SÃO PETERSBURGO — Em entrevista concedida a agências internacionais neste sábado, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que não quer um retorno aos tempos da Guerra Fria, mas advertiu que é “impossível” isolar a Rússia da crise da Ucrânia.
— Não quero pensar que se trata do início de uma nova Guerra Fria, algo que não interessa a ninguém. Não acho que é o que vai acontecer — declarou Putin, que negou veementemente que busque reeditar o passado soviético.
— Tentam nos rotular desta forma, afirmando que queremos restaurar o império ou a União Soviética. No entanto, creio que isolar um país como a Rússia é impossível. Se os países ocidentais impuserem sanções econômicas mais fortes será algo negativo para todos. Isso poderia levar as economias da Europa, da Rússia e do mundo a turbulências que não interessam a ninguém. Com o momento difícil que a economia mundial atravessa, quem precisa disso?
Sobre o fato da crise ser atribuída a uma série de fatores que sucederam a anexação russa da península da Crimeia em março, Putin não retrocedeu.
— Nossa posição é justa e o povo da Europa reconhece isso — afirmou o presidente. — Façam uma pesquisa de opinião na Europa. Tenho motivos para acreditar que nossa posição teria vários apoiadores.
Perguntado ser a Rússia reconhecerá o resultado das eleições presidenciais ucranianas deste domingo, Putin repetiu que “consideraria com respeito” a decisão dos eleitores. Posteriormente, o governo francês informou que Putin havia se comprometido a respeitar o resultado das eleições, em conversa telefônica com o presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel.
Comparação com Hitler é “inaceitável”
O presidente russo classificou as declarações do príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, que o comparou ao líder nazista Adolf Hitler, são “inaceitáveis” e “indignas de sua posição”.
— Acho que ele mesmo entende isso, trata-se de um homem educado. Esse não é o comportamento de um monarca — afirmou Putin que deve se encontrar com o príncipe britânico e com outros líderes mundiais nas celebrações do 70º aniversário do desembarque das tropas aliadas na Normandia, dia 8 de junho.
Durante a entrevista, Putin também assegurou aos jornalistas que a Rússia é perfeitamente capaz de manter o fornecimento de gás para a Europa, graças ao contrato energético de 30 anos assinado com a China, no valor de US$ 400 bilhões.
Negociações em rublos são prioridade
Após as sanções aplicadas pelos países ocidentais, a Rússia usará o rublo como moeda para o comércio internacional, afirmou o primeiro-ministro do país, Dmitry Medvedev.
— Esta é uma prioridade definida — garantiu Medvedev.
Nas últimas semanas, as autoridades disseram que o governo estava considerando a obrigatoriedade para as empresas estatais de receberem pagamento em rublos para as principais exportações, e não em dólares, como acontece atualmente.
Os líderes da União Europeia se reunirão na próxima semana para discutir medidas que poderiam ser tomadas para atingir os setores mais amplos da economia russa caso a eleição presidencial da Ucrânia no domingo seja interrompida. Os Estados Unidos também ameaçaram com sanções que poderiam atingir amplos setores como energia, bancário e de mineração.
A Rússia há muito tempo aspira elevar o status internacional do rublo na esperança de que a moeda se torne uma amplamente aceita em reservas cambiais dos governos, semelhante ao dólar e ao euro.
— É claro que, quanto mais vendermos, por exemplo, os nossos produtos, incluindo petróleo, gás, construção de máquinas e produtos de defesa em rublos, mais vamos incentivar essa qualidade para a nossa moeda — afirmou o primeiro-ministro
FONTE: O Globo