Opinião – Newton Carlos
Quando esteve no Brasil em 2012, ainda secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta falou na Escola Superior de Guerra e deixou claro qual seria a estratégia americana pós-Guerra Fria: construir alianças regionais sólidas, tendo o Brasil como forte opção no continente. A América do Sul, de seu lado, reage criando um instrumento coletivo, a União dos Países da América do Sul, a Unasul.
A mesma estratégia, de alianças regionais, sendo o Brasil primeira opção na América Latina, foi também a escolha de Kissinger quando secretário de Estado e assessor de Segurança Nacional. Ele chegou a discuti-la com o nosso ministro do Exterior na época da ditadura militar, Azeredo da Silveira. Mas não foi adiante e é agora revivida com Kissinger, integrando um conselho de assessores do Departamento de Estado criado por Hillary Clinton, quando secretária de Estado.
Mas a opção da América Latina é de fortalecimento de organismos regionais. A Unasul passa por cima do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, o Tiar, usado pelos Estados Unidos para justificar o golpe de 1964 na Guatemala, o primeiro da Guerra Fria em nosso continente. O país centro- americano estava, na época, na versão americana, sob riscos de “ameaça comunista”. O Conselho de Defesa da Unasul já adotou medidas nas áreas de “transparência em sistemas e gastos militares”, fortalecendo sua autonomia.
As alianças regionais, do ponto de vista americano, se encaixariam em doutrinas de guerra do Pentágono. A vigente já estaria se esgotando. Pode ser resumida na convicção de que os Estados Unidos devem estar preparados para enfrentar, ao mesmo tempo, duas guerras de larga escala, como a do Iraque, tida até em Washington como uma guerra estúpida, e a do Afeganistão. De agora em diante, os Estados Unidos devem preparar-se para enfrentar qualquer tipo de ameaça, venha de onde vier, com o Pentágono só ou com acompanhantes.
Os estrategistas americanos, em seus devaneios bélicos, partem do fato de que pequenas guerras acontecem em várias partes do universo, com os Estados Unidos concentrados “erradamente” no Iraque e no Afeganistão. Mas constatam que não é fácil trocar de manuais. O Pentágono projetou a criação de um Comando Africano, semelhante ao Comando Sul, a cargo da América Latina e quase em desuso por imposição de ditames regionais. Desistiu porque nenhum país africano “relevante” aceitou abrigá-lo. O Pentágono e os seus, no entanto, com a necessária bênção de Obama, concluíram que é mesmo hora de concretizar mudanças.
Já conseguem colocar em campo as chamadas guerras por procuração. Um exemplo de peso é o dos etíopes lutando na Somália. Mais recentemente, a erupção terrorista no Quênia, com presença de somalis, e a inteligência atuante, como um dos meios de inserção. Como pano de fundo, um orçamento gigantesco do Pentágono, já ultrapassando os US$ 700 bilhões. Obama talvez queira, com isso, desfazer acusações de inimigos conservadores, “à direita”, de que é mole e despreparado em questões de segurança. São canceladas fabricações de cruzadores, de aviões de maior uso em guerras de larga escala e de satélites espiões.
Mas o Pentágono continuaria em condições de travar várias guerras ao mesmo tempo, inclusive a partir de seu território. Talvez as guerras no Iraque e no Afeganistão ainda não tenham se esgotado de todo em seus manuais, tampouco se conhece totalmente as reações do complexo industrial-militar beneficiário de contratos bilionários de armamentos de guerras pesadas.
FONTE: Correio Braziliense
Senhores,
o Brasil exerce uma estratégia multifacetada que visa acelerar a transição da unipolaridade e a hegemonia econômica dos EUA e e alguns países da Europa, para uma ordem multipolar, em que as normas internacionais, normas e instituições seja mais favoráveis aos interesses brasileiros. O governo brasileiro foca suas ações em um tripé de estratégias diplomáticas: equilíbrio suave contra os planos de poder dos Estados Unidos, a construção de coligações para aumentar o poder de negociação do Brasil, e o fortalecimento da posição do Brasil como líder de uma América do Sul mais unida.
Esta estratégia tem elevado com sucesso o perfil do Brasil e aumentado seu peso diplomático, mas também expôs o país a quatro dilemas estratégicos potentes que podem complicar ou minar sua ascensão. Em primeiro lugar, questões como infra-estrutura precária, corrupção desenfreada, a tributação excessiva e regulação da economia podem impedir o Brasil de atingir um forte crescimento econômico necessário para sustentar um projeto tão ambicioso estratégico.
Em segundo lugar, para lidar com a América do Sul, a classe política brasileira não tem conseguido conciliar o desejo de liderança regional com as crescentes demandas feitas por seus vizinhos. Como resultado, muitos desses países, tem a percepção de que a diplomacia do Brasil tende a ser dominante e nossas políticas comerciais visando estritamente o auto-interesse, e alguns tem assim, recusado a legitimar a preeminência regional brasileira.
Em terceiro lugar, em nível global, a coesão e a eficácia das várias parcerias diplomáticas do Brasil a longo prazo é uma questão ainda em aberto. Em quarto lugar, as relações com Washington, inevitavelmente, implica um risco crescente de conflitos sobre questões como o Irã, Síria, a política comercial, bem como o papel diplomático e militar dos EUA na América Latina. Olhando para o futuro, a eficácia da estratégia brasileira para se tornar um global player(e suas conseqüências para os interesses dos EUA) será dependente como os sucessores da cadeira presidencial vão agir para resolver esses dilemas.
Exclusivamente por força da sua dimensão e capacidade econômica, o Brasil vai exercer uma forte atração sobre a política regional e global nas próximas décadas. Mesmo nas projeções mais otimistas, no entanto, hoje, o Brasil ainda não possui a total capacidade econômica ou militar para competir com outras grandes potências – ou seja, os Estados Unidos, China e União Europeia (UE) – o esforço para tanto ainda levará décadas…
Se o Brasil atingir o que os cientistas políticos chamam de “impacto sistêmico”(a capacidade de moldar a ordem global de forma significativa), ao meu ver, não deveria fazê-lo através da acumulação inexorável de peso geopolítico, mas pela desenvoltura de sua Justa estratégia e diplomacia. Desta forma, evitaríamos cometer os mesmos erros de outros que atingiram o mesmo patamar.
É interessante o Brasil continuar seguido a sua estratégia de multi-camadas que enfatiza uma gradual e pacífica “revisão da ordem internacional”. A ordem atual (caracterizado pela hegemonia militar e estratégica dos EUA e da hegemonia econômica de alguns países europeus) é de certa forma prejudicial para o desenvolvimento, os interesses comerciais, e influência diplomática dos países emergentes como o Brasil. Percebe-se que, o objetivo fundamental da estratégia brasileira tem sido, assim, acelerar a transição do domínio do mundo desenvolvido para uma ordem multipolar, em que o equilíbrio de forças internacionais e as instituições seja mais favoráveis para a afirmação dos interesses do Brasil.
Porque o Brasil ainda enfrenta, e continuará por décadas, com déficit relativo de poder econômico e militar. É a estratégia comumente usada por “potências médias”, países que contam com o multilateralismo, construção de coalizão, e outros tais métodos para alcançar influência sistêmica. Em nível global, temos procurado reforçar as normas e organizações internacionais que podem dosar o poder americano, uma técnica soft-equilíbrio clássico.
O Brasil forjou teias de parcerias bilaterais e coalizões multilaterais destinados a diversificar o comércio do Brasil, melhorar sua flexibilidade estratégica, e aumentar a sua influência nas negociações internacionais. Isso implicou abraçar jogadores de todo o espectro de atores internacionais, incluindo países(Irã é um exemplo notável) que são profundamente hostis aos Estados Unidos. Ao nível regional, o Brasil apesar do mi mi de alguns países, é reconhecido como o líder natural que busca unir a América do Sul, evidentemente isso amplia a base de poder do país indo de encontro a suas ambições globais lhe facultando a possibilidade de jogar com peso geopolítico global de seu continente.
Grato.