Por Marcelo Ninio de Pequim
Área tem peso histórico, econômico e estratégico
“Ninguém diz à China o que fazer”. Num recado seco aos EUA, esta foi a manchete do jornal estatal “China Daily” no final de maio, em meio à recente escalada retórica em torno do mar do Sul da China. A reportagem do jornal, que como o restante da imprensa oficial dá voz aos humores de Pequim, continua com outra advertência: “Os EUA estão brincando com fogo”.
Enquanto fortalece ano a ano sua capacidade militar, a mensagem de Pequim tem sido cada vez mais clara: seus direitos sobre o mar do Sul da China, onde outros cinco países disputam territórios, são inegociáveis.
Além de interesses estratégicos e econômicos, pois a região tem reservas de gás e petróleo e é a segunda rota marítima comercial mais movimentada do mundo, há o crescente nacionalismo estimulado pelo governo.
A disputa pelo mar “não envolve só questões legais, de evidências históricas e de soberania”, diz Li Jianwei, diretora de pesquisa do Instituto Nacional de Estudos do Mar do Sul da China, ligado ao governo. “Há também o componente emocional.”
O governo chinês considerou uma provocação o voo de patrulha feito pelos EUA no dia 20 de maio, perto de um dos recifes onde a China constrói uma pista de pouso, nas ilhas Spratly.
O voo levava uma equipe da rede de TV CNN, que reproduziu alertas da Marinha chinesa e captou imagens do trabalho para criar ilhas artificiais, com dragas puxando areia do fundo do mar para cobrir os recifes.
Após anos de desatenção à região, ocupado com o Oriente Médio, o governo dos EUA mantém o tom de confronto e diz que as patrulhas continuarão.
Risco
Com a perspectiva de atividades militares na região, cresce o risco de confronto. O jornal “Global Times”, porta-voz da linha-dura do Partido Comunista chinês, alertou que, se os EUA tentarem conter a China na região, a guerra será “inevitável”.
Apesar da retórica, a maioria dos analistas considera o risco pequeno, sobretudo porque as duas potências tendem a evitar que a situação saia do controle.
“Continuaremos a ver escaramuças, sobretudo com atores não militares como guardas costeiras, mas não vejo potencial de conflito”, diz Niklas Swanstrom, especialista em China e diretor do Instituto de Segurança e Desenvolvimento (Suécia).
Spratly, ou Nansha para os chineses, é um arquipélago com 250 formações rochosas desabitadas, entre recifes e ilhotas. Além da China, Filipinas, Vietnã e Malásia têm reivindicações territoriais no arquipélago.
Há anos a China afirma ter direitos sobre 90% do mar do Sul da China, com base em um mapa de 1947 do então governo republicano, que depois foi adotado pelo governo comunista.
Desde 2013, com a chegada ao poder de Xi Jinping, a política chinesa tornou-se mais “assertiva”, afirmam analistas. Do discurso passou-se à ação, com a criação de ilhas artificiais.
O temor dos vizinhos e dos EUA é que a China controle o estreito de Malaca, caminho mais curto entre os produtores de petróleo do golfo Pérsico e da África e os consumidores asiáticos. O Brasil sofreria se houvesse interrupções no tráfego marítimo e nas exportações para a China, seu maior parceiro comercial.
Segundo o governo americano, os chineses teriam instalado peças de artilharia móvel nas ilhas artificias, mas Pequim disse desconhecer a informação.
FONTE: Folha de São Paulo
………………bem,quanto a questão de posse, se os yankees tem direito ao “planeta inteiro” porque a China não tem direito a “seu” mar?………..um paradoxo………..