Por Thomas L. Friedman – The New York Times
O presidente Barack Obama tem sido condenado por declarar que “os EUA ainda não têm uma estratégia” para enfrentar efetivamente o Estado Islâmico (EI). Ao criticar Obama por demorar demais, o deputado republicano Mike Rogers, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, disse no programa Fox News Sunday que “esta ‘política de não fazer besteira’ não está funcionando”. Isto soou estranho aos meus ouvidos –como se devêssemos simplesmente bombardear alguém, ainda que isso fosse estúpido. Se Obama fizesse isso, o que estaria ignorando?
Primeiro, experiência.
Após o 11 de Setembro, esse tipo de abordagem “preparar, apontar, fogo” foi usado pelo presidente George W. Bush para ordenar uma guerra terrestre no Iraque sem forças terrestres suficientes para controlar o país, sem uma verdadeira compreensão da dinâmica sectária xiita-sunita no Iraque e sem nenhuma percepção de que, ao destruir o regime do Taleban sunita no Afeganistão e o regime baathista sunita no Iraque, os EUA estavam destruindo os inimigos do Irã e com isso abrindo caminho para uma vasta expansão da influência iraniana na região. Havia pressa para mudar as coisas depois do 11 de Setembro e, quando se está com pressa, ignoram-se complexidades que voltam para nos assombrar posteriormente.
Não há palavras para descrever a maldade da decapitação de dois jornalistas americanos mostradas em vídeo pelo EI, mas não há dúvida de que eles queriam que nós reagíssemos de maneira exagerada, à la 11 de Setembro, e nos precipitássemos de novos em uma estratégia. O Estado Islâmico é abjeto, mas não é uma ameaça ao território dos Estados Unidos.
Segundo, o contexto.
Para derrotar o EI, é preciso entender o contexto em que ele surgiu. E este é o das três guerras civis que hoje assolam o mundo árabe: a guerra do Islã sunita entre jihadistas radicais e regimes muçulmanos sunitas moderados; a guerra em toda a região entre sunitas financiados pela Arábia Saudita e xiitas financiados pelo Irã; e a guerra entre jihadistas sunitas e todas as demais minorias da região – yazidis, turcomanos, curdos, cristãos, judeus e alauitas.
Quando se tem uma região abalada por tantas guerras civis de uma vez, isso significa que não há nenhum centro, só lados. E quando intervimos no meio de uma região sem centro, tornam o- nos muito rapidamente um lado.
O Estado Islâmico surgiu como uma expressão extrema de ressentimento deum lado: sunitas iraquianos e sírios que se sentiram afastados do poder e de recursos pelo regime xiita pró-iraniano em Bagdá e o regime xiita-alauita pró-iraniano em Damasco.
União nacional. É por isso que Obama fica insistindo que uma intervenção militar americana precisa ser acompanhada, para começar, por iraquianos produzindo um governo de união nacional – formado por xiitas, sunitas e curdos moderados–de modo que o uso da força dos EUA sustente o pluralismo e a divisão do poder e não apenas um poder xiita.
Mas uma divisão de poder não é fácil de alcançar numa região onde lealdades sanguíneas e sectárias sobrepujam qualquer senso de cidadania compartilhada. Mas, sem isso, a filosofia dominante oscila entre: “Sou forte, por que deveria fazer concessões?” ou “Sou fraco, como posso fazer concessões?” De modo que qualquer investida que façamos contra o EI, na falta de governos de unidade nacional, faraós xiitas dizerem a primeira e os sunitas dizerem a segunda. É por isso que a questão é complicada.
E esta é uma luta sectária por poder. Considerem um artigo do New York Times da semana passada sobre como o EI está sendo liderado por uma combinação de jihadistas e oficiais do Exército baathista iraquiano sunita que foram segregados tanto pelos EUA quanto por governos dominados por xiitas no Iraque.
O artigo observa: “Depois que o EI invadiu Mossul, uma autoridade iraquiana( xiita)lembrou de um telefonema de um general de uma das forças de elite de Saddam Hussein.
O ex-general havia pedido meses antes para ingressar no Exército iraquiano, mas a autoridade havia rejeitado. Agora, o general (sunita) estava lutando com o EI e ameaçando vingança. “Chegaremos até você em breve e vou picá-lo em pedaços”, disse ele, segundo Bikhtiyar al-Qadi, membro da comissão que barra alguns ex-integrantes do Partido Baath de postos no governo.
Repitam comigo: “Chegaremos até você em breve e vamos picá-lo em pedaços”. É com o que estamos lidando aqui– guerras civis múltiplas, venenosas, que são um terreno fértil para o câncer do EI.
Terceiro, os aliados dos EUA não são totalmente aliados.
Embora os governos da Arábia Saudita, do Catar e do Kuwait sejam pró-EUA, indivíduos sunitas ricos, mesquitas e organizações de caridade nestes países são fontes poderosas de recursos financeiros e combatentes para o EI.
Quanto ao Irã, se derrotarmos o Estado Islâmico, será a terceira vez desde 2001 que derrotamos um contrapeso sunita importante ao Irã – primeiro o Taleban, depois Saddam, agora o EI. Isso não é motivo para não fazê-lo, mas é uma razão para fazê-lo de modo a não nos distrairmos do fato de que o programa nuclear do Irã também precisa ser desarmado. Complicado.
Sou totalmente pela destruição do Estado Islâmico. É um movimento doente, desestabilizador. Apoio o uso de poder aéreo e de forças especiais americanas para eliminá-lo, mas somente como parte de uma coalizão, onde todos que tenham interesse na estabilidade local paguem sua cota e onde sunitas e xiitas moderados assumam a frente demonstrando que odeiam mais o EI do que se odeiam mutuamente.
Caso contrário, terminaremos no meio de uma confusão terrível de aliados dúbios e paixões sectárias – e nada de bom que fizermos será duradouro.
FONTE: Estado de São Paulo
TRADUÇÃO: CELSO PACIORNIK
Prezado Jeff,
Em nenhum momento do meu comentário, se quer me referi especificamente ao EI ou aos seus objetivos ou a qualquer um dos demais grupos radicais ou fundamentalistas como queira, generalizei o meu argumento colocando em evidência a exploração das riquezas desses países islâmicos que sempre foi praticada pelos ocidentais em detrimento do progresso daquele e de outros povos quase sempre com a participação dos USA. O que também acontece aqui no nosso continente.
As guerras ali desencadeadas nos últimos cem anos, estão mais diretamente associadas aos petrodólares e a corrida armamentista, ambas altamente lucrativas, graças ao alcance geo-político e geo-estratégico que proporcionam aos seus beneficiários, do que mesmo ao islamismo em si.
O crescimento do fundamentalismo se dá, na minha opinião, mais em consequência das atrocidades e do descaso, pela falta de políticas e de políticos que priorizem o povo e não a ganância desenfreada. Quando a educação, o trabalho, a habitação, a saúde, a segurança e outros fatores primordiais ao desenvolvimento básico do ser humano lhes são totalmente negados ou retirados à força, só lhes resta a fé como propulsor e, no caso em comento, a religião é o veículo condutor para a confrontação, pois esses não dispõem de outra arma ou combustível para se defenderem e se manterem na luta.
Não importa a denominação que tenham : sunitas, xiitas, sauditas,etc, o que todos eles buscam é melhor qualidade de vida, é desenvolvimento e progresso assim como nós. Os oportunistas de plantão (políticos e empresários inescrupulosos) apenas utilizam a religião como uma faxada para alimentar as esperanças, alienarem, recrutarem os incautos, insatisfeitos(jovens europeus), simpatizantes e radicais e utilizarem-nos os seus exércitos particulares. Enfatizo que não tracei qualquer comparativo com o Brasil, por entender que temos os nossos problemas, mas que, salvo juízo adverso, passam longe da questão aqui enfocada, mas que mesmo assim temos que nos acautelar. Pois, quem cultiva riquezas, semeia cobiças e inveja, podendo, até, colher o ódio. Finalizo esta postagem ressaltando que ao distribuir os royalties do petróleo com a totalidade dos estados membros o Brasil deu uma demonstração de amadurecimento de política pública de grande alcance, que com certeza pode evitar que ocorra o que ocorreu na maioria dos países exportadores da Ásia, resta-nos agora fiscalizar, acompanhar e cobrar os resultados pelos repasses conquistados e que venham outros e assim estaremos nos afastando dos radicalismos. Por oportuno agradeço a sua atenção ao meu post, confiante de que avançamos mais, forte abraço.
Parabéns jeff, excelentes colocações, mas infelizmente aqui no Brasil, por questões de educação tem pessoas que estão sendo “doutrinadas” com ódio aos ocidentais e não estão percebendo que estão sendo apenas usadas como bucha de canhão para que facções políticas permaneçam no poder e continuem depauperando este país.
Grande abraço
Adriano,
Desculpe, mas você torcer sob qualquer aspecto por esses fundamentalistas assassinos e covardes apenas demonstra seu desprezo pela vida humana! Quero acreditar que você não seja assim e que foi apenas uma má colocação sua.
Saiba que antes dos soldados do EI terem cortardo qualquer cabeça americana ou européia eles enterraram vivas centenas de mulheres e crianças, mataram milhares homens apenas por serem de outra faceta islâmica, mataram mais de 250 soldados sirios após sua rendição. A eles só interessa estabelecer o terror e tomar o poder. Neles não há nada de bom, nada que seja minimamente integro. Até mesmo o Hamas ou Hesbolah (?) no fundo não estão nem aí com pobreza do povo com com eventual injustiça por parte de Israel. Eles fazem o que fazem apenas para continuar existindo e se perpetuarem no poder.
Já passou da hora dos EUA e de toda a OTAN pagar pelo que faz! Sou contra o jihadismo mas quem planta ventos colhem tempestades.
O EL vai conseguir invadir a peninsula ibérica, a parte que foi muçulmana até o séc XV, pois os jihadistas que lutam na Síria são treinados e alimentados em solo europeu mesmo e dentro das grandes cidades. Aos olhos de todos menos da grande imprensa. O restante vai subir pelo norte da Africa e principalmente Marocos.
A OTAN vai ficar ainda muito tempo nessa fantasia de invasão Russa. Se não sabem lidar com o Putin, quem dirá contra o EL.
Perdoem-me de citar Nostradamus mas a relatos dele de que os muçulmanos irão marchar sobre a Europa… Não levo fé em Nostradamus massss…!!!
O que se percebe, a grosso modo, é que depois de gerar esses ninguém de fato tem o poder de discipliná-los. A exploração desmedida e gananciosa pelos ocidentais das riquezas energéticas (petróleo) desses países, sem que houvesse uma contrapartida sócio-política com relação ao emprego dos “royalties” nas melhorias da qualidade de vida dos seus povos, mas com exagerada colaboração na formação de Forças Armadas ditatoriais, aprofundou ainda mais o abismo sectário já existente naquelas regiões.
A pobreza absoluta de milhões e a riqueza exagerada de alguns, a falta de esperança e de comprometimento das autoridades internacionais, remeteu a solução desse impasse ao radicalismo acentuado que só a fé pode proporcionar quando a diplomacia não passa de uma mera figura de retórica e enrolação. Mas, nós os ocidentais, jamais havíamos previsto que com esse tipo de comportamento esquivo e covarde com relação à miséria e ao sofrimento daqueles povos, um dia iríamos pagar “royalties” bem mais altos pela nossa omissão e irresponsabilidade.
Hoje os muçulmanos exportam mais do que o seu petróleo para o ocidente, exportam o seu ódio e desapontamento, o terror e a insegurança. Só torço para que os governantes brasileiros e dos demais países em desenvolvimento e detentores de grandes riquezas ainda inexploradas ou em fase inicial de exploração tirem boas e proveitosas lições desses cenários reais e que não se omitam quanto a necessidade urgente e imperiosa de promover a desconcentração de riquezas. Lembrem-se todos vós : somos ricos em petróleo e outros materiais e também somos um país de muita pobreza e fé, portanto…. é de bom alvitre colocar as barbas de molho.
Caro Geraldo,
Primeiramente, o EI não advoga a causa de combate a pobreza e sim fundamentalismo religioso mais sórdido, intolerente e assassino que existe. Eles usam a religião como fundo apena para ter o poder pelo poder e só!
Outra coisa, nós exportamos milhares de toneladas de alimentos anualmente e ainda assim a fome persiste em muitos lares brasileiros, mas por quê? bem, as exportações trazem alem das divisas $$$, riqueza, progresso e outros benefícios…assim sendo fica evidente que a causa está no próprio Brasil que principalmente através de seus governantes (independente de partido A ou B) não conseguem repartir a riqueza. A Venezuela sempre exportou petróleo e conseguiu viver relativamente bem assim, até que um dia um sujeito populista colocou tudo a perder e hoje falta absolutamente de tudo por lá, acabou com sua industria, seu comercio, sua agricultara não planta e nem colhe, em contra partida na Arabia Saudita ou Emirados Arabes onde não existe muito potencial para outra atividade além do petróleo as pessoas vivem bem. Os países pobres precisam aprender a fazer a lição de casa, pois ganham bilhões em doações e todo esse dinheiro vai para na conta de presidentes populistas e corruptos.