Líbano e Israel anunciaram nesta quinta-feira (1) negociações sob a mediação da ONU sobre suas disputadas fronteiras marítimas e terrestres, um acordo “histórico”, segundo os Estados Unidos, entre os dois países que estão tecnicamente em guerra.
O anúncio foi feito pelo presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, durante uma coletiva de imprensa transmitida por redes de TV locais.
Os Estados Unidos desempenharão um papel facilitador durante as negociações, a serem realizadas na cidade fronteiriça do sul do Líbano de Naqura, disse Berri, sem fornecer uma data precisa.
“Com relação à questão das fronteiras marítimas, as reuniões serão realizadas na sede das Nações Unidas e em Naqura sob a bandeira da ONU”, declarou Berri. “As reuniões serão sediadas no escritório do Coordenador Especial da ONU para o Líbano (UNSCOL)”, acrescentou.
“Os Estados Unidos foram solicitados por ambas as partes, Israel e Líbano, a desempenhar o papel de mediadores e facilitadores para a delimitação das fronteiras marítimas, e estão dispostos a fazer isso”.
Em 2018, o Líbano assinou um primeiro contrato de perfuração para prospecção de petróleo e gás em suas águas territoriais, principalmente em uma área em disputa com seu vizinho do sul, Israel.
O governo israelense indicou em maio de 2019 que havia concordado em iniciar conversações com o Líbano, tendo os Estados Unidos como mediador, para resolver o conflito por suas fronteiras marítimas.
Em 8 de setembro, o subsecretário de Estado dos Estados Unidos para Assuntos do Oriente Médio, David Schenker, anunciou “progresso” para o início das negociações e disse que espera “assinar um acordo nas próximas semanas”.
Israel afirmou que as negociações seriam “diretas” e ocorreriam após o feriado judaico de Sucot que termina em 10 de outubro, segundo nota do gabinete do ministro israelense da Energia, Youval Steinitz.
“Histórico”, diz Pompeo
“Este acordo histórico entre as duas partes foi negociado pelos Estados Unidos e é o resultado de quase três anos de intenso envolvimento diplomático” por embaixadores dos EUA, disse o secretário de Estado Mike Pompeo em comunicado.
“O anúncio de hoje é um passo vital que atende aos interesses do Líbano e de Israel, da região e dos Estados Unidos”, afirmou.
Pompeo acrescentou que espera um início “em breve”.
Quanto à fronteira terrestre, Pompeo disse que os Estados Unidos estão se inclinando para “conversas separadas em nível de especialistas para definir questões não resolvidas relacionadas à Linha Azul”, que separa esses dois países.
Essas discussões seriam “mais um passo positivo para a estabilidade regional”, disse.
O Ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazy, agradeceu “Mike Pompeo e sua equipe por seus esforços” em um comunicado.
Sobre esse assunto, os Estados Unidos vêm prestando consultoria nos dois países há quase uma década para abrir o caminho às negociações.
O acordo-quadro prevê, além do litígio marítimo que envolve uma área de 860 km2, negociações sobre “fronteiras terrestres relacionadas com a Linha Azul” e a assinatura de um acordo “entre o Líbano, Israel e FINUL”, disse Berri.
A Força Provisória da ONU para o Líbano (FINUL) deu as boas-vindas ao acordo, declarando sua disposição de “dar total apoio e facilitar os esforços para resolver a disputa”.
“Necessária” para o Líbano
A resolução do litígio de fronteira é vital para o Líbano, que está atrasado na exploração de seus recursos offshore e atolado em sua pior crise econômica em décadas.
“A delimitação das fronteiras (marítimas) é necessária porque vai facilitar primeiro o trabalho no bloco 9 e pode despertar o interesse de empresas internacionais no bloco 8, metade das quais está na área questionada”, explica Laury Haytayan, especialista na questão dos hidrocarbonetos no Oriente Médio.
O Líbano, inadimplente desde março, também está muito mais interessado em novas explorações porque as obras realizadas no primeiro bloco (nº 4) não tiveram sucesso, porque apareceram vestígios de gás mas não na quantidade necessária para comercializá-lo.
As autoridades libanesas estão muito esperançosas de uma potencial descoberta importante, que tornaria mais fácil relançar a economia e responder às necessidades de energia do país.
FONTE: AFP
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