Militares brasileiros que participam dos esforços de resgate do ARA San Juan dizem estar esperançosos de conseguir encontrar o submarino argentino
Por Roberta Jansen
Militares brasileiros que participam dos esforços de resgate do ARA San Juan dizem estar esperançosos de conseguir encontrar o submarino argentino desaparecido desde o último dia 15, com 44 pessoas a bordo. Segundo os especialistas brasileiros, dependendo das medidas emergenciais adotadas pela tripulação, a autonomia de oxigênio nesta categoria de embarcação pode chegar a até duas semanas, e não apenas sete dias, como chegou a ser divulgado.
“Sabemos que ele deixou de realizar contato no último dia 15, mas não sabemos quando foi feito o último snorkel da embarcação, ou seja, quando ele subiu pela última vez para a renovação do oxigênio”, explicou o capitão Leonardo Braga Martins, comandante do submarino brasileiro Timbira, da mesma categoria da embarcação argentina, isto é, convencional de ataque.
Diferentemente de aeronaves e navios, os submarinos não são monitorados todo o tempo por radares. Sua principal característica, aliás, é precisamente esta: ficar invisível. Em intervalos de tempo pré-estabelecidos, no entanto, o submarino entra em contato com a Marinha de seu país, dando sua localização prevista e a real e informando seus próximos passos. Num dos últimos contatos feitos no dia 15, o submarino relatou incidentes com as baterias, mas a Marinha argentina não forneceu mais detalhes sobre o suposto problema.
Em tese, a autonomia de oxigênio do submarino (sem subir para renovar o ar) é de sete dias e teria se encerrado ontem. Mas, como frisam os especialistas, não há nada que comprove que não foi feita nenhuma outra renovação de ar depois do contato. “Há medidas a serem tomadas que podem aumentar essa autonomia para dez ou até para quinze dias”, afirmou Martins. “Por exemplo, a tripulação pode reduzir a fala, os esforços físicos, ficar deitada na cama: essa é uma medida de economia de oxigênio”. Para o capitão, há uma ampla gama de possibilidades. “Não é uma contagem regressiva. Existe um amplo histórico de acidentes em que tripulações foram salvas em situações em que não havia mais esperanças.”
Além disso, dizem os especialistas, o silêncio do submarino pode ser decorrente apenas de um problema no sistema de comunicação de longa distância, não necessariamente causado por algum problema mais grave. Martins explicou que os submarinos têm um telefone de emergência, com baterias próprias, mas que tem um alcance mais curto, de apenas 30 quilômetros.
“Um submarino não é uma estrutura frágil; ele tem o casco reforçado, usa vários componentes da indústria aeroespacial, tem uma tripulação muito bem treinada”, enumerou Martins. “Ele tem recursos para sobreviver a vários problemas.”
Um recurso comum em submarinos desta categoria é o sistema de respiração de ar de elevada pureza. Ele pode ser acionado em caso de incêndio a bordo, por exemplo. A tripulação usa uma máscara especial que os conecta a dutos de ar puro presentes ao longo de toda a embarcação, garantindo a respiração. Um outro recurso, segundo explicou Martins, é o abandono da embarcação, se ela estiver numa profundidade de até 150 metros. Na área de busca do submarino argentino, a profundidade varia de 150 metros a 3 mil metros.
“O submarinista conta com roupa específica, devidamente pressurizada, para abandonar o submarino, se for o caso”, disse, mostrando o equipamento. “Mas vale frisar que o lugar mais seguro é dentro da embarcação, a espera do resgate.”
Dois navios brasileiros já estão na área das buscas, juntamente com equipamentos de outros 11 países: o Navio Polar Almirante Maximiano e a Fragata Rademaker. A fragata é equipada com sonares, capazes de detectar ruídos a até dez quilômetros de distância.
Aviões que estão apoiando as operações de busca também são capazes de lançar hidrofones, capazes de captar qualquer ruído.
Nesta hipótese, se o submarino estiver afundado no solo sem condições de chegar à superfície da água por conta de alguma pane elétrica, hidráulica ou mecânica, sua presença pode ser detectada pelos sonares e hidrofones.
“Neste momento, eles são orientados a gerar a maior quantidade de ruído possível”, explicou o capitão de mar e guerra José Américo Alexandre Dias. “Qualquer ruído é detectável pelo sonar dos navios de busca, da superfície. Um sonar ativo pode também ser ouvido pelo submarino, ele emite um som que informa que existe um navio em busca.”
Se for constatado que o navio está mesmo afundado, uma cápsula pressurizada pode ser enviada a seu encontro. Há formas de prolongar o oxigênio a bordo para as operações de resgate. Neste caso, entrará em cena o navio de socorro submarino Felinto Perry, que conta com um médico, dois enfermeiros e 34 socorristas. O navio tem capacidade até mesmo de realizar pequenas cirurgias a bordo. “A esperança permanece enquanto tivermos homens no mar”, afirmou Martins.
FONTE: Estadão