Por Fernando Taquari, Robson Sales, Rafael Rosas e Rodrigo Carro
A escolha do general do Exército Sérgio Etchegoyen para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que volta a ter status ministerial, representa a continuidade de uma dinastia familiar que desde a década de 30 ocupa postos chave nas Forças Armadas.
Neto, filho e sobrinho de generais, Sérgio Etchegoyen chefiava há um ano e dois meses o Estado Maior do Exército, até ser convidado, na semana passada, pelo presidente interino Michel Temer para assumir a pasta.
A despeito da influência da família, o novo ministro do GSI chegou ao primeiro escalão do governo pelas mãos do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, com quem trabalhou como assessor especial e chefe do Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa no governo Luiz Inácio Lula da Silva, e do Comandante do Exército, General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, seu amigo de infância e que tem sido nos últimos tempos um interlocutor de Temer junto às Forças Armadas.
Na nova função, Etchegoyen ficará responsável por reestruturar o setor de inteligência do GSI, após as críticas de militares de que Dilma promoveu uma desordem na área. A necessidade de aprimorar o sistema de inteligência, no momento em que o país se prepara para sediar a Olimpíada, foi uma das razões alegadas por Temer aos interlocutores para justificar a decisão de voltar o status ministerial para a pasta.
Conhecido por colegas de farda por ser um militar que nunca se esquivou de deixar claro suas posições, o novo ministro é visto por colegas como um ”oficial exemplar” e “meio de direita”. “Trata-se de uma pessoa de caráter ilibado e que tem conhecimento profundo das áreas militar e política”, disse um contemporâneo da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde Etchegoyen se formou em 1974 na Arma de Cavalaria.
Colegas acreditam que o trabalho de Etchegoyen no GSI deverá ser pautado em “fazer cumprir o que é legal”.
Etchegoyen é elogiado no meio militar pela sua atuação na chefia do Estado-Maior do Exército. Entre as atribuições da função está receber os recém promovidos a General e discursar na cerimônia de entrega da espada aos militares que chegam à mais alta patente do Exército. Esses discursos são considerados “muito bons” por militares, que dizem que as palavras de Etchegoyen tem “caracterizado a importância de fazer as coisas de maneira correta”.
Em discurso escrito para cerimônia de entrega de espadas a Generais em dezembro, por exemplo, Etchegoyen cita que a espada dos Generais “tem estado vigilante, sempre ao lado do nosso povo, na defesa da democracia e das instituições”, dando proteção contra “aventuras, aventureiros ou radicalizações descabidas que tentem conduzir-nos a rupturas sociais pela manipulação que transforma divergências em ódio”.
Antes de trabalhar com Jobim, Etchegoyen foi oficial do Estado-Maior da Missão de Verificação das Nações Unidas em El Salvador, entre 1991 e 1992, e chefe da Comissão do Exército Brasileiro em Washington, de 2001 a 2003.
Como oficial-superior foi Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas (EASA), de 1993 a 1996, assistente-secretário do Ministro do Exército e do Comandante do Exército (1997 a 2000) e chefe da Primeira Assessoria do Gabinete do Comandante do Exército (2003 e 2004).
Nascido em 1952, em Cruz Alta (RS), Etchegoyen ao longo de sua carreira protagonizou algumas polêmicas ao defender o legado da família. Em 2014, divulgou uma nota dura contra o relatório da Comissão Nacional da Verdade.
Etchegoyen protestou contra a inclusão de seu pai, o General Léo Guedes Etchegoyen, na lista de 377 agentes do Estado que praticaram crimes na ditadura.
No texto, o novo ministro frisou que o pai “representa a segunda geração de uma família de generais que serve o Brasil, com retidão e patriotismo, há 96 anos”. Disse ainda que a comissão promoveu investigações “levianas” que tinham o objetivo de “puramente denegrir”. O temperamento explosivo, segundo interlocutores, surge justamente quando a memória de Léo é atacada.
Em outro episódio em defesa do pai, em 1983, ficou 15 dias preso por um desentendimento com o então Comandante Militar do Planalto, Newton Cruz, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI). Etchegoyen interrompeu uma palestra de Cruz a 200 oficiais para rebater críticas indiretas a Léo, que aos 58 anos na época, era adido militar na Suíça e teria consentido com possibilidade de uma investigação em contas bancárias sigilosas de brasileiros em bancos no país europeu. Ao ser contestado duas vezes depois de recriminar militares que compareceram à uma CPI, Cruz deu voz de prisão de oito dias ao então Capitão Sérgio Etchegoyen. A detenção foi ampliada para mais sete dias depois que ele recorreu da punição.
A saga da família Etchegoyen remonta a década de 1920, quando os irmãos Alcides e Nelson, respectivamente avô e tio avô de Sérgio, participaram dos movimentos tenentistas e da revolução de 1930. Alcides, inclusive, comandou uma das três colunas que, na ocasião, marcharam em direção ao Rio. Em 1942, substituiu Filinto Müller na chefia da polícia de Getúlio Vargas, com quem rompeu anos depois. Foi transferido para a reserva, pelo Ministro da Guerra de Juscelino Kubitschek, Henrique Lott, após de envolver-se na articulação para impedir a posse do presidente.
Os filhos de Alcides, Léo e Cyro, assumiram o legado dos Etchegoyen nos anos seguintes com participação significativa durante a ditadura militar (1964-1985). Léo foi um dos principais assessores do ex-presidente Médici, enquanto Cyro, Coronel reformado do Exército, integrou o Centro de Informações do Exército (CIEx), sendo apontado pelo relatório da CNV, com base no depoimento do coronel Paulo Malhães, como comandante da “Casa da Morte”, como ficou conhecido o centro de tortura clandestino instalado durante o regime em Petrópolis (RJ).
FONTE: Valor Econômico