Por Nathália do Vale
No final de agosto, a Royal Navy e a Marinha paquistanesa conduziram o exercício conjunto White Star 2020, no norte do Mar Arábico e outro exercício, no Golfo de Adem. Estiveram presentes a fragata Type 23 HMS Argyll (F 231) da Marinha britânica e os navios Zulfiquar, Dehshat e Saif da Marinha paquistanesa.
Os exercícios envolveram ações de superfície e de defesa antiaérea, manobras entre os navios e de comunicações para aumentar o grau de interoperabilidade entre as duas Marinhas. Em comunicado oficial, a Marinha paquistanesa afirmou que os exercícios tinham por objetivo demonstrar sua resolução em contribuir com a paz e estabilidade regionais.
Exercícios entre as duas Marinhas têm sido comuns nos últimos anos, tendo o HMS Argyll também participado de um deles em 2018. Para além dos laços históricos, essa aproximação pode ser analisada sob a luz da estratégia Global Britain. Lançada após o Brexit, essa é uma nova estratégia para a política externa britânica, buscando fortalecer relações com parceiros globais para determinar o lugar do Reino Unido no mundo após sua saída da União Europeia. Nesse sentido, exercícios como o White Star funcionam como importantes veículos de “show the flag”, relembrando aos atores regionais da presença e interesse britânicos na região e de sua eventual disponibilidade em atuar conjuntamente com o Paquistão no local.
Devido à sua localização estratégica e ao fácil acesso ao Mar Arábico, o Paquistão também é um importante parceiro para assegurar navios britânicos operando na região e em direção ao Estreito de Ormuz, particularmente considerando a presença do Irã e seus sucessivos ataques à petroleiros no ano passado. Além disso, é evidente também a relevância para o Paquistão de demonstrar publicamente sua cooperação militar com o Reino Unido, principalmente diante de recentes acontecimentos.
Notícias de que a ilha de Socotra, localizada no Golfo de Adem, possa abrigar uma base de espionagem conjunta entre Israel e Emirados Árabes levantaram possibilidades de monitoramento israelense sobre o Paquistão, trazendo tensões para os países do Golfo. A escolha desse mesmo local para a realização do White Star, portanto, pode também ser lida como uma mensagem paquistanesa a esses países de que ele não está sozinho.