Apesar de ter sido um ano de muitos eventos, como a Copa do Mundo, as eleições presidenciais e uma economia claudicante, o Programa Nuclear Brasileiro teve alguns avanços. Técnicos e políticos. Essa constatação também é do Diretor Técnico de Enriquecimento Isotópico da INB, Almirante Álvaro Luís de Souza Alves Pinto.
Apesar das dificuldades geradas pela interrupção das obras de Angra 3, houve avanços significativos, como a própria definição de uma nova tarifa para geração nuclear de energia, agora compatível com o mercado internacional, e capaz de atrair parceiros privados internacionais, fundamentais para a conclusão da terceira usina brasileira. Dentro do Projeto Perspectivas 2019, o Petronotícias conversou com o Almirante Álvaro para saber suas opiniões sobre os acontecimentos deste ano e como ele está vendo o desenho do novo governo que se aproxima de sua posse. Vamos saber o que ele pensa:
Como analisa os acontecimentos de 2018 em seu setor?
– Foi um ano difícil: orçamento restrito, processo eleitoral bastante disputado e diversas denúncias e investigações. Isso, certamente, acrescentou incertezas e dispersou a atenção. Não obstante, chegamos ao final de 2018 com resultados positivos. Sem a pretensão de ser exaustivo, nem respeitando cronologia ou importância, é possível mencionar algumas realizações:
· A intensificação dos trabalhos do Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB), coordenado pelo GSI;
O Decreto 9.600, de 5/12/2018, que consolida as diretrizes da Política Nuclear Brasileira;
- A criação da Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade;
- A inauguração da cascata 7 de ultracentrífugas na INB-FCN (Resende);
- A conclusão da infraestrutura para instalação das cascatas 8, 9 e 10 de ultracentrífugas, na INB-FCN (Resende);
- A autorização do início de processamento do material retirado da Mina do Engenho, em Caetité, pela INB;
- O lançamento da Pedra Fundamental do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB);
- O início dos testes de integração dos turbogeradores do LABGENE; e · A primeira operação da Sala de Controle do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE).
Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
– Ao invés de combater problemas com soluções, adotarei um enfoque alternativo. O que deve ser aprimorado? O que é possível ser feito para aumentar a eficácia do esforço ora empregado? Um esforço que não é pequeno. Ou seja, prefiro me concentrar nas fraquezas mais evidentes, eliminando-as. De certa forma, fazer o dever de casa. Nesse sentido, precisamos definir, clara, objetiva e abrangentemente, as metas a serem alcançadas. A partir disso, estabelecer os programas que visarão essas metas. Devemos, também, fazer uma boa gestão dos recursos disponíveis. Isso requer o aprimoramento da coordenação das atividades, a ampliação da cooperação entre os diversos agentes, a priorização de atividades, o planejamento a médio e longo prazos, etc.
Esse esforço deve ser nacional. O Estado atuando como um organismo. Assim, parte das dificuldades enfrentadas serão, no mínimo, mitigadas. Essa “arrumação” deve vir de cima para baixo e exige trabalho continuado, persistente, independentemente de viés ideológico. Quaisquer outras medidas perdem muita eficácia exatamente pelas nossas deficiências estruturais e de gestão. Por isso, em minha opinião, devemos começar pelo início, resolvendo-as.
O que espera do Governo Bolsonaro? Está pessimista ou Otimista?
– Ariano Suassuna dizia evitar o otimismo, por sua natureza inocente, e o pessimismo, por ser intrinsecamente amargo. Ele preferia adotar o, assim dito, “realismo esperançoso” como forma de encarar a vida e seus desafios. Segundo ele, era preciso manter uma visão realista da situação, sem minimizar obstáculos e riscos ou superestimar capacidades, com a crença no progresso pelo trabalho firme e honesto. É exatamente assim que eu aguardo o próximo governo, que se propõe a realizar ações reestruturantes tão necessárias, com realismo esperançoso.
FONTE: PetroNotícias