Essa é uma das exigências para indústria voltar a funcionar após explosão. Fábrica em Juiz de Fora segue interditada desde o dia 16 de agosto.
Começou nesta segunda-feira (5) a transferência dos materiais explosivos da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), em Juiz de Fora. Essa é uma das exigências para que a fábrica volte a funcionar depois de uma explosão no mês passado.
O trânsito próximo a Imbel foi controlado para que os caminhões com o armamento pudessem sair. Eles levaram materiais explosivos e munições semiacabadas que estavam nos paióis 2 e 3 da indústria. Os veículos foram escoltados até o campo de instrução do Exército, que também fica na zona Norte da cidade.
“O transporte será feito tendo em vista a característica do material, que tem que ser separado. No destino final no Exército também serão colocados [os materiais] em paióis diferentes, então é uma logística especializada”, explica o assessor da Imbel, Coronel Malbatan Leal.
As munições ficaram comprometidas depois da explosão que aconteceu no paiol 1 no dia 16 de agosto. A transferência era uma das exigências para a reabertura parcial da unidade interditada pelos auditores da Gerência Regional do Trabalho em Juiz de Fora.
Malbatan destacou que o local é adequado e seguro. “É uma área da companhia do 4º Depósito de Suprimento, específica e isolada com estrutura apropriada para armazenar munição. Será completamente seguro, sem oferecer riscos aos moradores”, garantiu.
Após a transferência, a próxima etapa será o reparo dos danos causados pela explosão.
“A retirada dos materiais dos demais paióis era uma das condicionantes colocadas pelo Ministério Público do Trabalho, com propriedade, para o início das obras de engenharia necessárias. Nosso objetivo é, reunindo as condições de segurança, corrigir os pontos apontados no termo de interdição e entregar os laudos solicitados para conseguir a liberação parcial do funcionamento”, explicou coronel Malbatan Leal.
De acordo com ele, a meta é liberar primeiro a parte administrativa. No entanto, ainda não há uma previsão porque depende do andamento das obras, das emissões de laudos e de novas vistorias do Ministério do Trabalho e MPT.
“É um trabalho gradativo, que depende do cumprimento de todos estes processos. Deste acidente, vamos tirar todas as lições para reforçar ainda mais nossas normas de segurança”, afirmou.
Ressarcimento
Em outra frente, o assessor disse que a Imbel já começou a ressarcir os moradores que tiveram prejuízos com a explosão. Até o dia 31 de agosto, já tinham sido ressarcidas 59 das 279 pessoas que reclamaram.
“Já realizamos 258 visitas e vistorias e os 21 processos restantes estão em andamento. No entanto, 27 moradores que reclamaram não foram encontrados em casa. Por isso, pedimos que eles entrem em contato pelo e-mail que receberam da empresa para agendar a vistoria”, disse.
Vistoria
O assessor disse que a vistoria do Ministério do Trabalho e do MPT, no dia 29 de agosto, representou mais uma etapa para o restabelecimento da rotina da fábrica.
“Eles verificaram as instalações e os materiais acondicionados. Nós já havíamos retirado as munições dos paióis 2 e 3, porque sofreram danos na estrutura e destelhamento. No entanto, eles solicitaram que fossem guardados em outro local, mais adequado, e então providenciamos a transferência, com o apoio do Exército Brasileiro”, esclareceu.
O Ministério do Trabalho informou à TV Integração que a vistoria foi realizada, mas que não pode antecipar detalhes do laudo.
A assessoria do MPT em Belo Horizonte explicou que auditores do Ministério do Trabalho e o procurador responsável pelo inquérito fizeram a inspeção e conheceram as instalações da fábrica. Agora está em elaboração o laudo pericial sobre o caso. Para isso, é necessário entender todo o processo de produção da empresa, além da análise dos dados levantados pelos peritos e da documentação entregue pela empresa. Enquanto isso, a fábrica permanece interditada.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias Químicas, Farmaceuticas e de Material Plástico de Juiz de Fora e Região (Stiquifamp), Scipião da Rocha, o sindicato não acompanhou a vistoria, mas irá receber uma cópia do laudo.
Ele também contou ao G1 que esteve na reunião na Praça CEU, na zona Norte, no dia 30 de agosto, quando representantes da empresa apresentaram esclarecimentos aos moradores. O sindicato solicitou um posicionamento da Imbel para os trabalhadores sobre como fica a situação durante a interdição. E ainda segundo Scipião, a empresa pediu 30 dias para entregar um laudo sobre as causas da explosão.
A diligência na fábrica foi decidida após uma reunião do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho com representantes da fábrica sobre as condições de trabalho, após denúncia do Stiquifamp. A Procuradoria abriu um inquérito e agora quer descobrir se as condições a que estão submetidos os empregados são satisfatórias ou se a empresa não está respeitando as normas.
De acordo com a MPT, a Imbel se comprometeu a encaminhar aos promotores, em cinco dias, a documentação que descreve o processo de restauração do ambiente de trabalho. A Imbel também terá que mandar para o Ministério Público o inventário do material armazenado nos outros dois paióis e cópias das inspeções de segurança realizadas desde 2015.
A unidade da empresa permanece interditada até a administração tomar providências para garantir a segurança dos 270 funcionários.
Explosão assustou moradores
A explosão ocorreu no fim da noite do dia 16 de agosto. De acordo com a nota oficial da Imbel, o paiol 1 concentrava munições e foi totalmente destruído. Outros dois foram destruídos parcialmente e houve um princípio de incêndio em um depósito de material químico.
Além de ter causado danos em residências, o acidente deixou moradores de bairros vizinhos assustados. Ao G1, eles contaram que a explosão trouxe uma sensação de terremoto, com um barulho muito alto.
A equipe de controle de danos da fábrica e o Corpo de Bombeiros isolaram a área e realizaram o rescaldo do incêndio. Não houve feridos nem mortos.
De acordo com a Imbel, a instalação fica em área afastada de locais de circulação de pessoas e da área urbana e era destinada ao armazenamento de explosivos, sob condições de temperatura e umidade permanentemente controladas.
As causas da explosão estão sendo investigadas pelo Exército e um inquérito técnico-administrativo interno foi aberto pela Imbel. O laudo deve sair até o dia 18 de setembro.
Imbel foi inaugurada em 1938
Além da unidade da Zona da Mata, a Imbel também está presente no Rio de Janeiro (RJ), Magé (RJ), Itajubá (MG) e Piquete (SP). A fábrica de Juiz de Fora foi inaugurada em 1938, mas já funcionava em 1937.
A empresa tem tecnologia própria para a fabricação de materiais de emprego militar, com qualidade assegurada por Certificado de Sistemas da Qualidade e Serviços Pós-entrega para Material Bélico Aeroespacial, foguetes e munições de 40 a 155 milímetros e suas embalagens.
No local, são produzidas munições para morteiros 60, 81 e 120 milímetros, para canhões de 90 milímetros e para obuseiros 105 e 155 milímetros; motor foguete SBAT 70 M4B1 e cabeças de guerra AP e AC.
Não é a primeira vez que a empresa registra um grande acidente na cidade. Em março de 1944, uma oficina da fábrica explodiu matando 14 trabalhadores.
FONTE: G1