DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO
Assunto: Dia do Hidrógrafo
ORDEM DO DIA No 6/2020
Niterói, RJ, 28 de setembro de 2020.
Por ocasião do descobrimento do Brasil, os navegadores portugueses, formados na histórica Escola de Sagres, tinham a consciência sobre a importância da segurança da navegação e das atividades hidrográficas. O primeiro contato externo com o solo brasileiro provavelmente foi a de um Prumo de Mão, conforme observado no trecho da famosa carta de Pero Vaz de Caminha, que diz assim: “Neste mesmo dia, à hora de véspera, houvemos vista de terra!… Mandou lançar o Prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças — ancoragem limpa”.
As efemérides dos primeiros Hidrógrafos brasileiros, que além de invejável preparo técnico, possuíam notável formação militar, foram contadas em meio aos campos de batalha, em ações de combate e de defesa da pátria, algumas delas conciliadas à inerente tarefa, com o propósito silencioso, contínuo e anônimo, de prover informações sobre o meio ambiente de operação. Exemplo disto está no Capitão de Fragata MANOEL ANTONIO VITAL DE OLIVEIRA, Patrono da Hidrografia Brasileira, nascido em Pernambuco, em 28 de setembro de 1829, tendo ingressado na Academia de Marinha aos treze anos, onde se destacou pela sua inteligência. Na paz, um marinheiro de estudos, a serviço da ciência; na guerra foi o homem para a pronta ação.
VITAL DE OLIVEIRA realizou diversos levantamentos hidrográficos ao longo da costa brasileira, de forma meticulosa e incansável, e escreveu o que é considerada a nossa primeira obra hidrográfica, o “Roteiro da Costa do Brasil do Rio Mossoró ao Rio São Francisco do Norte”. A qualidade e o pioneirismo de seu trabalho lhe renderam uma nova missão, mais ampla e ambiciosa: realizar o levantamento da carta geral da costa do Império, que, apesar de ter seus primeiros preparativos iniciados, foi interrompido em virtude da deflagração da Guerra do Paraguai. Em 1866, no Comando do Monitor Encouraçado “Silvado”, quando participava de um bombardeio ao Forte de Curupaity, VITAL DE OLIVEIRA cai mortalmente ferido pela artilharia inimiga, com apenas 37 anos de idade.
Sua morte gloriosa, mas prematura, impediu que a hidrografia brasileira o continuasse tendo como um grande impulsionador. Não obstante, sua magnífica e meticulosa obra inspirou a criação, em 1876, da Repartição Hidrográfica, tendo a frente seu companheiro de lides hidrográficas, o Almirante ANTONIO LUIZ VON HOONHOLTZ, o Barão de Teffé, que havia demonstrado seu valor na decisiva Batalha Naval de Riachuelo, enquanto comandante da Canhoneira “Araguary”, e que nos preparativos que antecederam a passagem de Passo da Pátria, realizou a sondagem do desconhecido Rio Paraná debaixo do fogo da artilharia inimiga, com o propósito de escolher o melhor ponto para a invasão do território paraguaio, confirmando a vocação de apoiar o Poder Naval.
A institucionalização da hidrografia ocorreu a partir do segundo terço do século XX, destacando-se a criação do primeiro curso de hidrografia, a aquisição do lendário Navio Hidrográfico “Rio Branco”, a aprovação do primeiro Plano Cartográfico Náutico Brasileiro, culminando com a publicação da primeira carta náutica totalmente nacional.
Pouco a pouco, a hidrografia foi ganhando um caráter multidisciplinar. Na década de 1950, é criado o departamento de geofísica, reunindo os estudos de oceanografia, meteorologia, magnetometria e gravimetria. Na década de noventa, a meteorologia incorpora a utilização de modelagens computacionais e passa a dispor de um Núcleo de Previsão Numérica do Tempo, com servidores de alto rendimento. Na cartografia, é iniciada a produção de cartas náuticas eletrônicas. A navegação passa a incorporar elementos digitais, associados ao conceito de navegação aprimorada, o e-Navigation. Os auxílios à navegação evoluem, adquirindo maior confiabilidade, resiliência e integridade das informações.
Assim, ampliam-se os ramos de conhecimento que, associados aos avanços tecnológicos, proporcionam oportunidades e novos desafios aos nossos Hidrógrafos. E para enfrentá-los, há apenas um caminho – A CAPACITAÇÃO. Imbuído desse propósito, foi ativado, em janeiro de 2020, o Centro de Instrução e Adestramento Almirante Radler de Aquino, que visa à contínua melhoria na formação e adestramento dos nossos Oficiais e Praças. Da mesma forma, ações vêm sendo adotadas para o aperfeiçoamento da GESTÃO DO CONHECIMENTO, tema considerado fundamental para a Hidrografia Brasileira, especialmente a partir do século passado. A criação do Arquivo Técnico foi o primeiro passo. A implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade ISO 9001 documentou processos e garantiu sua execução padronizada e sistemática. Oficiais se qualificaram em variados mestrados e doutorados, em instituições renomadas, no Brasil e no exterior, proporcionando melhores condições para acompanhar a evolução das ciências de interesse, ampliando a qualidade nas informações e serviços prestados aos navegantes, e oferecendo maior capacidade de argumentação aos Hidrógrafos, para defenderem os interesses brasileiros nos fóruns e Organismos Internacionais.
Adicionalmente, buscamos aperfeiçoar as atividades de logística, a fim de prover maiores CAPACIDADES técnicas e operacionais às Organizações Militares e navios subordinados, aliadas ao aumento da disponibilidade e prontidão dos equipamentos de hidroceanografia e dos auxílios à navegação. Tal aperfeiçoamento permitirá melhor alocação de recursos e maior eficiência no planejamento e na execução dos diversos Planos de Trabalho do Serviço Hidrográfico Brasileiro.
A evolução da nossa hidrografia não seria plenamente alcançada sem o profissionalismo e a dedicação dos Servidores Civis e Praças, aqui representados, que atuam na análise de levantamentos hidrográficos, na manutenção dos instrumentos náuticos, na operação dos faróis, no levantamento de dados geoespacias, nos serviços de impressão dos produtos náuticos, na disseminação de informações meteoceanográficas e nas atividades de ensino e administrativas.
Hoje, decorrente do esforço do nosso pessoal, lançaremos o aplicativo móvel do Sistema de Previsão de Correntes de Maré em Águas Rasas (SISCORAR), a primeira versão digital da carta sinótica e a atualização da carta da Barra Norte do Rio Amazonas, que contribuirá para o incremento do comércio marítimo na região norte.
Aquele rudimentar Prumo de Mão deu lugar à modernidade, à tecnologia, ao ecobatímetro multifeixe, ao gravímetro, ao magnetômetro. Novos solos são “tocados” a cada dia. No contexto atual, nossa Amazônia Azul, cada vez mais, adquire importância na OCEANOPOLÍTICA, por dispor de uma grande quantidade de riquezas e, também, porque a maior parte do comércio é realizada por meio de mares, rios e oceanos. Os Hidrógrafos, mercê de suas qualificações, são protagonistas nas atividades relacionadas à cooperação para o desenvolvimento nacional. São os Bandeirantes das Longitudes Salgadas, por conta da perseverante busca por ampliar os limites de nossa Plataforma Continental, a leste, mesma direção em que aponta o “Bode Verde”, símbolo do espírito de corpo de um grupo especial de pessoas imbuídas pelo idealismo e pioneirismo. Por fim, agradeço e saúdo todos os Oficiais, Praças, Servidores Civis, Hidrógrafos Honorários, homens e mulheres que trabalham com o foco em “ser do nauta a estrela guia”,honrando os valores daqueles que, com descortino, patriotismo, tenacidade, espírito militar ede sacrifício, singraram os mares até aqui. Incentivo-os a perseguir o aperfeiçoamentotécnico, a atualização tecnológica e a excelência profissional, em prol da “grandeza dahidrografia”, da aplicação do Poder Naval e do desenvolvimento nacional, tendo sempre em mentenossa nobre missão de garantir segurança nos mares, segurança da navegação!
“Restará sempre muito o que fazer…”
EDGAR LUIZ SIQUEIRA BARBOSA
Vice-Almirante Diretor