Por Paulo Zottolo*
A tragédia ambiental das manchas de óleo no litoral do Nordeste revelou um agente público pouco conhecido: os homens e as mulheres da Marinha do Brasil. Mais de 2.700 militares de 54 organizações em 16 navios trabalham na limpeza do mar e das praias, com o apoio de voluntários.
A Marinha já disponibilizou helicópteros da sua frota, 63 viaturas dos grupamentos de fuzileiros navais, 21 equipes de inspeção naval e cinco centros de comando de operações. Foram realizadas 1.200 inspeções navais. Não é pouco, sobretudo se considerarmos os escassos recursos navais do país. Eles superam a falta de recursos com uma dedicação exemplar.
Isso não acontece apenas agora neste episódio do vazamento de óleo, mas o trabalho diário e desconhecido destes homens do mar deveria ser um exemplo para a população. É preciso que esses heróis sejam conhecidos. Os homens e mulheres da Marinha agem com um patriotismo silencioso que passa ao largo da autopromoção.
As famílias desses militares são sacrificadas, pois deles se exigem dedicação exclusiva e disponibilidade permanente. O impacto se estende a seus familiares. Cônjuges e filhos estão constantemente submetidos a mudanças de cidade e de estado, dificultando a manutenção de empregos e prejudicando o aprendizado escolar.
Nada disso diminui a dedicação à missão que cumprem. Sem fazer alarde, a Marinha dá assistência a 280 mil pessoas que vivem em regiões ribeirinhas remotas. Na maioria das vezes, é responsável pelo único elo desses povos com o restante da população.
Esse trabalho é feito por uma flotilha de cinco “navios da esperança”, como são chamadas as embarcações que chegam aos mais longínquos rincões. Em 2018, fizeram 19 mil atendimentos médicos, 8,5 mil atendimentos odontológicos, 17 mil exames e 6,8 mil cirurgias. Distribuíram 750 mil medicamentos.
Além do trabalho social, a Marinha cuida da segurança no mar. Foram registradas 194 mil inspeções em embarcações em 2018, com três mil embarcações irregulares sendo apreendidas por irregularidades ou por atividades ilícitas. Foram realizadas, também no ano passado, 188 operações de busca e salvamento, envolvendo 494 vítimas, das quais 358 foram resgatadas com vida. A Marinha zela pela segurança das atividades de nossos pescadores, pelos barcos e navios de transporte de pessoas e pelos iates e veleiros de passeio, que desfrutam da certeza de dispor de um serviço confiável de socorro e salvamento.
Também participa ativamente do desenvolvimento tecnológico, com pesquisas importantes em áreas que poucos países dominam. Trabalha em programas voltados para a área nuclear, meteorológica, oceanográfica e biológica. Existe ainda o Programa Antártico Brasileiro e a Estação Antártica Brasileira, a ser inaugurada em breve.
E a defesa da nossa costa e da soberania nacional? Há quem não dê o devido valor a esses aspectos, uma vez que não estamos em guerra. Mas os olhos do mundo estão muito voltados para a Amazônia, e não apenas para a floresta. Há uma outra Amazônia, da qual pouco se fala. É a Amazônia Azul; a área de mar contíguo à nossa costa. São 5,7 milhões de quilômetros quadrados, com riquezas minerais e biológicas enormes e muitas delas ainda a serem exploradas. A vastidão da terra e do mar e os recursos naturais chamam a atenção do mundo.
Tudo isso precisa ser protegido!
O trabalho é hercúleo e está em boas mãos. É um trabalho bem feito, e como como se diz na Marinha para classificar um bom trabalho: Bravo Zulu!
FONTE: O Globo
FOTOS: Ilustrativas
*Paulo Zottolo é consultor e foi Oficial da Marinha, Presidente da Philips para América Latina e CEO da Nívea no Brasil e nos EUA.