Por HUSSEIN KALOUT
O rompimento das relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irã tem enorme potencial de conduzir o mundo muçulmano a uma escalada de graves dimensões. Fato é que as relações diplomáticas entre Riad e Teerã já estavam disfuncionais e paralisadas desde julho passado, após a assinatura do acordo nuclear entre o Irã e seis potências mundiais.
O descontentamento saudita e a tensão entre Riad e Teerã ficaram ainda mais evidentes após a inclusão do Irã, por EUA e Rússia, nas negociações de Viena com vistas a solucionar a crise síria. Além disso, o fracasso saudita em sua guerra ao Iêmen golpeou duramente a política externa do reino, sobretudo ante a opinião pública do mundo árabe.
Contudo, o estopim desse embate possui contornos mais sensíveis. Não se pode supor que no cálculo político do reino saudita fosse ignorado que a execução do aiatolá Nimr al-Nimr, principal figura religiosa do xiismo na Arábia Saudita, traria uma espiral de violência e consequências políticas.
O ato foi proposital e tinha duas motivações:
1) alterar a natureza do embate de geopolítico para um conflito de corte sectário;
2) provocar uma escalada que pudesse resultar no isolamento do Irã. O substrato dessa decisão política mostra que a monarquia saudita estava disposta a pagar o preço da escalada, já que seu propósito principal era impelir os países árabes de maioria sunita a se alinharem à sua política.
A segunda aposta saudita é inviabilizar a participação iraniana nas próximas rodadas de negociações sobre o futuro da Síria. A tensão em si já criou barreiras para qualquer avanço concreto.
A maior esperança saudita, porém, é em uma virada política nos EUA (a favor da oposição republicana) para que haja revisão da política externa do país para o Irã. Enquanto isso não ocorre, Riad mantém elevada a pressão sobre o governo Obama na tentativa de lograr quaisquer concessões que estanquem o avanço iraniano dentro e fora do Oriente Médio.
Na verdade, a diplomacia saudita vem colecionando derrotas maciças no campo estratégico e cometendo erros estruturais no processo decisório da política externa, o que mina sua capacidade de sair das próprias amarras. É perceptível um desajuste ao modelo e ao padrão estratégico das regras do jogo de quem aspira atuar na macro geopolítica do Oriente Médio e liderar os mundos árabe e muçulmano.
Decisões em política externa não podem ser, sobretudo, impulsivas e não calculadas. Por sua vez, os iranianos sabem que diplomacia é jogo de paciência e observação. O movimento saudita tende a gerar mais prejuízos ao reino do que à república islâmica. O Iêmen, por exemplo, não seria para Teerã, por ora, a principal cartada de retaliação, já que os sauditas estão derretendo no conflito.
Uma eventual intervenção iraniana no Iêmen seria escalonada e não necessariamente focada em vencer, mas em desgastar os recursos econômicos e militares sauditas. A opção legítima de retaliação à disposição seria, então, o fechamento ou o controle seletivo de passagem de navios pelo estreito de Hormuz.
EUA e Rússia passaram quase meio século em confrontação e chegaram diversas vezes ao fundo do poço na Guerra Fria, mas evitaram acima de tudo a amputação das relações diplomáticas, conseguindo criar na própria luta pelo poder mecanismos e regras mínimas de diálogo.
O conflito entre persas e sauditas, que estava contido no limiar da geopolítica, pode estar adentrando uma fase obscura de contorno sectário. Contudo, enquanto importantes países muçulmanos como Turquia, Egito e Paquistão não se moverem no mesmo sentido que os países periféricos, a Arábia Saudita não terá levado nada.
HUSSEIN KALOUT é cientista político e pesquisador da Universidade Harvard
FONTE: Folha de São Paulo
A pergunta que não quer calar é, quando Sauditas e Iranianos terão armas nucleares ? E quando as tiverem o que farão ?
Na prática os sauditas até já tem armas nucleares. Foram um dos principais financiadores do programa nuclear paquistanês. Além disso, os sauditas dispõem de uma força de mísseis estratégicos composta por mísseis chineses e paquistaneses.
Creio ser dificil uma mudança na postura do governo Obama em relação ao Irã sem um erro grave por parte de Teerã, seria o mesmo que admitir grave erro na política externa, logo, a Arábia precisará provocar uma real mudança no cenário regional que arraste os países de maioria sunita para um embate, ou consiga provocar o Irã a um erro maior que incendiar uma embaixada, mas qualquer opção seria um tiro no pé, pois até mesmo a opção de atrair aliados como tais países sunitas seria dificil, pois os tais tentarão se abster ao maximo de posicionarem suas forças, pois isso provocaria guerras internas de cunho religioso, um cenário escabroso, e cheio de crises terríveis a vista, logo, a AS começou uma péssima e difícil empreitada.