Para além do Monte Castello
Às 8h da manhã de 29 de novembro de 1944, sob a cobertura de espessa e gélida neblina, os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira investiram contra as posições alemãs instaladas no sinistro Monte Castello.
Passados 80 anos, os derradeiros protagonistas dessa jornada ainda estão entre nós, mas a memória do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi coberta por outra neblina: a do esquecimento.
Essa memória esvaneceu sem jamais ter sido explorada com a profundidade e o desvelo merecidos, enjambrada em modelos de pensamentos simplistas, não raro, cavilosos, que a rebaixaram à categoria dos assuntos “esgotados e pacificados”.
Aspectos básicos da jornada bélica nacional continuam ocultos nas sombras: Como o Brasil foi levado à guerra? Por qual razão foi criada a Força Expedicionária Brasileira? Quem a concebeu? Qual o fator determinante para o envio da expedição aos campos de batalha na Europa?
Jamais o homem brasileiro se viu confrontado com desafio similar: lutar em outro continente contra a temida máquina de guerra nazista, a desconfiança dos aliados e o desprezo dos inimigos.
Quando os pracinhas desembarcaram na Itália, um fotógrafo inglês apontou sua câmera para alguns negros e mulatos entre a soldadesca. Depois, legendou a foto: “Tropas de nativos estavam entre as forças brasileiras”.
“Atenção! Soldados do III Reich. Acaba de desembarcar em Nápoles um exército de sifilíticos”, anunciou a Rádio de Berlim. “Os brasileiros vêm aí. São negros que andam nus, usam argolas no nariz, nas orelhas e comem crianças vivas”, disseminou a propaganda nazista.
“O seu porte não corresponde à dura resistência física adquirida durante o treino nas selvas da sua pátria”, assim um artigo de revista americana descreveu o soldado da Força Expedicionária Brasileira: um silvícola fardado. O general Marshall avaliou o projeto da expedição como uma “dor de cabeça adicional”; a diplomacia britânica considerou-o uma hipótese absurda.
Mesmo no Brasil, poucos afiançaram o poder combativo dos rapazes provincianos, estigmatizados pelo estereótipo do “Jeca Tatu”. Que chance teriam os caboclos sertanejos na luta contra as hordas arianas de Adolf Hitler?
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