Por Marina Rocha
O tenente fuzileiro naval Ítalo Felipe da Silva Serejo é o comandante da Companhia de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (DefNBQR) da Marinha. Ele está à frente de um efetivo de 30 oficiais e 82 praças que atuam na detecção e descontaminação de ameaças no país. Serejo foi um dos instrutores da oficina prática de Equipagem de Proteção Individual (EPI), ministrada aos participantes do Sexto Curso Básico de Assistência e Proteção em Resposta a Emergências Químicas para Estados Partes da América Latina e Caribe.
De acordo com ele, os profissionais de sua área tem o desafio de lidar com o inesperado. “Nós podemos atuar, por exemplo, com ataques terroristas ou no envolvimento de uma emergência. Precisamos manter a calma para atender as pessoas”, explicou o tenente.
Para trabalhar com segurança, quem tem a DefNBQR como rotina deve estar preparado, inclusive com os aparatos específicos, para cada tipo de problema. Essa foi a lição que os integrantes do Sexto Curso aprenderam na tarde desta terça-feira (24), no Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro. “O mais importante é conseguir voltar para casa com a tropa sã e salva”, afirmou Serejo.
Vestir o traje de DBQRN
Para se ter uma ideia, são 14 passos para vestir um profissional de defesa nuclear, biológica, química e radiológica com roupa de proteção C – usada para detecção e descontaminação de ameaças mais fracas. Ao todo, o setor possui indumentária para quatro níveis, que vão do D ao A, de acordo com o grau de perigo. Mesmo em situações aparentemente simples, a preparação é fundamental para o sucesso da missão. “A roupa é a nossa proteção. Temos que fazer uma correta equipagem e desequipagem”, disse o comandante.
No exercício de ontem, o nível C foi caracterizado pela cor branca. Os passos de equipagem e desequipagem são os seguintes:
– vestir uma espécie de saco plástico no pé e vedar com fita crepe na altura do tornozelo;
– vestir luva cirúrgica e vedar no punho;
– repetir a segunda etapa, colocando mais uma luva por cima;
– vestir o macacão descartável Tyvek;
– calçar a bota plástica (estilo galocha) e passar fita adesiva entre o material da roupa e o calçado;
– por luva nitrílica e vedar;
– vestir a máscara de respiração;
– subir o capuz;
– vedar os espaços entre o capuz e a máscara, de modo a não deixar nenhum pedaço de pele exposto;
– passar fita no zíper do macacão até as costas, passando pelo meio das pernas;
– colocar fita no lado direito do peito horizontalmente;
– fazer o mesmo nas costas;
– rosquear o filtro da máscara;
– e escrever o nome com o tipo e RH sanguíneo nas fitas horizontais.
Outros níveis foram mostrados em macacões amarelo e camuflado. Para vesti-los, as etapas eram praticamente as mesmas das anteriores. No caso da A, o macacão é azul e vem com tubo de oxigênio acoplado com capacidade para até 30 minutos de respiração. Esse mais alto grau de perigo pode também ser usado para detectar, por exemplo, focos do vírus ebola.
Missões e detecção
“Nossa companhia ficou de prontidão no caso de ser acionada para a descontaminação da aeronave que transportou um paciente com suspeita de ebola aqui no Brasil”, contou Serejo. O tenente relatou, ainda, que o órgão que comanda vem trabalhando na realização de adestramentos conjuntos e já atendeu a três chamados de alerta. Segundo ele, eram cartas com pó branco, que após análise foram consideradas alarme falso.
“Temos que estar adestrados, também, na área de detecção para manusear corretamente os equipamentos. São todos importados e de alto custo. Um deles está avaliado em R$ 200 mil. Possuímos, atualmente, na companhia, cerca de 60 detectores de vários tipos”, sentenciou.
Durante a parte da manhã da última terça-feira (24), o tenente-coronel Paulo Alexandre de Moraes Cabral, do Centro Tecnológico do Exército, falou acerca da importância de fazer vistoria nos equipamentos usados para detecção de ameaças. E completou: “Cada aparelho trabalha com uma tecnologia diferente. É bom usar, no mínimo, duas tecnologias para este fim”.
O oficial contou um caso que aconteceu na Copa do Mundo, em 2014. “A delegação russa estava no ônibus e quando fizemos a varredura acusou para presença de Sarin. Confirmamos com outros aparelhos e percebemos que, na verdade, era mistura de detergente utilizada como material de limpeza.”
Sarin é um composto líquido incolor e inodoro usado com fins de arma química devido à sua potência sob o sistema nervoso. O gás Sarin foi classificado como arma de destruição em massa. “Ao entrar em contato com o fabricante, eles mostraram que os espectros entre os dois produtos eram parecidos. Isso é exemplo de ‘tropicalização’ dos equipamentos”, disse o tenente-coronel Paulo. Agora, essa substância de limpeza específica já é detectada pelos aparelhos utilizados pela Força Terrestre.
Referência
A Marinha do Brasil possui importante centro médico para atendimento a radio acidentados. O Hospital Marcílio Dias, localizado na cidade do Rio, é referência na América Latina no tratamento desse tipo de pacientes.
“O Exército que começou com a área de defesa nuclear, biológica, química e radiológica. Nós viemos depois. E agora, principalmente por causa da construção do submarino nuclear”, lembrou o tenente Serejo. A Força Naval prevê o desenvolvimento, no país, de quatro submarinos convencionais diesel-elétrico e um a propulsão nuclear.
O Sexto Curso acontece até sexta (27), em organizações da Marinha e do Exército, no Rio. É destinado a civis e militares das nações integrantes da Convenção para Proibição de Armas Químicas (CPAQ). O objetivo é preparar técnicos com elementos teóricos e práticos, a fim de identificar e prevenir riscos e ameaças provocadas por agentes químicos.
Participam da capacitação integrantes das Forças Armadas, policiais, bombeiros e civis do Brasil, Antigua e Barbuda, Argentina, Barbados, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia.
FONTE:Asscom
FOTOS:Felipe Barra