Tiroteio com 5 mortos mina acordo na Ucrânia, e líder pró-russo pede intervenção de Putin Kiev
Um tiroteio num posto controlado por separatistas no Leste da Ucrânia interrompeu ontem a trégua declarada durante a Páscoa e mergulhou o país em mais uma escalada de violência e incertezas.
Ao menos três ativistas pró-russos e dois atiradores morreram num confronto em Bilbasivka, 18 km a oeste de Slaviansk. O incidente levou o autoproclamado prefeito da cidade, Viacheslav Ponomariov, a declarar toque de recolher e a pedir ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que envie tropas para ajudar os separatistas.
A retomada da tensão não só abala o já frágil acordo assinado em Genebra na semana passada para pôr um fim ao conflito, como reacende temores de que sirva de pretexto para a Rússia invadir a Ucrânia, uma possibilidade não descartada pelo Kremlin.
Pedimos que (Putin) examine o mais rápido possível a possibilidade de enviar forças de manutenção da paz para defender a população dos fascistas, declarou Ponomariov em entrevista coletiva transmitida por um canal russo.
Se não podem enviar forças militares, que nos enviem armas. Estão matando nossos irmãos. A Rússia não respondeu se vai atender à petição, mas disparou novas críticas ao governo da Ucrânia, ao qual responsabiliza pelo tiroteio no posto controlado por separatistas há mais de uma semana. O Kremlin acusa os atiradores de pertencerem ao Pravy Sektor, grupo nacionalista paramilitar que apoia o governo interino formado em Kiev após a queda do presidente Viktor Yanukovich.
“A Rússia está indignada com esta provocação, que mostra a falta de boa vontade das autoridades de Kiev para desarmar os nacionalistas”, afirmou em comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Grupo nacionalista rejeita ataque
O Pravy Sektor, porém, nega participação no incidente. E atribui a ruptura da trégua a uma “provocação” dos serviços especiais russos. Uma blasfêmia ter acontecido durante uma noite sagrada para os cristãos, na noite de Páscoa. Isso foi claramente articulado pelas forças russas , acusou Artyom Skoropatskiy, porta-voz do grupo. O tom é similar ao do Serviço Secreto da Ucrânia, que definiu o incidente como uma “provocação cínica” organizada “por fora”. O Ministério do Interior ucraniano declarou não ter realizado nenhuma operação na madrugada de ontem no Leste ucraniano.
Não sei quais são os planos russos. Eles podem utilizar a qualquer momento o pretexto de ‘proteger os habitantes de origem russa’ assim como na Crimeia, declarou o chefe da diplomacia ucraniana, Andrei Deshchitsia.
O fim do cessar-fogo no Leste ucraniano marca também o primeiro confronto na região desde o acordo firmado entre representantes de Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Ucrânia na quinta-feira passada, em Genebra, com o objetivo de reduzir o conflito. O consenso previa o desarmamento de separatistas e a desocupação dos prédios públicos ocupados por eles em ao menos 11 cidades russófonas na Ucrânia, mas foi rejeitado por separatistas já no dia seguinte à assinatura. O ataque aconteceu por volta de 3h da madrugada de ontem. Yuri Zhadobin, líder dos ativistas pró-russos em Bilbasivka, relatou que estava comemorando a Páscoa com 20 separatistas, quando desconhecidos em quatro veículos começaram a disparar.
Começamos a responder atirando de trás das barricadas e lançamos coquetéis molotov. Dois veículos acabaram incendiados, e os atiradores fugiram nos outros dois, contou Zhadobin à agência AP. A polícia de Slaviansk confirmou a ocorrência do tiroteio, mas determinou em três as baixas no incidente, menos do que afirmam rebeldes e fontes russas. Esse foi um dos cinco ataques na madrugada de ontem contra postos de controle em Slaviansk, segundo relatos de um porta-voz separatista. Os novos confrontos levaram o ministro ucraniano do Interior, Arsen Avakov, a se deslocar ao Leste para inspecionar as tropas da Guarda Nacional mobilizadas na região para lutar contra os separatistas.
Papa faz apelo contra a crise
Enquanto isso, líderes das igrejas ortodoxas de Rússia e Ucrânia reforçaram os antagonismos dos discursos de ambos os lados em cerimônias comandadas por eles no final de semana. Numa mensagem de Páscoa, Filaret, principal autoridade da Igreja ortodoxa ucraniana, condenou a “agressão” atribuída ao país vizinho e disse que Deus ajudaria a “ressuscitar a Ucrânia”.
Os sinos da catedral de San Miguel de Kiev tocaram o hino ucraniano para as centenas de pessoas ali reunidas, num momento em que o país encara sua maior ameaça de divisão. Em Moscou, o patriarca russo Kirill pediu orações contra a destruição da “Santa Rússia” e fez uma menção especial aos russos que vivem na Ucrânia.
Do Vaticano, o Papa Francisco pediu “iniciativas de paz a todas as partes interessadas” na crise ucraniana. E apelou à comunidade internacional para que impeça a violência no país.
Quem é Viacheslav Ponomariov?
Líder separatista no Leste da Ucrânia, autoproclamou-se prefeito de Slaviansk há uma semana, alegando que a então prefeita, Nelia Shtepa, tinha abandonado a cidade com o aumento das tensões entre pró-russos e forças de segurança ucranianas. Pouco se sabe sobre ele, além do fato de que combateu no Afeganistão e que, antes das barricadas, dedicava-se a fabricar sabão. Ontem, com a retomada da tensão no Leste ucraniano, pediu ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que envie tropas para ajudar os separatistas. Ponomariov também decretou toque de recolher em Slaviansk entre meia-noite e 6h.
FONTE: O Globo
Quem é Viacheslav Ponomariov? Possivel agente da SPETNAZ