Por Melissa Rossi e Vitória França
Desde outubro de 2023, o grupo rebelde islâmico xiita Houthi, que tomou o governo oficial do Iêmen em 2014 e iniciou uma guerra em 2015,tem utilizado drones, mísseis balísticos e de cruzeiro, além de embarcações rápidas, para atacar navios mercantes e militares que eles alegam estar ligados a Israel e que transitam pelo Mar Vermelho.
Utilizando uma retórica de solidariedade ao povo palestino, as ações houthis têm escalado para ataques contra navios de diferentes bandeiras, em especial britânicos, americanos e franceses. Em meio ao potencial agravamento de tensões na Península Arábica, quais são as motivações dos ataques, e o que eles significam para o comércio marítimo na região?
No último 11 de janeiro, os Estados Unidos e o Reino Unido bombardearam mais de sessenta alvos houthis no Iêmen, em uma tentativa de proteger o livre fluxo do comércio internacional. O Mar Vermelho, no qual se encontram o Estreito de Bab el-Mandeb e o Canal de Suez, constitui uma das principais vias marítimas mundiais, principalmente para o transporte energético, sendo responsáveis por cerca de 12% do petróleo e 8% do gás natural liquefeito transportados por mar. Com as agressões houthis, dezenas de embarcações de diversas bandeiras foram atacadas, fazendo com que empresas como Maersk e Hapag-Lloyd desviassem suas rotas para contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança, prolongando suas viagens em até duas semanas.
O objetivo Houthi claramente não foca somente em afetar Israel, mas também em angariar apoio interno pela sua causa, além de conquistar uma projeção regional maior dentro do “Eixo da Resistência”, liderado pelo Irã. É importante ressaltar que, apesar de ocuparem grande parte do noroeste do Iêmen, incluindo a capital Sanaã, os houthis ainda não são reconhecidos como governo legítimo. Logo, tal aposta estratégica de projeção de poder, mesmo que arriscada, busca a consolidação política do grupo.
Assim, pode-se concluir que a escalada de tensões militares no Mar Vermelho teve, a priori, um grande custo econômico com o aumento das preocupações ligadas à segurança. A nível interno, o apoio aos palestinos tem sido um compromisso para apoiadores dos houthis, que, ao demonstrar solidariedade a Gaza, acreditam obter mais apoio. Regionalmente, demonstram seu potencial para a interdição da navegação como um ativo estratégico, fazendo um paralelo à capacidade do Irã em ameaçar o transporte marítimo no Estreito de Ormuz.
FONTE: Boletim GeoCorrente