O Exército brasileiro está se tornando uma força policial, e sem agilidade para proteger os recursos naturais do País
Poucos lugares evidenciam tão bem o papel desempenhado atualmente pelo Exército brasileiro como Tabatinga, cidade de 62 mil habitantes situada na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Protegida pela Floresta Amazônica, a região nunca foi alvo de disputas militares e permanece em paz desde que, no século 18, os colonizadores portugueses ergueram ali um forte, hoje em ruínas. Mas o comandante local, Júlio Nagy, tem outros tipos de ameaças com que se preocupar. Em fevereiro e março, suas tropas interceptaram 3,7 toneladas de maconha. No ano passado, destruíram uma pista de pouso construída por mineradores ilegais de ouro. No interior de um pequeno zoo administrado pelo Exército, vez por outra se ouvem os gritos de araras capturadas nas mãos de traficantes.
A última vez que se teve uma grande cidade brasileira atacada foi em 1711, quando o Rio permaneceu alguns dias sob o domínio de um corsário francês. Um documento oficial do Exército afirma que, “no momento, o Brasil não tem inimigos”. Na ausência de vizinhos beligerantes ou insurreições armadas, e sem cultivar ambições no exterior, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, admite que as Forças Armadas do País “não exibem os atributos militares clássicos”.
Os estrategistas brasileiros dizem que a falta de adversários militares não é justificativa para economizar nos gastos de Defesa. Muitas vezes, falta poder de fogo às polícias estaduais para enfrentar as quadrilhas criminosas que operam em áreas de fronteira. Além disso, o Brasil quer dispor no futuro de poderio militar suficientemente dissuasório para afugentar estrangeiros que cobicem seus recursos naturais. Não é barato manter o controle sobre uma vasta área de fronteira, que se estende por diversos tipos de terreno. Apesar disso, novas ameaças exigem novas respostas. E a alta hierarquia militar diz que, nas condições atuais — com uma tropa de baixa qualificação, mal equipada, executando com frequência cada vez maior funções de policiamento de rotina — as Forças Armadas brasileiras não têm como cumprir os objetivos que lhes são atribuídos pelas autoridades civis.
Com 334 mil homens a sua disposição, o governo brasileiro precisou encontrar formas de ocupá-los. O Brasil lidera, por exemplo, a missão da ONU no Haiti, para a qual contribui com 1.277 “capacetes azuis”. Mas isso é apenas pouco mais do que o número de soldados enviados pelo vizinho Uruguai, cuja população é menor que a de nove cidades brasileiras.
Os militares têm competência legal para atuar preventiva e repressivamente numa faixa de 150 km das fronteiras terrestres. Quadrilhas internacionais há muito atuam nessas áreas: estacionado junto ao zoo de Tabatinga, há um avião cargueiro que se diz ter pertencido ao traficante Pablo Escobar.
O Exército também é responsável por operações mais especificamente voltadas para a “Garantia da Lei e da Ordem”, e com frequência se faz presente em eventos como eleições ou a Olimpíada de 2016. A questão é que os militares estão se envolvendo cada vez mais com atividades policiais de rotina. Ainda que menos de 20% dos pedidos de envios de tropas federais sejam atendidos, esse tipo de operação representa fatia crescente na carga de trabalho do Exército. No ano passado, os soldados brasileiros passaram 100 dias patrulhando as ruas de algumas cidades do País — o dobro do tempo em que haviam feito isso ao longo dos nove anos anteriores.
A maioria dos brasileiros não parece se incomodar com a tendência. Só que os militares desejam para si papel muito diverso. Versão preliminar de um documento do Exército fala muito pouco em “ameaças” específicas, mas se estende longamente sobre “capacidades” desejáveis. O Brasil precisa fundamentalmente proteger suas riquezas naturais, propõe o texto.
Reorganizar as Forças Armadas com base nessa prioridade é uma tarefa formidável. Antes de mais nada, o País terá de fortalecer sua capacidade de policiamento. Jungmann propõe a criação de uma guarda nacional permanente, com um contingente inicial de 7 mil homens. O presidente Michel Temer apoia a ideia.
Mas isso é só um primeiro passo: dois terços das forças terrestres brasileiras têm contratos de trabalho limitados a oito anos de duração, restringindo sua profissionalização. Três quartos do orçamento militar são consumidos com o pagamento de salários e aposentadorias, deixando uma quantia irrisória para equipamentos e manutenção. Nos Estados Unidos, a proporção é inversa.
Em 2015, os brasileiros abandonaram iniciativa conjunta com a Ucrânia para a construção de um veículo de lançamento de satélites. O submarino nuclear que o País começou a construir em 2012, a um custo de R$ 32 bilhões, está longe de ser concluído. O único porta-aviões de que a Marinha brasileira dispunha, que vivia no estaleiro, foi aposentado de vez em fevereiro.
Em períodos de austeridade, até operações rotineiras sofrem com a escassez de recursos. Uma unidade militar de fronteira, em Roraima, recebe suprimentos apenas uma vez por mês, enviados por um avião da FAB. Em razão disso, seu comandante, o general Gustavo Dutra, é obrigado a contar com os serviços de uma transportadora aérea privada, cuja hora de voo custa R$ 2 mil. Em janeiro, o Exército foi acionado para debelar um motim em uma penitenciária do Estado. Com as finanças estaduais em petição de miséria, o general Dutra teme que seus homens tenham de entrar em ação novamente em breve.
FONTE: Estado de São Paulo
The Economist / Traduzido por Alexandre Hubner
Wener
Por isso mesmo deveriam reduzir a quantidade do efetivo, quantos menor o número de militares, menor a possibilidade dessas pensões aumentarem e corroerem parte das verbas do Ministério da Defesa. Você só não percebeu que a intenção de diminuir a tropa ataca diretamente esta questão. Agora se você acha que as pensões irão mudar, você só pode ser ingênuo, ninguém irá mexer nesse vespeiro,e muito menos os militares, só se houver um comandante que muda a parada toda ali, fora isso, a melhor maneira é restringir o número de efetivo.
HMS TIRELESS
kkkkkk
Impressionante a quantidade de besteiras que certos fiéis da seita fundamentalista do ABC proferem! Continuam esses adoradores do Aiatolá de São Bernardo botando a culpa no FHC quando qualquer néscio sabe que a culpa está na própria mentalidade das forças armadas, cujo oficialato era e continua a ser apenas mais uma opção de carreira para a classe média.
O ministro só está querendo reativar os planos do FHC e transformar o exército em mera polícia militar.
Se isso fosse afirmado pelo PT seria motivo para, muitos deles pregarem uma intervenção militar, mas como o ministro está expressando a vontade de Washington ninguem diz nada.
Já no primeiro ano de vigor da EC 95 do Teto de Gastos Públicos, as verbas para policia federal e rodoviária tiveram um corte drástico, ao longo dos 20 anos de validade desta desastrosa EC95, outros serviços públicos como saúde, também serão gradualmente estrangulados, segurança (policias) e defesa (forças armadas), serão cada vez mais incapacitadas e com a falta de recursos para as policias, a tendencia será utilizar cada vez mais, as forças armadas como força policial. Um circulo vicioso e desastroso para o Brasil!
Algumas Brigadas PE locais seriam mais adequadas para tais missões como forças-auxiliares das PMs.
Antes de “pacificar” outras terras, precisamos pacificar a nossa..
As Guardas Nacionais acabam virando milícias políticas em países sem estabilidade institucional como o nosso, a exemplo da Venezuela, a Alemanha Nazista e outras tiranias.
A ideia da guarda nacional é boa sim, se substituir atual força nacional e tirar do EB esta função de intervenção que esta havendo. O problema dos gasto com pessoal reside principalmente nas pensões que filhos de ex militares recebem. Eles deixam de casar (moram juntos apenas) para ficarem recebendo as gordas pensões herdadas dos militares.
FJJ
o que você está propondo é a Guarda Nacional agir em decorrência da ineficiência da polícia, quando algum governo municipal ou estadual solicitar reforços. Pois bem, não precisaria criar uma força paralela subordinada ao ministério da defesa para tal função, porque parte dos homens que estão no efetivo do Exército poderia ser a base para criar uma brigada(assim como você descreveu uma brigada do PE seria a melhor iniciativa) para agirem em ambientes urbanos como de fato acontece com a polícia. Não precisaria criar toda uma estrutura nova empregando mais homens para fazerem tal função, isso é desnecessário e extremamente ineficiente, isso criaria ainda mais despesas em que poderiam ser muito bem empregados nas 3 forças que estão a beira da sucata.
Aliás, quem defende a criação de uma Guarda Nacional, também deveria defender a criação de uma Guarda Costeira, isto é, a Marinha do Brasil seria desmembrada e viraria apenas uma Marinha de Guerra, excluindo-se da função de Guarda Costeira como acontece atualmente. Agora quem fizer isso, tem que estar disposto a aceitar o sucateamento de vez da Marinha do Brasil, porque parte dos recursos da Marinha advém de licenciamento de embarcações, estaleiros, certificações náuticas, licença para tripulantes, multas… que são de competência da Guarda Costeira. A mesma situação se aplicaria a uma Guarda Nacional, ao invés de criar toda uma estrutura para atender a essa exclusividade, um gasto que envolveria sem dúvida algumas dezenas de milhões, se não até pode passar de 1 bilhão de reais, isso seria muito mais eficiente se esse recurso fosse investido no Exército, criando uma brigada da PE para atender esse requisito.
A questão dos concursos é um conceito que criei espontaneamente ao ver essa matéria. Vou pegar um exemplo da EsSA, todo ano são 1000 e poucas vagas, mas o número que são efetivados no final da escola de sargento é no máximo uns 1000. O salário de cada efetivado no início da carreira é de 3,3 mil, ou seja, no futuro, vão ter mais 1000 sargentos ganhando 3,3 mil por mês, no ano essa quantia total fica em R$36 milhões, agora coloca esse concurso paralisado em um ciclo de 3 anos, isso significaria uma redução de custos em mais de R$105 milhões ao final de cada ciclo. E lembrando que isso é totalmente ínfimo se comparado a Espcex(AMAN), tirando os praças ou subalternos como alguns outorgam. Esse dinheiro dos concursos iriam para investimentos e o custeio das operações, colocando em dólar seria US$30 milhões a mais para custeio e investimentos. Para se ter uma ideia da gravidade do nosso problema, 73,6% do orçamento da defesa é para soldos, benefícios e outras inutilidades, enquanto o custeio das operações é de apenas 13,6% do orçamento, e os investimentos(compras de equipamentos) em 10,4%, afins de comparação, os EUA cerca de 30% é do custeio do pessoal que inclui soldos e benefícios, 20% para investimentos, e para operar e manter a maior estrutura militar do planeta, é resguardado 45% do orçamento. Se somarem não irá bater 100%, porque existe outros gastos como amortizações e outros.
Eu também não concordo com a ideia do serviço militar obrigatório, na minha humilde opinião deveria ser um programa estilo Portugal, os adolescentes que completassem 18 anos seriam obrigados a comparecer a uma brigada e assistir um vídeo sobre o papel das Forças Armadas no Brasil e no mundo, no final de todo esse programa, basta apenas a pessoa escolher seguir a carreira ou não, novamente isso reduziria o efetivo, o que se traduziria em mais verbas para investimento e custeio e menos recursos para o custeio do pessoal, essa mobilidade do orçamento seria uma ótima oportunidade das 3 forças se modernizarem por terem mais verbas.
É uma mudança pequena? É, mas fará uma diferença absurda a longo prazo.
São tantas mudanças que os comandantes poderiam fazer, mas eles só querem que o governo faça sua parte, e os comandantes com a barriga para cima. O Exército já poderia ter deslocado a Brigada Paraquedista do RJ para Goiânia ou para Amazônia, não faz sentido ter essa brigada aqui no Sudeste, o SISFRON já poderia também ter sido implementado, atualmente são de 25 mil a 30 mil homens patrulhando as fronteiras, e olha o tamanho, é geograficamente impossível, apenas com SISFRON é que nossas fronteiras estariam sendo cobertas totalmente ou quase, isso reduziria a quantidade de homens na patrulha nas fronteiras(ainda haveria pelotões nas fronteiras, mas com uma quantidade reduzida), onde realmente mora o perigo, isso poderia já ter sido feito com os cortes de despesas, são programas que não demandam bilhões de reais para serem implementados como os projetos da Aeronáutica e da Marinha.
Enfim, são pequenas mudanças que a longo prazo teriam um enorme impacto positivo na estrutura das Forças Armadas, mas o comodismo parece falar mais alto.
Abraços
A quantidade de militares x equipamentos que sempre me desagradam,,eu sempre me pergunto para que uma marinha com um efetivo de quase 80 mil homens e que faz concurso todo ano de diversos cargos,sendo que mal temos navios o mesmo caso do exercito e da FAB,para que uma força aerea com tantos militares sendo que não temos esse monte de aeronaves ou atribuições,esse excedente sempre foi um erro ,é preferivel vc ter um pais com metade disso ai e bem equipado.
Prezado Gilson, embora seu comentário faça até bastante sentido e tenhamos sim, que estar atentos a criação de mais uma burocracia, a idéia da “Guarda Nacional” não é ruim, só é mal pensada a meu ver. Ter uma força de pronto emprego voltada às ações policiais e de controle interno é uma boa idéia. Mas porque não fazer uma “Brigada de PE”, por exemplo, com uma estrutura bem distinta de treinamento e composta de profissionais? Nosso problema, como de costume, é a burocracia. Os limites de 8 anos de serviço para os praças, a absurda divisão de gastos com pessoal x investimento, mas – muito infelizmente – só espaçar os concursos já não nos resolve, pois os inativos e os atuais ativos não vão a lugar nenhum…. Mas, sem dúvida, uma estrutura voltada para o policiamento interno distinta do Exército “normal” é uma boa idéia. Quanto aos 300.000 homens isso é uma excrescência que já deveria ter acabado há tempo. A maior parte desses são recrutas e soldados do serviço militar obrigatório que se tiverem que ser empregados em situação real (e falo pela experiência da platina que levei no ombro bom tempo) capaz de morrerem de susto. O Exército de pronto emprego/profissional representa menos de um terço disso e poderia se beneficiar bem de mais recursos, até para aumentar seus quadros para, minimamente, ser como os Navais e não contar com o serviço militar obrigatório. Mas aí tem que diminuir a estrutura de oficiais, números totais de tropa……
Faço só uma exceção à algumas poucas partes do Brasil que poderiam se beneficiar de recrutas em seus quadros, mas acho que o serviço obrigatório não é necessário para isso nem de longe.
Deixe-me ver se eu entendi.
Com o sucateamento das Forças Armadas assim como as Polícias, e ainda assim o dignitário ministro da Defesa propõe criar uma Guarda Nacional permanente? É isso mesmo?
Querem aumentar ainda mais os gastos criando uma força paralela? Isso me lembra de Maduro, o que dá sustentação a seu regime é a Guarda Nacional onde executa até mesmo os manifestantes. Isso seria o cúmulo da burrice EDITADO! EVITE ESTE TIPO DE COMENTÁRIO DA PRÓXIMA VEZ, OK?
Como dá para ver, o problema sempre foi os soldos assim como os benefícios que comem a maior parte do orçamento tanto da Polícia quanto das Forças Armadas, por acaso alguém já propôs paralisar os concursos para essas unidades?
Eu acho que todo ano tem concurso tanto para a Polícia quanto para as Forças Armadas, por que não criar um ciclo de concurso em um intervalo de tempo de 3 anos? Teria concurso de 3 em 3 anos, assim reduziria tanto o número de tropas quanto os gastos correntes abrindo possibilidades para investimentos. Um exército com efetivo de 300 mil como falado na matéria sem fazer nada, é melhor diminuir do que continuar essa farra de gastos. Uma marinha com efetivo de 70 mil sem fazer nada, por conta da escassez de navios de guerra, é melhor diminuir esse efetivo para abrir possibilidades de investimentos.A FAB também deve ter uns 80 mil de efetivo, não sei o motivo dessa grande tropa se não temos equipamentos para operar pelo menos 10% desse efetivo, é gasto corrente inútil. O mais engraçado são os comandantes militares pedindo mais dinheiro, sendo que nem eles fazem o dever de casa, eles não cortam custos.
Eu prefiro mil vez ter poucos equipamentos de última geração com pouco efetivo do que essa tropa toda sem equipamentos de guerra de última geração. Mas acho que os comandantes pensam ao contrário, é preferível ter uma grande tropa sem equipamento esperando mais verbas do governo que atualmente está em crise.
Eu já estou perdendo minhas esperanças.