Por Marcelle Torres
Em dezembro de 2022, Seul aprovou o Plano de Defesa de Médio Prazo 2023-2027 em cerca de US$ 268,8 bilhões, visando um aumento médio anual no orçamento da pasta de aproximadamente 6,8% ao longo de cinco anos. Devido às crescentes ameaças nucleares, o objetivo do Ministério da Defesa sul-coreano é aumentar, sobretudo, os gastos com o sistema de segurança nacional de três eixos, composto por três estratégias: sistema de ataque preventivo Kill Chain, sistema de proteção Aérea e de Mísseis Coreanos (KAMD, na sigla em inglês) e plano de Punição e Retaliação Massiva da Coreia (KMPR, na sigla em inglês).
Em 2022, Pyongyang lançou mais de 90 mísseis balísticos e de cruzeiro e um ICBM Hwasong-17, além de veículos aéreos não-tripulados no espaço aéreo sul-coreano.
Entretanto, pergunta-se: as novas prioridades de defesa podem impactar no projeto de um porta-aviões sul-coreano CVX?
Apesar de anunciado pelo Plano de Defesa de Médio Prazo 2020-2024 e enfatizado pela administração presidencial anterior, de Moon Jae-in, o projeto de desenvolvimento do CVX (antigo LPX-II), primeiro programa de construção de porta-aviões leve da Coreia do Sul, não foi contemplado no orçamento de Defesa para 2023.
De acordo com o governo, a mudança no orçamento não simboliza o fim deste projeto, mas um momento para reavaliar seus ativos, como o desenvolvimento local de aeronaves baseadas em porta-aviões. Todavia, a atual ênfase em Defesa se direciona para os poderes terrestre e aéreo sul-coreanos.
O porta-aviões integra o plano de desenvolvimento de uma Marinha de águas azuis da Coreia do Sul e segue uma lógica de “equilíbrio funcional no mar”, em que Seul busca preservar os interesses marítimos do país, manter a política de potência média e seguir uma política minimalista de não desafio à hegemonia de Washington ou confronto com Pequim.
Em virtude das funções que os porta-aviões possuem no domínio marítimo, além de contribuir na dissuasão de ameaças norte-coreanas, o CVX possibilita uma melhor proteção dos interesses sul-coreanos; ainda, outros países do Leste Asiático conseguem desenvolver esse tipo de embarcação e modernizá-la; assim, Seul precisa acompanhar tal avanço. Portanto, a administração presidencial de Yoon Suk-yeol, por ressaltar a importância de dissuadir Pyongyang, reforçar a aliança com os Estados Unidos, atuar no Indo-Pacífico, operar a níveis regional e global e expandir a indústria de Defesa sul-coreana, também precisa se ater aos benefícios do projeto CVX.
Parafraseando Pagodinho: “Camarão que dorme a onda leva”.
Velho dilema de se ter ou não um NAe. Ao meu ver, as ameaças da ROK são claras, investir no sistema de proteção Aérea e de Mísseis é questão de sobrevivência.
Parabéns pelo artigo! Acompanho os artigos da Sra. Marcelle Torres há anos pelo Boletim Geocorrente. Ela é uma das maiores especialistas em península coreana que tive a honra de conhecer durante o colóquio, também realizado na Escola de Guerra Naval.