Assis Moreira – de Genebra
A companhia francesa de tecnologia da informação Bull espera que a visita da presidente Dilma Rousseff a Paris, hoje e amanhã, faça avançar o projeto de produção industrial de supercomputadores no Brasil. Em entrevista ao Valor, o presidente do grupo, Philippe Vannier, disse que o projeto de cooperação franco-brasileiro “ambiciona posicionar o Brasil no pelotão da potência de cálculo mundial no horizonte de 2015”. Os supercomputadores são considerados instrumentos indispensáveis para fazer avançar a simulação industrial e a pesquisa fundamental.
A tecnologia de computação de alto desempenho é detida por poucos países, como Estados Unidos, França, China e Japão. Segundo Vannier, o governo francês já deu o aval ao acordo para a transferência de tecnologia, “ponto essencial para o Brasil”. O executivo explicou que a Bull precisa da autorização “porque se trata de tecnologia sensível”.
De seu lado, o Brasil deve ainda oficialmente confirmar o lançamento do projeto. Vannier espera que isso ocorra durante a visita da presidente Dilma Rousseff.
Certos setores no Brasil resistem, alegando que o país precisa desenvolver sua própria tecnologia. Do outro lado, defensores do projeto acham que a cooperação com os franceses permitirá ao Brasil dar um salto tecnológico de vários anos. A presidente Dilma Rousseff é quem baterá o martelo sobre o avanço do projeto.
Em carta de intenções ao governo brasileiro, neste ano, a Bull propôs ações de desenvolvimento conjunto de pesquisa e desenvolvimento, produção industrial no território brasileiro e a criação do centro tecnológico de supercomputação no Brasil.
A tecnologia, capaz de efetuar bilhões de cálculos complexos em segundos, ajudará em áreas como geomonitoramento avançado, prospecção e produção petrolífera, desenvolvimento de projetos na indústria médico-farmacêutica, serviços bancários e na área militar.
A Bull teve faturamento de €1,3 bilhão em 2011. O grupo tem 9 mil funcionários e está presente no Brasil há mais de 50 anos.
A parceria estratégica bilateral e os programas bilionários de infraestrutura e de defesa no Brasil fazem com que os principais grupos franceses se instalem no país e procurem ampliar investimentos locais, em associação com parceiros brasileiros.
Os franceses sabem, por outro lado, que precisarão ser cuidadosos sobre o contrato dos 36 aviões para a FAB que a Dassault tem interesse em abocanhar. A presidente Dilma não demonstra muito entusiasmo para tocar no tema, no momento. Ontem, em frente ao hotel onde a presidente e comitiva estão hospedados em Paris, o chanceler Antonio Patriota disse a jornalistas que a eventual compra dos caças “é uma decisão que cabe à presidenta, exclusivamente, em consulta com o ministro da Defesa, Celso Amorim”. Mais cedo, também na entrada do hotel, Amorim havia dito que ” sobre isso, não sei de nada”, referindo-se aos caças.
Certo é que em outras áreas de defesa também há muito interesse francês em novos negócios com o Brasil. Caso da DCNS na defesa naval, da Thales na eletrônica de defesa e espaço, e da Safran em motores e equipamentos de defesa e aeroespaciais.
O grupo EADS examina a possibilidade de negócios por meio de suas filiais Astrium na área espacial, Cassidian em sistemas eletrônicos e aparelhos não tripulados, Eurocopter com a produção de helicópteros, e Airbus Militar com avião de transporte.
Líder mundial na área de mísseis, a MBDA fez parceria neste ano com as brasileiras Avibras e Mectron para produção de nova versão do Exocet naval, já testado no país.
Antecedendo a visita da presidente Dilma Rousseff, o Medef, a federação francesa das indústrias, fez um seminário no qual discutiu a economia brasileira, na semana passada. Um dos debatedores foi o professor Jerome Sgard, do Institute de Science Politique de Paris, que trabalha há muito tempo com economia brasileira.
Sua conclusão, apresentada aos empresários, foi de que a sociedade brasileira está melhor, mais inclusiva, a redução de desigualdade é espetacular. Mas que a economia brasileira segue condenada a um crescimento relativamente baixo. Para o professor, um dos problemas é o “consenso Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] e PT” por protecionismo. Ao seu ver, o Brasil pode fazer dois pontos percentuais a mais de PIB “com um modelo mais liberal”.
Pelos cálculos de Sgard, o Brasil está longe de reduzir o fosso que o separa das nações ricas. Ele lembra que no início da década de 80, a renda per capita brasileira equivalia a 27% da renda dos americanos e hoje caiu para 21%. Já a China tem hoje renda per capita equivalente a 21% daquela dos americanos, quando era apenas 7% nos anos 80. (Colaborou Alda do Amaral Rocha, para o Valor, de Paris).
Em 2015, Brasil referencia em supercomputacao? “No pelotao da potencia de supercomputacao”? So rindo mesmo…E so comparar quantos centros de pesquisa trabalham com isso no Brasil, e quantos supercomputadores existem no pais, que teras uma ideia de quanta gente tem conhecimento para poder utilizar as maquinas, e vera que isso e irreal! Um lugar deveria pesquisar coisas do tipo e o Centro Renato Archer em Campinar, SP. Ha quantos anos existe e quantos supercomputadores sairam de la? A COPPE no Rio, tem gente qualificada na parte de software pelo menos, mas o que existe de concreto que nao foi comprado ou do Japao(NEC, Fujistu) ou EUA(SGI, CRAY)??? Pior, quantos clusters tem no CTA? O que os caras usam tem apenas 100 e poucos nodes de processamento, isso pq deveriam ser os caras que mais utilizam, tirando o CPTEC INPE em Cachoeira Paulista, SP, para predicoes meteorologicas, e que possuia a maquina mais poderosa do pais, que nem de longe se compara com os centros de computacao nos EUA, ou mesmo na China, que comecou bem depois. Pois e, sonhar nao custa nada, mas para isso se tornar verdade em 3 anos, so em sonho mesmo, pois para formar gente para produzir resultados nessa area demora no minimo 11 anos, 5 anos de graducao, 2 de mestrado e mais 4 no minimo de doutorado. Alguns vao dizer, mas e quem ja trabalha com isso no Brasil???? Tem pouquissimos, e nao existe massa critica para dar esse salto quantico em 3 anos. So rindo meso…..
Nessa matéria eu posso ajudar! A matéria não fala disso, mas tenho certeza que muitas pessoas não fazem ideia do que seria essa transferência de tecnologia.
Não conheço de “supercomputação” (só tenho um conhecimento acadêmico superficial), mas posso esclarecer que a tecnologia sensível não é o hardware.
O hardware é caro sim (dezenas de milhões), muitas vezes difícil de obter a autorização de compra, mas é a parte mais fácil de se obter.
A tecnologia sensível é software. O conjunto de o sistema operacional, o controle distribuído de processamento e o mais importante: a metodologia de divisão e construção de um software com as características corretas de processamento distribuído que possa utilizar todo o poder de processamento do hardware.
É aí que o bicho pega. E não concordo que temos que quebrar a cabeça para aprender isso sozinho. Esse conhecimento é totalmente possível de ser transferido, com um custo e um prazo muito menor que o desenvolvimento próprio.
Principalmente porquê mão de obra qualificada para absorver este conhecimento é farto no Brasil, tanto nas universidades e centros de pesquisa, quanto na indústria. Isto também porque a utilização de supercomputadores é muito grande na indústria, como o texto informa. E acrescento algumas áreas de utilização: mecânica dos fluidos (indústrias automotivas, aeronáuticas, energia, plástico etc), meteorologia, detecção de fraudes, criptografia entre muitos outros.
Assim eu apoio totalmente um acordo com empresas estrangeiras que criem centros de pesquisa ou se associem a universidades no Brasil sobre “supercomputação”.