Por Nikolai Litôvkin
Moscou e Damasco assinaram na última sexta-feira (20) um acordo de 49 anos para modernizar as instalações de reparo e ancoragem no porto sírio de Tartus (a 220 km a noroeste de Damasco).
Após o fim do contrato, haverá uma extensão automática de 25 anos, a menos que um dos lado anuncie ao outro, com um ano de antecedência, alterações ao documento.
A base naval de Tartus foi construída pelo governo soviético em 1977, e é hoje o único ponto com presença russa no mar Mediterrâneo.
Segundo especialistas, Moscou obteve o direito a usá-la como retribuição de Damasco pela ajuda russa na guerra contra o Estado Islâmico e outros grupos terroristas.
Construção vantajosa
Até recentemente, as instalações de Tartus eram simplesmente um pontão flutuante para manutenção básica de navios. Segundo o novo acordo, a Rússia construirá uma base completa em Tartus e, assim, terá direito a implantar até 11 navios na área.
“Estamos começando uma grande construção de infraestrutura militar – com cais, quartéis, armazenamento de munições e etc”, disse o coronel aposentado e observador militar Mikhail Khodorenok ao site de notícias Gazeta.ru. “Tartus se transformará numa base naval liderada por um vice-almirante da frota”, acrescentou.
Khodorenok prevê que serão necessários de dois a três anos para a construção da base. O número de militares posicionados na base dependerá do número de navios estacionados, mas, segundo o especialista, “é altamente improvável que 11 navios sejam posicionados na região ao mesmo tempo, é mais provável cerca de cinco”.
Apesar da proporção do projeto, atualmente não há nenhuma ameaça à Rússia que exija a implantação de grande grupo naval no mar Mediterrâneo, concorda Vadim Koziulin, professor da Academia de Ciências Militares. “De qualquer modo, o país nem tem uma quantidade tão grande de armamento naval assim disponível”, diz.
“Navios que fazem parte do grupo do porta-aviões Almirante Kuznetsov ficarão estacionados na base, e estes provavelmente serão navios do Mar Negro e do Norte – grandes navios de desembarque, patrulha e antissubmarinos”, diz Koziulin, acrescentando que o cruzador nuclear Pedro, o Grande e o porta-aviões Almirante Kuznetsov exigirão infraestrutura adicional.
“Tartus é um dos pilares da influência russa no Oriente Médio, e ninguém sabe como os eventos se desenvolverão na região, no mundo e na Rússia no futuro”, destaca Gevorg Mirzaian, professor associado do departamento de ciências políticas na Universidade Financeira Internacional sob o Governo da Federação Russa.
“A Rússia precisa estar presente não só no mar Negro, cujo acesso a Otan pode fechar a qualquer momento, mas também no mar Mediterrâneo”, conclui o professor.
Rússia entre Irã e Síria
Para Mirzaian, a Rússia é um alicerce da segurança na Síria, porque os vizinhos do país ainda pretendem minar o governo de Damasco.
“A Síria precisa da Rússia para contrapor o Irã, porque Teerã vai querer ter influência e exercer pressão sobre Damasco”, sugere Mirzaian. “É por isso que o governo sírio tem interesse em nossa forte presença na região; para Assad isso significa investimento no futuro e a possibilidade de manter um forte aliado por muitos anos.”
FONTE: Gazeta Russa