Por Nikolai Sergueiev e Serguei Machkin
Mergulhadores trouxeram à superfície o maior fragmento do avião descoberto durante as operações de busca: uma parte da cauda do Tu-154B2, com quatro metros e que estava a 30 metros de profundidade, onde foi encontrada a primeira caixa-preta com os parâmetros de voo de todos os sistemas da aeronave.
O Ministério da Defesa ainda não publicou os resultados da análise realizada no Instituto de Pesquisa Central da Força Aérea, na região de Moscou, limitando-se a afirmar que “uma comissão estatal irá tirar as conclusões definitivas sobre as causas do desastre depois de estudar todos os fatores possíveis”.
No entanto, uma fonte próxima à investigação informou que as gravações teriam registrado uma falha no sistema de fechamento das flaps das asas do Tu-154, que, durante a decolagem, garantem maior força de elevação nas asas do avião.
Além disso, uma segunda caixa-preta da aeronave que caiu perto de Sôtchi foi recuperada do fundo do mar, segundo informações divulgadas nesta quarta-feira (28). “A segunda caixa-preta do avião Tupolev-154 foi localizada e recuperada menos de 30 minutos atrás”, lê-se em um comunicado do Ministério da Defesa russo.
Os mergulhadores já resgataram um total de 15 corpos e 239 restos mortais a partir do fundo do mar Negro, informou também o ministério.
O Tu-154, que pertencia à pasta da Defesa russa e seguia para a Síria, caiu na manhã de 25 de dezembro, pouco depois de decolar de Sôtchi, no sul da Rússia. Havia 92 pessoas a bordo, sendo 8 tripulantes e 84 passageiros.
Pilotos perderam controle
A falha no flaps das asas, segundo especialistas em aviação, é um problema inoportuno, mas não poderia provocar tal catástrofe.
De acordo com eles, diante desse tipo de problema, os pilotos tentam conter a queda abrupta com a ajuda do leme e do estabilizador do avião. Na sequência, informam imediatamente os controladores de voo sobre a falha e retornam à pista de decolagem.
Além disso, o giro é realizado em velocidade baixa de modo que as superfícies inclinadas não sejam rompidas pela corrente de ar.
A tripulação do Tu-154 não conseguiu, porém, resolver o problema e, em vez disso, assumiu ações que apenas agravaram a situação.
Os especialistas acreditam que os pilotos militares, na tentativa de compensar a queda livre do avião, puxaram o leme com força excessiva e aceleraram demais os motores. Com isso, o avião adotou o que, em termos aeronáuticos, é conhecido como “perfil supercrítica”, perdeu velocidade e, ao invés de ganhar altitude, acabou caindo no mar.
Novas testemunhas do desastre
Os pesquisadores sugeriram a teoria da falha nos flaps das asas do avião antes de decodificar a caixa-preta da aeronave. Para isso, basearam-se nas declarações de uma testemunha direta do ocorrido: um funcionário do Serviço Federal de Segurança da Guarda Costeira, que comparou a posição da aeronave no momento em que se chocou contra a água com uma motocicleta avançando apenas sobre sua roda traseira.
A porta-voz oficial do Comitê de Investigação da Rússia, Svetlana Petrenko, informou na terça-feira que, além das informações desta e de outras testemunhas do acidente, os investigadores contam também com uma gravação em vídeo que mostra o curto trajeto de voo do avião, desde a descolagem à queda.
O Comitê de Investigação não concedeu, porém, detalhes sobre o conteúdo da gravação nem das informações obtidas por especialistas.
Apesar dos dados da caixa-preta, os investigadores e especialistas ainda não descartam outras possíveis causas do acidente, incluindo um possível ato terrorista a bordo do avião ou problemas com seu alinhamento durante a decolagem, um fator ao qual, segundo pilotos diversos, o Tu-154 é bastante sensível.
Os dados também têm levado os investigadores a apurar uma possível colisão do avião com um bando de gaivotas. Isso porque, no início das operações de busca, uma grande quantidade de penas de pássaro foi encontrada na área onde o avião supostamente caiu. Além disso, os pilotos de helicópteros de salvamento também se queixaram de presença excessiva de pássaros no espaço aéreo da região.
A teoria final sobre a causa será confirmada ou negada após a localização e estudo do motor do avião, cujas pás podem conter traços biológicos.
FONTE: Gazeta Russa