O Navalshore 2023 é um evento de sucesso pela intensa movimentação de pessoas e também pelos anúncios realizados, como o novo programa de construção de 25 navios para cabotagem da Transpetro. Quem também está participando ativamente da feira é o Cluster Tecnológico Naval – RJ.
A entidade tem aproveitado o evento para destacar o potencial do estado na atividade de reciclagem de navios, produzindo aço verde a partir da sucata naval. “O Rio de Janeiro é o berço da indústria naval do Brasil e possui um vasto potencial para liderar a iniciativa de reciclagem ecológica de embarcações (plataformas e navios) nacionais e desenvolver essa atividade para embarcações estrangeiras”, disse o diretor-presidente da associação, Walter Silva. Ele ressalta ainda que o estado pode unir a atividade de reciclagem de navios com a geração de energias limpas, colocando o Rio de Janeiro na dianteira da economia verde do Brasil. “Ressalto, que toda uma cadeia logística necessitará ser preparada, principalmente de navios para instalar as torres eólicas e a manutenção. Isso envolve a construção, manutenção e reparação de novos navios bem como a estrutura portuária necessária”, acrescentou.
O diretor-presidente do Cluster contou que a entidade vai organizar hoje, durante a Navalshore, dois importantes painéis de debates para discutir a atividade de reciclagem de navios e também as questões de conteúdo local e nacionalização de itens.
Para começar, poderia falar um pouco sobre como tem sido a atuação do Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro?
O Cluster Tecnológico Naval foi instituído em 13 de novembro de 2019, mas logo depois tivemos a pandemia. Hoje contamos com 84 empresas, além de 23 instituições que compõem o Conselho Científico-Estratégico e o Conselho Empresarial. O Cluster aplica na prática o modelo Triplo Hélice, reunindo empresas, Estado e academia em um mesmo fórum, criando um produtivo ambiente de negócios e conhecimento sobre Economia do Mar.
Em 2021, formamos um grupo de trabalho com o objetivo de estudar a atividade de reciclagem de embarcações (disponível em nosso site). Uma das entregas resultantes foi um Anteprojeto de Lei, encaminhado à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que se tornou em Projeto de Lei de autoria da deputada Celia Jordão (PL). Posteriormente, a proposta foi promulgada na forma da Lei nº 10.028/2023 pelo governador Cláudio Castro, sendo o Rio de Janeiro o primeiro Estado da Federação a ter uma Lei sobre o assunto, além de ser o primeiro a ter uma Lei estadual de política para o desenvolvimento da Economia do Mar.
Atualmente, estamos trabalhando em apoio ao Projeto de Lei Federal 1.584/2021, que também contempla a atividade de reciclagem de embarcações.
Nota-se que o Cluster tem dedicado um grande esforço nessa questão da reciclagem de navios. Qual o potencial do Brasil e do Rio de Janeiro nesse tipo de atividade?
Uma grande preocupação no Brasil atualmente é a criação de novas oportunidades para a geração de emprego e renda. A atividade de reciclagem de embarcações (plataformas e navios) ainda está tímida no país devido a várias questões, incluindo aspectos jurídicos. Isso fica evidente no caso do FPSO Fluminense. Recentemente, foi noticiado que a embarcação foi levada para ser reciclada na Dinamarca. Se essa plataforma fosse reciclada aqui no Rio de Janeiro, empregos poderiam ser gerados localmente. O Rio de Janeiro é o berço da indústria naval do Brasil e possui um vasto potencial para liderar a iniciativa de reciclagem ecológica de embarcações (plataformas e navios) nacionais e desenvolver essa atividade para embarcações estrangeiras.
Quais são as grandes vantagens em realizar a reciclagem verde de embarcações?
A utilização de minério de ferro na produção de aço envolve a emissão de um certo grau de poluição ao meio ambiente. Entretanto, ao ser utilizada a sucata de ferro no processo, ocorre uma considerável redução de CO2. Ecologicamente, é excelente e abre ainda oportunidades para a geração de créditos de carbono. Então, não estamos falando apenas de questões econômicas. A reciclagem de navios possui também uma grande relevância ambiental.
Além disso, o Rio de Janeiro também tem uma vocação natural para geração de energias limpas…
Com certeza, especialmente na área da geração eólica offshore, considerando a experiência que o estado possui na operação de plataformas offshore. O litoral brasileiro, possui três regiões que são excelentes em termos de ventos constantes e águas rasas: o Nordeste, o Norte do Rio de Janeiro/sul do Espírito Santo e o Rio Grande do Sul.
Então, veja o potencial do nosso estado. Além de produzir mais de 85% do óleo e gás no país, o Rio de Janeiro pode ser um polo de geração de energias alternativas. Se unirmos esses potenciais com a produção de aço verde a partir da sucata naval, estaremos na dianteira da economia verde no Brasil. Ressalto que toda uma cadeia logística necessitará ser preparada, principalmente de navios para instalar as torres eólicas e a manutenção. Isso envolve a construção, manutenção e reparação de novos navios bem como a estrutura portuária necessária.
O Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro está participando ativamente da feira Navalshore, no Rio de Janeiro. Poderia destacar um pouco da programação desta quinta-feira?
Para hoje, preparamos dois painéis no Congresso da NavalShore sobre temas relevantes, em parceria com a revista Portos e Navios. O keynote speaker será o ex-Comandante da Marinha Almirante Ilques Barbosa Júnior. O primeiro painel abordará o tema conteúdo local, um assunto que é mandatório nas construções de plataformas e navios da Marinha. Nesse primeiro painel será apresentada a Câmara de Nacionalização, coordenada pela EMGEPRON, uma das empresas fundadoras do Cluster, onde participam várias associações e o Cluster, para a nacionalização de itens para indústria naval, substituindo importados, contribuindo para a busca de novas tecnologias nacionais e alavancando a indústria nacional.
O segundo painel será sobre a reciclagem de embarcações. Um dos palestrantes será o deputado Hugo Leal, que é o Secretário de Energia e Economia do Mar do Estado do Rio de Janeiro. Essa é a primeira secretaria estadual com esse nome. Ou seja, o Rio de Janeiro está sendo pioneiro em vislumbrar a grandiosidade da Economia do Mar, ao criar uma secretaria específica para isso.
Como está avaliando a movimentação e os debates desta edição da Navalshore?
A feira do ano passado foi excelente, porque representou uma retomada da normalidade no pós-pandemia. A feira deste ano conseguiu superar as expectativas. A cerimônia de abertura contou com a presença de nomes relevantes do setor, incluindo o presidente da Transpetro, Sergio Bacci, e o Ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. Além disso, a feira de 2023 está com mais estandes e bem mais movimentada do que a do ano passado. Acredito que, em 2024, a Navalshore poderá ocupar todo o espaço do centro de convenções Expomag. Esse reaquecimento se deve, ao meu ver, às novas movimentações e expectativas em torno da indústria naval brasileira.
FONTE: PetroNotícias