curso Especial de Tripulantes Aéreos de Resgate com sede no Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN).
Atribuir uma atividade tão louvável a outra equipe é contribuir para a desinformação.
Darci,
O artigo é de autoria da própria Marinha do Brasil, ou seja, se ela citou os escafandristas, não deve estar errada.
Com relação às fotos, elas são Ilustrativas e, em sua maioria, da própria MB, utilizadas para mostrar os diversos resgates realizados, independentemente de qual quadro realizou, pois foi a Marinha quem fez o resgate.
Não há nenhuma desinformação nessa publicação!
A matéria está equivocada em atribuir o resgate do Safadi Seif aos Mergulhadores Escafandristas. O resgate a partir de aeronaves é realizado pelo GSAR.