Começa esta semana o futuro da Estação Antártica Comandante Ferraz, na Antártica, que teve 70% de suas instalações destruídas por um incêndio há 66 dias, levando com o fogo boa parte da pesquisa brasileira que tinha sede no continente. Amanhã está prevista uma reunião entre oficiais da Operação Antártica (Operantar) para traçar a missão dos navios Almirante Maximiniano e Almirante Ary Rongel no próximo verão antártico, que começa em outubro. Diante da tragédia de fevereiro, as duas embarcações, atracadas desde ontem no Arsenal de marinha do Rio, no Centro, terão como próxima missão o apoio à construção de instalações de emergência.
Para o verão 2012-2013, serão levados módulos que servirão de dormitórios e cozinha. Numa primeira estimativa do governo federal, a reconstrução da estação terminará em 2018 e vai custar R$ 100 milhões. Cada um dos dois navios terá funções distintas, mas que se complementarão. O Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, mais antigo, usará mais seus atributos de cargueiro. A embarcação tem dois porões, com capacidade de 1.300 metros cúbicos de carga (volume de 1,3 milhão de litros), e um guindaste capaz de erguer até 17 toneladas. O Navio Polar Almirante Maximiniano, por sua vez, deverá usar a vocação de concentrar pesquisadores. Apenas nesta última Operantar, o Maximiniano serviu a cerca de 80 cientistas em nove projetos diferentes.
– Já foi falado que, nesta próxima Operantar e nas seguintes, o Ary Rongel vai ser empregado apenas na reconstrução, e o Maximiniano, na pesquisa. Não quer dizer que não vai haver pesquisa no Ary Rongel, pois há trabalhos, por exemplo, que são feitos no trajeto. É importante que o navio não perca essa capacidade de pesquisa – torce o comandante do Ary Rongel, o capitão-de-mar-e-guerra Marcelo Luis Seabra Pinto.
Com o incêndio de fevereiro, o Ary Rongel aproveitou a viagem de volta para trazer dois tanques de etanol que operariam em caráter experimental na estação antártica. De acordo com o comandante, os tanques sequer conseguiram chegar à terra firme, pois o gerador de energia elétrica a etanol – um projeto da Petrobras – foi destruído pelo fogo. Apesar de especulações iniciais, o comandante afirma que o equipamento a álcool estava desligado no momento da tragédia e não seria causa do fogo.
Segundo o cronograma traçado em março pelo Ministério da Defesa, o orçamento do Programa Antártico Brasileiro deve ganhar um reforço de R$ 41 milhões este ano para limpeza de destroços, manutenção das pesquisas e planejamento básico da nova estação.
Militares ficarão para proteger equipamentos
Durante o inverno no continente, quatro militares ganharão hospedagem na base chilena Eduardo Frei e terão a missão de proteger equipamentos, como tratores e guindastes cobertos com lonas, contra a ação do tempo.
– O ambiente antártico é hostil. Nunca peguei em minha carreira, por exemplo, ventos de mais de 160 quilômetros por hora em uma embarcação, com ondas de 10 metros de altura. Se um homem cai na água, o tempo máximo de sobrevivência é de 30 segundos, praticamente um acidente fatal. Portanto não podemos falhar, temos que ser autossuficientes. Faremos a manutenção do Maximiniano para que esteja pronto para outros seis meses de missão – afirma o comandante do navio polar, o capitão-de-mar-e-guerra Newton Pinto Homem.
A bióloga e pesquisadora da Uerj Elaine Alves dos Santos foi uma integrante da equipe científica que usou o Maximiniano como laboratório nesta temporada do Operantar. Em uma sala devidamente equipada, ela coletava, durante o caminho entre o Rio e a Antártica, amostras de ar para medir a quantidade de aerossóis. Essas partículas são importantes como nutrientes da cadeia alimentar no oceano. O estudo de Elaine, chamado Projeto Heitor, teve foco nos aerossóis do Deserto da Patagônia.
– Houve 34 coletas atmosféricas. Só o fato de existir os dados é algo importante. A América do Sul é carente nesse tipo de dado – explicou Elaine, que começará no Rio a análise das amostras.
De volta ao Arsenal de marinha, no Rio, os navios da Operantar passarão por manutenção. Ontem foi dia de os militares reverem os parentes, que puderam ter acesso às embarcações, tirar fotos e conhecer os cômodos apertados e mantidos com asseio, com laboratórios científicos já desmontados.
Fonte: O Globo