A Alemanha é um dos países mais poderosos do mundo, mas aparece pouco em debates militares. Em um contexto de tensões e conflitos na Ásia e no Oriente Médio, a questão é levantada interna e internacionalmente: seria a hora de os alemães também se tornarem uma força também militar?
O país tem bons motivos para se sentir inseguro diante de um cenário bastante instável, que inclui o autodenominado grupo Estado Islâmico no Oriente Médio e conflitos correlatos forçando uma onda de imigração à Europa, o russo Vladimir Putin fazendo antagonismo ao Ocidente, e Donald Trump questionando o papel da Otan (aliança militar ocidental).
No mês passado, a chanceler (premiê) do país, Angela Merkel, disse aos alemães que eles “precisam lutar por seu futuro por si próprios como europeus”. Tropas da Alemanha foram enviadas a lugares como Afeganistão e Mali. E Merkel prometeu aumentar os gastos do país com defesa.
Mas a Alemanha e sua chanceler enfrentam um problema fundamental: a maioria dos alemães é bastante relutante a seguir esse caminho. Eles veem seu Exército com desconfiança – atitude reforçada por um escândalo recente. O envio de tropas ao exterior tem regras bastante rígidas na lei alemã e no Parlamento. E, acima de tudo, as atitudes relacionadas a esse tema são moldadas pela sombra da história.
A Alemanha desmilitarizada foi tão bem-sucedida – e os alemães são tão sensíveis sobre seu passado de guerra -, que o país mais poderoso da Europa hoje tende a se manter um campo de batalha fraco. Depois da Segunda Guerra Mundial, houve um grande debate sobre se a Alemanha deveria ou não ter forças armadas. Era preciso colocar um ponto final, argumentava-se, nesse ciclo violento que começou com o militarismo da Prússia e terminou com os crimes de guerra nazistas.
Enquanto o lado comunista da Alemanha criou um “Exército do Povo”, seguindo as tradições militares do país, na Alemanha Ocidental democrática – ocupada pelo Reino Unido, França e Estados Unidos – foi criado um serviço militar bem diferente. Chamado “Bundeswehr”, o Exército surgiu em meados dos anos 1950 e era uma força militar deliberadamente modesta, que existia apenas para defender o território da Alemanha Ocidental. Seus recrutas eram motivados a se enxergarem apenas como “cidadãos com um uniforme”.
Desconfiança persistente
É fato que o uniforme em si parecia mais um de motoristas de ônibus do que o de um soldado do Exército, conforme descreve o historiador James Sheehan. A Alemanha Moderna, conta ele, “pensa sobre seu Exército da mesma maneira que a maioria dos países pensa em suas polícias”. Sheehan observa nos alemães uma “desconfiança persistente sobre as instituições militares” que se mantém até hoje.
Além disso, o Exército alemão remete às terríveis memórias dos horrores da Segunda Guerra Mundial – não só pela vergonha nacional dos crimes nazistas, mas também pela devastação que impactou milhões de civis.
Werner Kraetschell, pastor protestante de uma antiga família de origem prussiana que se tornou um capelão militar, cita os milhares de alemães que cresceram depois da guerra sem ter um pai por perto, algo que moldou a percepção de muitas pessoas a respeito da questão militar. “Por muito tempo, se você fosse um soldado (na Alemanha), não usaria seu uniforme no trem (porque) passageiros te xingariam de ‘assassino'”, diz Sophia Besch, especialista em questões militares do Centro de Reforma Europeia.
Desafios de segurança
Quando a Guerra Fria acabou e a Alemanha se reunificou, as pessoas acreditavam que a paz estaria mais ou menos garantida. Mas o político democrata cristão e ex-ministro da Defesa Franz Josef Jung diz que agora “a realidade nos alcançou”. Ainda assim, ele admite que “a população (atual alemã) tem uma atitude formada mais pelo pacifismo”.
Ele acredita que a Alemanha precisa de novas políticas para “vencer os desafios internos e externos sobre segurança.”
Depois da reunificação, a Alemanha começou a enviar tropas para outros países. Mas a sensibilidade segue à flor da pele. Em 2009, houve alegações de a Alemanha ter encoberto um ataque militar no Afeganistão que causou mortes de civis. Jung foi forçado a renunciar ao cargo de ministro, e até hoje qualquer envio de tropas passa por amplo escrutínio parlamentar.
Relações de tortura
Ao mesmo tempo, a Alemanha aboliu o recrutamento e está se concentrando, como outros exércitos modernos, em forças menores e especializadas.
Mas a velha desconfiança sobre os militares ressurgiu no mês passado quando veio à tona um escândalo evidenciando a presença de grupo da extrema direita no Bundeswehr, promovendo celebrações de tradições nazistas e um plano para assassinar pessoas que pediam refúgio no país.
Alguns minimizaram a amplitude do caso, mas ele de qualquer maneira evidencia as tensões entre o Bundeswehr e o povo alemão. Agora, há uma urgência real para o debate sobre o futuro militar na Alemanha.
O discurso de Donald Trump dizendo que a Otan é “obsoleta” e seu questionamento sobre “segurança coletiva” foi uma grande surpresa para os alemães, segundo Bethold Kohler, editor do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. “Ninguém poderia imaginar que o presidente americano diria uma coisa dessas.”
Kohler defende que a Alemanha debata até mesmo adquirir suas próprias armas nucleares, mas admite que isso é visto como algo impensável pela maioria de seus compatriotas. Enquanto alguns se opõem a armas nucleares por princípio, muitos outros passaram décadas vivendo confortavelmente sob o escudo nuclear dos Estados Unidos e da Otan. “Ninguém esperava que teríamos que pensar sobre isso”, explica Kohler. E poucos alemães querem fazer isso agora.
Gastos
A Alemanha atualmente gasta apenas 1,3% de seu PIB em defesa. “Nós temos um enorme deficit comercial com a Alemanha e, além disso, eles pagam muito menos do que deveriam para a Otan em questões militares”, afirmou Donald Trump recentemente pelo Twitter. “Isso é muito ruim para os Estados Unidos. E isso vai mudar”.
A Alemanha vai resistir aos pedidos de Trump por mais gastos com defesa, mas esse subfinanciamento tem sido um pouco embaraçoso em algumas situações, como por exemplo na revelação de que durante um teste da Otan em 2014, um tanque do Bundeswehr encobriu a falta de metralhadoras usando vassouras pintadas de preto.
Até onde Berlim irá com isso?
Werner Kraetschell, que conhece Angela Merkel e o pensamento dela sobre a questão, diz que ela quer “uma Alemanha forte, capaz de assumir responsabilidades internacionais”. Mas sua dificuldade é lidar com o povo alemão, que ainda é bastante contra o Exército.
Talvez os alemães sigam adiante com sua bem-sucedida experiência histórica e única, ascendendo internacionalmente como potência sem esforços militares significantes. O fato é que o passado ainda pesa muito para os alemães. Mas o que quer que aconteça, também é sabido que não haverá uma ação violenta e pesada do país em território estrangeiro. Em vez disso, os militares alemães vão pisar em ovos em um futuro altamente incerto.
FONTE: BBC
FOTOS: Ilustrativas
Meu Deus quanta desinformação, nao vale a pena nem responder.
Hitler de esquerda? hahahaha Vamos falar sobre os vários patrocínios que ele recebeu de empresários como os da BMW, Thyssen, Bayer, Hugo Boss e até de alguns banqueiros estrangeiros. Ele era de extrema-direita e conservador, não é porque no nome do partido tenha socialista que ele é de esquerda, se fosse assim o PSDB seria de esquerda e todos nós sabemos (ou deveríamos saber) que ele é de direita. Outra coisa Hilter odiava Marx e sua teoria, tanto é que nos campos de concentração comunistas eram mortos junto com judeus, ciganos, homossexuais, deficientes e poloneses.
Otima observação VITÓR, nunca Hitler foi de direita.
Extrema direita ????? Hitler era do partido socialista dos trabalhadores alemães , fã de karl Marx e contra o capitalismo . desarmamentista e abortista , e ainda falam que ele era de direita , vai entender. (sei que o post foi pego de outro lugar?
Complementando meu post anterior, quando um país se dispõe a assumir um papel de protagonista bélico, automaticamente o mesmo deve estar preparado para ser um alvo preferencial tanto de outras potências beligerantes como de ações terroristas. Até que ponto esse protagonismo é benéfico para a segurança de sua população?
A Alemanha vive o mesmo dilema que a maioria das nações do mundo em relação às suas forças armadas: assumir responsabilidades internacionais ou cuidar da segurança nacional? Garantir sua segurança nacional com forças armadas ou forças policiais? EUA, China, Rússia e pouquíssimos países têm capacidade bélica de atuação e ou intimidação globais, e essa capacidade é moderada pela diplomacia. Se esta falhar, pode levar à ocorrência de conflitos transnacionais, mas hoje é pouco provável que isso ocorra. Há anos o que o mundo vê são conflitos assimétricos, em maior ou menor escala, causados por ações de terroristas com apoio de governos atentando contra populações locais ou de outros países. Contra essa e outras ameaças reais, como insurgência, tráfico de drogas e descaminho, forças menores e especializadas combinadas com forças policiais tendem a ser a melhor opção.