A escolha soberana, pelo Brasil, do caça sueco Gripen, no contexto do processo FX2, -poderá ter feito com que muita gente não perceba os benefícios, para o Brasil, das nossas parcerias com a França, tão evidentes durante a visita de Estado do presidente François Hollande, que esteve em Brasília e em São Paulo nos dias 12 e 13 de dezembro.
Desde 2006, quando a Parceria Estratégica Brasil-França foi lançada, acumulamos realizações. No ano de 2013, inauguramos o Estaleiro Naval de Itaguaí, onde o Brasil está construindo, em parceria entre a Marinha, a Odebrecht e a empresa francesa DCNS, quatro submarinos convencionais e um a propulsão nuclear. Trata-se do maior projeto de capacitação industrial e tecnológica da história da indústria de defesa brasileira.
“O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Pro-Sub) garante a transferência de tecnologia e a nacionalização de processos produtivos, o que coincide com a essência da nossa estratégia nacional de defesa”, conforme frisou a presidenta Dilma Rousseff em sua entrevista coletiva com o presidente Hollande.
O ano também foi marcado pelo bem-sucedido voo de dois meses antes do prazo previsto, do primeiro helicóptero Super-Cougar (EC725) totalmente produzido na fábrica da Helibras, em Itajubá, no âmbito do programa H-XBR. Em tomo da Helibras, com transferência de tecnologia da Airbus-Eurocopter, consolida-se o segundo polo aeronáutico do Brasil, além do de São José dos Campos.
No encontro mais recente entre os dois presidentes, foram lançados novos programas conjuntos. Entre os dez atos assinados no Palácio do Planalto, destacam-se os acordos nos campos de supercomputação, espaço, energia nuclear, indústria naval e formação de pessoal.
O programa que gera perspectivas mais positivas para a capacitação tecnológica brasileira talvez seja o de área de computação de alto desempenho. Prevê-se parceria entre o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), a Coppe e a empresa francesa Buli para a montagem e operação de um supercomputador e de dois centros de pesquisa, transferindo para o Brasil tecnologia hoje restrita a um punhado de países. Universidades, empresas nacionais e centros de pesquisa terão acesso ireto a essa capacidade, logrando rodar programas e simulações antes inacessíveis.
A empresa brasileira Visiona, empreendimento conjunto da Embraer e da Telebras, assinou contrato com a empresa francesa Thales, para o fornecimento do primeiro satélite geoestacionário de defesa e comunicação (SGDC) do Brasil, de uso civil e militar. Com isso, o Brasil garante a segurança das suas comunicações estratégicas, antes terceirizadas para satélites operados por grupo estrangeiro. É apenas o primeiro passo para a instalação no Brasil, em parceria com a França, da capacidade de construir satélites de telecomunicações os mais sofisticados, e para novos projetos na indústria espacial.
A Eletrobrás também celebrou com a empresa francesa Areva, sucessora da alemã Siemens no domínio da energia nuclear, contrato para o término da Usina de Angra III, de 1,25 megawatts.
A Odebrecht e a DCNS assinaram memorando para instalar no Brasil uma empresa estratégica de defesa, com controle brasileiro, para construir e reparar navios de superfície, aprofundando a parceria naval iniciada com o ProSub.
O aprofundamento da cooperação do Ministério da Educação com seus contrapartes franceses, no âmbito dos programas Ciência sem Fronteiras, Licenciatura sem Frontei-ras e Francês sem Fronteiras, garante que a França continuará a ser o principal parceiro do Brasil na formação de engenheiros, cientistas, matemáticos e, mais recentemente, professores do ensino médio e profissional.
Já há mais de 500 empresas francesas estabelecidas no Brasil, inclusive as construtoras de automóveis PSA e Renault (que está inaugurando nova fábrica em Resende); a Total e a Technip, parceiras da Petrobrás no desenvolvimento das reservas do pré-sal; e o gigante da distribuição Casino, que depois da aquisição do Grupo Pão de Açúcar se tornou o maior empregador do Brasil. Para que novas empresas brasileiras, sobretudo pequenas e médias, tenham a oportunidade de negociar novas parcerias com suas contrapartes francesas, lançamos o Fórum Econômico Brasil-França.
A conjugação do dinamismo do Brasil com a tecnologia da França beneficia os dois países e acelera o desenvolvimento brasileiro. O objetivo brasileiro não é meramente comprar, mas aperfeiçoar a capacidade de construir e inovar. O objetivo francês não é meramente vender, mas celebrar parcerias que aumentem a escala de sua indústria e permitam que ela sè mantenha na vanguarda mundial. No século 21, o Brasil está superando o atraso acumulado das nossas indústrias e instituições de pesquisa, dando
verdadeiros saltos tecnológicos. Entre os países que estão na vanguarda científica, é com a França que mantemos a parceria mais diversificada e mais profunda.
É normal que a França, justamente orgulhosa do seu “savoir-faire”, fique decepcionada com o resultado do FX2, que optou não pelo avião mais sofisticado, mas pelo mais adequado de acordo com os parâmetros decididos pelo governo brasileiro. Para que tenhamos uma ideia de como os franceses se sentem, podemos lembrar como nós, brasileiros, nos sentimos na final da Copa de 1998. Assim como o Brasil não ganha todas as Copas, a França não ganha todas as concorrências internacionais.
Mas outras competições virão, e a amizade tradicional e a complementaridade natural entre Brasil e França trarão novas conquistas para os dois países.
Fonte: O Estado de São Paulo – José Maurício Bustani
A crédito que à longo prazo a França terà uma proposta conjunta com o Brasil para desenvolver tàlvez um caças de 5 geração em paceria para diminuir os gastos?,tàlvez?, jà que o Brasil têm varios negocios com à mesma , quêm sabe ?
Com certeza no contexto de Governo a Governo, Brasil e França possuem muitos mais motivos para comemorar do que divergirem, a Dassault pode pensar o que pensar, o erro foi dela de insistir em propor custos muito acima dos seus concorrentes. Outro erro de estratégia foi não ter dado sequência no projeto Mirage 2000, poderiam ter dado continuidade ao projeto, atualizando-o à nova arena de combate, ofertando dois produtos a mais clientes e não tentando impor seu único produto (Rafale), se deram mal. Os tempos são outros e a pluralidade de ofertantes (sim, com o fim da Guerra Fria o mercado ficou mais competitivo, apesar da diminuição de fabricantes) com novos produtos no mercado como China, Paquistão e Coreia do Sul, além da melhoria dos produtos russos, acirrou ainda mais essas disputas. Como o aumento do peso econômico de alguns emergentes como o Brasil, o jogo ficou mais apertado e o mercado mais exigente, assim não a possibilidade de se acharem a “bala de prata”, a “salvação da lavoura”, o “dá ou desce”, não cabe mais e ao que parece a Dassault ainda não se tocou disso.
Até mais!!! 😉
Ótimo artigo.
Concordo plenamente com o texto.
Que assim seja!