Por Roberto Godoy
Indústria aeroespacial. Cinco anos depois de sair da recuperação judicial, a fabricante de mísseis Avibrás volta a superar a marca de R$ 1 bilhão em faturamento, com boa parte dos pedidos vinda do mercado internacional, e espera aumentar as vendas em 2016.
A Avibrás, indústria aeroespacial de São José dos Campos, surpreendeu o mercado, há duas semanas, com o anúncio dos resultados financeiros de 2015. No ano passado, a receita bruta da empresa chegou a R$ 1,1 bilhão, valor que é cerca de oito vezes maior que o gerado em 2012 e muito distante dos limites da crise iniciada há pouco mais de sete anos e da qual o grupo, dedicado a produção de sistemas de defesa, só começou a sair consistentemente em 2014, quando a receita atingiu R$ 629,9 milhões.
“Em 2016, vamos continuar atuando fortemente nas transações externas”, diz o superintendente João Brasil de Carvalho Leite. A meta, segundo ele, é superar o patamar de R$ 1,3 bilhão em faturamento. “Nada mau depois de um longo ciclo negativo”, diz o presidente Sami Hassuani. A empresa ficou em recuperação judicial entre 2008 e 2010, demitiu centenas de funcionários, foi obrigada a vender boa parte dos ativos imobiliários e chegou muito perto da insolvência. Os credores foram pagos sem deságio e receberam correção monetária. Neste ano, a Avibrás planeja contratar mais 300 pessoas para reforçar o quadro de 1.695 funcionários.
Quase toda a receita da empresa vem de operações no mercado externo. Em 2015 a participação das Forças Armadas brasileiras no volume total do faturamento ficou em R$ 100 milhões. Em 2016, por causa da crise econômica e das restrições orçamentárias, não deve passar de R$ 80 milhões. Todavia, a principal aposta e programa prioritário da Avibrás é do Exército, com uma variante específica para o Corpo de Fuzileiros Navais.
Trata-se da geração 2020 do sistema Astros, a sexta desde o início da série, há 30 anos. Muito moderna, contempla pela primeira vez no País, o emprego de um míssil de cruzeiro, o AV-TM com alcance de 300 km e aumenta a capacidade dos foguetes AV-SS-40, com raio de ação na faixa de 40 km, por meio de sensores de guiagem primária. Mais que isso, o conjunto Astros 2020 vai incorporar uma nova munição, capaz de atingir alvos a 150 km, também dirigida eletronicamente (leia mais ao lado).
Há boas possibilidades para o produto no mercado internacional. “Nossa forte atuação no exterior gerou uma carteira de pedidos da ordem de R$ 4 bilhões e perspectivas reais de crescimento da ordem de mais R$ 8 bilhões nos próximos anos”, diz Hassuani.
Crise. Até agora, entretanto, a jornada da Avibrás vinha sendo pedregosa. Em janeiro de 2008, o engenheiro e fundador da empresa, João Verdi, tratava de desenhar os planos de engenharia que fariam do lançador de foguetes Astros II (o principal produto da empresa) um elemento de defesa do estreito de Málaca, por onde transitam 70% do petróleo do mundo. Verdi tinha pressa. O cliente interessado, o exército da Malásia, queria contar com o recurso como elemento dissuasivo frente a uma eventual aventura militar vinda da vizinhança nervosa.
O negócio superava os R$ 500 milhões, um dinheiro fundamental no ambiente pesado que se abatia sobre o mercado financeiro internacional e atingia, no Brasil, setores estratégicos como a indústria de equipamentos militares.
Era um bom projeto. Faltou combinar com o destino.
No dia 28, João Verdi e a mulher, Sonia Brasil, decolaram do condomínio onde haviam passado o fim de semana, em Angra dos Reis, para voltar para casa, em São José dos Campos. Iam a bordo de um de seus dois helicópteros, o mesmo que usavam rotineiramente para ir da residência ao escritório ou para viagens, várias delas internacionais.
Pequena distância, rota conhecida. Verdi, um hábil piloto, estava no comando. O voo curto nunca foi completado. A aeronave caiu em meio à mata densa da serra, a altura da praia de Maranduba, no litoral norte de São Paulo. João e Sonia morreram. Os restos da aeronave só foram localizados um ano e meio depois, em julho de 2009.
“O céu desabou sobre a Avibrás naquele momento”, lembra o presidente, Hassuani. A indústria aeroespacial, fortemente identificada com a imagem de seu criador e depositária de significativo patrimônio tecnológico, teve negócios interrompidos e entrou em uma longa fase de dúvidas e incertezas da qual só se livrou no fim do ano passado.
Verdi era uma figura e tanto. Nos anos 1980, dividia com José Luis Whitaker Ribeiro, presidente da extinta Engesa, fabricante de blindados, e com Ozires Silva, fundador da Embraer, o panteão dos empresários brasileiros que abriram praças comerciais para o portfólio nacional de material militar e aeroespacial. Clientela difícil, como eram o Iraque, a Líbia e a Arábia Saudita.
João Verdi era recebido por Saddam Hussein para jantar em Bagdá e despachava 24 horas depois com o rei saudita Fahd Bin Abdul Aziz al-Saud em Riad. Participava pessoalmente da entrega e dos testes dos lançadores Astros.
Para horror do Ministério das Relações Exteriores, ia parar na frente de batalha para verificar o desempenho dos seus “meninos”, os foguetes que saíam das linhas instaladas no km 14 da rodovia dos Tamoios, na represa de Santa Branca.
A Avibrás nunca conseguiu superar a cifra de US$ 1 bilhão em vendas internacionais registrada há 30 anos, sob o comando de Verdi.
Novo míssil exige R$ 1,2 bi de investimento
Programa prioritário da Avibrás, a geração 2020 do sistema Astros deve consumir R$ 1,2 bilhão em investimentos. Segundo Sami Hassuani, presidente da empresa, o primeiro lote, será entregue em 2017. Arábia Saudita, Catar, Malásia e Indonésia estão entre os usuários do sistema. Fontes do governo admitem a existência de discussões avançadas envolvendo o fornecimento da configuração 2020 para Angola, Colômbia e Peru. A Avibrás não confirma.
Parte do programa, o míssil de cruzeiro AV-TM faz navegação inteligente. Leva, na ogiva, a carga explosiva de 200 kg. Cada míssil custará cerca de US$ 1,2 milhão. As encomendas iniciais devem envolver um lote de 100 unidades. A atual versão do AV-TM é resultado de 13 anos de aperfeiçoamento. O desenho é compacto, com asas retráteis. O míssil, subsônico, mede 5,5 m e usa materiais compostos. O motor de aceleração inicial utiliza combustível sólido e só é ativado no lançamento – em seguida, entra em ação a motorização a combustível líquido. A turbina é construída pela
Avibrás.
Uma bateria do sistema Astros é composta por seis carretas lançadoras, com suporte de apoio de seis remuniciadoras, um blindado de comando, um carro-radar de tiro, um veículo estação meteorológica e um de manutenção. O míssil AV-TM é disparado por contêineres duplos. O foguete SS-30 atua em salvas de 32 foguetes e o SS-40, de 16; os SS-60 e SS-80 de três em três. O grupo se desloca a 100 km/hora em estrada preparada. Cumprida a missão, deixa o local deslocando-se para outro ponto da ação, antes que possa ser detectado.
FONTE: Estado de São Paulo
Boa notícia! Pensei que o desmonte do galpão na via Dutra em São José dos Campos era um enterro simbólico da empresa, mesmo estando desativado há anos. Era triste ver as carcaças de veículos apodrecendo no pátio e o contorno da placa na fachada se apagando aos poucos.
Não vejo a hora de acontecer novos lançamentos do AV-MT 300 na sua nova configuração de asas retrateis.
Uma grande lição para a EMBRAER, que fica de mimimi no avião KC 390, mesmo já tendo recebido um montante considerável do governo, mesmo tendo sido beneficiada com o gripen NG e mesmo com grandes chances de vender o KC 390 no mercado externo, como no caso do Canada onde a LM saiu do páreo deixando a pista pavimentada para a Embraer.
Nós muitas vezes falamos do capitalismo como o melhor sistema para viver, é preciso no entanto, avisar para a EMBRAER que ela deixou de ser estatal há algumas décadas, tem que deixar de viver chorando nas tetas do governo e mostrar sua capacidade na área militar.
Parabéns a Avibras que mais uma vez renasce das cinzas por seus próprios méritos e com apenas uma pequena ajuda do governo.
Caro Alexandre é de se entender o seu descontentamento porém é preciso parar para analisar ambos os casos e tratar eles de forma distinta.
A Avibrás esta em um bom momento por uma série de fatores, começando pelas encomendas do Astros 2020 pelo EB/MB e pela indonésia, a recuperação judicial veio através de aporte de dinheiro público também e ai um planejamento bem executado auxiliado pelo mercado respondendo positivamente aos produtos.
Quanto a Embraer não é questão de chorar ou mamar nas tetas do governo,mas sim o fato da falta dos repasses estipulados em contrato para a continuidade do programa de desenvolvimento do KC-390. A parcela que você mencionou é parte do montante acordado e não paga todos os custos, como sabemos o desenvolvimento de uma aeronave independente de qual seja é caro e demorado e como é uma parceria a fabricante de SJC fica nas mãos do governo federal.
Gostaria muito que a Embraer tocasse sozinha o programa KC-390 mas infelizmente não vai rolar mas ao menos ele esta caminhando aos poucos, o grande problema é que quanto mais demorado estaremos perdendo mais contratos com potenciais clientes e isso me preocupa.
Que os bons ventos continuem soprando na Avibrás e mais projetos apareçam e tenham sucesso.
Apesar da crise, sempre tem uma notícia boa pra aparecer!