As principais empresas do setor de Defesa brasileiro já começaram formar consórcios para participar da megalicitação do projeto de monitoramento de uma área de 4,5 milhões de quilômetros quadrados da costa brasileira, conhecida pela sigla Sisgaaz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul). O projeto pertence à Marinha e prevê investimentos de US$ 10 bilhões em alguns anos.
A unidade de defesa do grupo OAS, criada em 2012, disputará o Sisgaaz em composição com a empresa israelense IAI e as brasileiras IACIT e Módulo. Segundo o diretor da OAS Defesa, José Lunguinho Filho, a empresa pretende aliar sua expertise como empresa integradora de grandes projetos às tecnologias de ponta de suas parceiras.
“A IACIT desenvolveu um radar de vigilância costeira 100% nacional e a Módulo foi a empresa escolhida para desenvolver os 12 centros de comando e controle da Copa do Mundo, um conhecimento que poderá ser utilizado no sistema equivalente do Sisgaaz”, disse Lunguinho.
O executivo da OAS disse que a empresa pretende reforçar a sua atuação na área de defesa e para isso está participando de vários projetos. Ele destaca o projeto Proteger, do Exército, que prevê a proteção das instalações estratégicas do país e também a aprovação de 10 projetos no âmbito do InovaAerodefesa, iniciativa do governo federal de apoio os setores aeroespacial, defesa e segurança.
“Para esses projetos, voltados para a área de sistemas de comando, controle e gerenciamento de tráfego aéreo, já temos parcerias com universidades e institutos de pesquisa e empresas como a nacional Optoeletrônica, de São Carlos (SP) e a israelense Rafael”.
Segundo Lunguinho, o mercado de defesa no Brasil tem espaço para todas as empresas que tiverem bons projetos. “A OAS, com a sua marca e tradição de 36 anos no mercado, tem parceiros fortes e credenciados para participar de projetos do porte do Sisgaaz e de outros que surgirem”, afirmou.
O Valor apurou ainda que o grupo Queiroz Galvão participará do Sisgaaz por meio de um consórcio com a Lockheed Martin e Rockwell Collins, dos EUA, e a brasileira Promon.
Durante o lançamento oficial do projeto, no Rio, sexta-feira, e da entrega do pedido de propostas (da sigla em inglês RFP), o chefe da diretoria de projetos estratégicos da Marinha (Dgepen), vice- almirante Antônio Carlos Frade Carneiro, disse que o Sisgaaz será implementado em quatro módulos, a partir de 2016, no período de dez anos. As empresas têm até julho para apresentar propostas.
O Sisgaaz prevê a contratação de uma empresa brasileira principal (“main contractor”), para fazer o gerenciamento da implantação de todos os módulos do programa. “Ao final do primeiro módulo, se a contratada não atender às nossas expectativas, outro grupo nacional, que tiver sido selecionado para a ‘short list’ do Sisgaaz, poderá assumir”, disse. A fase conceitual do Sisgaaz, já encerrada, custou R$ 38 milhões. O projeto foi desenvolvido pela Fundação Ezute. O vice-almirante estima para a fase de implantação cerca de R$ 14 bilhões.
Carneiro disse que a contratada principal do Sisgaaz também será responsável pela subcontratar de pequenas e médias empresas fornecedoras de sistemas e sensores para a rede de monitoramento da região chamada de Amazônia Azul – uma área que se estende até 350 milhas náuticas (648 km) da sua costa e 200 milhas náuticas em torno de suas ilhas oceânicas.
“Não se trata apenas de uma compra de sistemas de empresas estrangeiras. Queremos fazer parcerias que permitam transferência de tecnologia. Esse processo será viabilizado por empresas brasileiras estratégicas de defesa (EED)”, explicou. Carneiro ressalta que as subsidiárias de companhias estrangeiras com operações no país não serão consideradas como EED.
A Embraer informou apenas que ela e suas coligadas estão prontas para atender a Marinha com experiência comprovada em sistemas de defesa de similar complexidade, fator essencial para o desenvolvimento e implementação do Sisgaaz.
A diretora de desenvolvimento de negócios da Andrade Gutierrez, Milani Vieira Trannin, disse que o projeto Sisgaaz é hoje o grande foco da empresa na área de defesa. “Ainda estamos numa fase de definição dos nossos parceiros neste programa, mas já fizemos uma parceria com a brasileira Minds, especializada no desenvolvimento de software e com experiência em projetos estratégicos para o Exército”, comentou.
A Airbus Militar também analisa alianças com a indústria local para desenvolver no Brasil sistemas para fusão de dados, tecnologia de interesse do Sisgaaz. “Em fevereiro vamos inaugurar nosso centro de pesquisa e tecnologia, instalado no parque tecnológico de São José dos Campos, onde este e outros projetos deverão ser desenvolvidos”, disse o representante da empresa, Sirko Papperitz.
Fonte: Valor Econômico – Virginia Silveira