Por Somini Sengupta
Pouco depois do meio-dia, em Kigogo, os progenitores da longa e suja guerra que varre a África Central saíram da selva e depuseram as armas. Nem todos os combatentes de suas fileiras estavam lá: 83 guerrilheiros estavam presentes, acompanhados por suas mulheres e filhos. Tampouco suas armas estavam todas lá. O material entregue incluía diversos fuzis antigos, alguns morteiros enferrujados e duas metralhadoras norte-americanas produzidas na época da guerra do Vietnã.
Mas o gesto, realizado em junho na presença de diplomatas estrangeiros e representantes das Nações Unidas, representou uma nova reviravolta em uma guerra que opõe tribos e nações há 20 anos e que deixou uma trilha de estupros e massacres que atravessa uma vasta região do continente, rica em minérios.
Os membros da organização armada, as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda, composta por guerrilheiros ruandeses da etnia hutu e conhecida por FDLR, disseram estar dispostos a entregar as armas em definitivo se fossem autorizados a voltar para casa e a negociar a paz com seu arqui-inimigo, o governo de Ruanda. A cena representava um teste político complicado para as potências estrangeiras que tentam pôr fim à longa guerra na República Democrática do Congo.
As FDLR usam aldeias como Kigogo como refúgio há duas décadas, aterrorizando-as. Um dos líderes da organização, Sylvester Mudacumura, é procurado pelo Tribunal Criminal Internacional devido ao seu papel no genocídio contra a etnia tutsi e contra os hutus moderados em Ruanda. Cinco outros líderes da organização estão presos na Alemanha. Outros dez constam na lista de sanções da ONU e estão proibidos de viajar internacionalmente.
“Queremos demonstrar à comunidade internacional que estamos falando sério, que estamos decididos e que estamos prontos a ser parte do processo de paz”, disse Wilson Irategeka, um dos líderes. Ele pediu que diplomatas do bloco regional do sul da África transmitissem as demandas políticas do grupo às autoridades ruandesas.
Pouca gente considera que isso seja realista. Os representantes da ONU estão cautelosamente apoiando o esforço, mas os EUA, por exemplo, se opõem a negociar com um grupo que tem um histórico de cometer atrocidades.
Ruanda depois disso acusou a ONU de tentar “sanitizar” os genocidas das FDLR. Os poucos integrantes do grupo que concordaram em conversar com jornalistas disseram ter deixado seu país cerca de 20 anos atrás, alguns ainda crianças, quando um grupo de guerrilha sob liderança tutsi varreu o território de Ruanda para deter o genocídio e depois penetrou no leste do Congo em perseguição aos seus perpetradores hutus. A cerimônia acontece em um momento decisivo para a missão da ONU na República Democrática do Congo.
Tendo recentemente derrotado um grupo guerrilheiro chamado M23, que operava com apoio de Ruanda, e depois enfrentado um grupo radical islâmico chamado Forças Democráticas Aliadas, perto da fronteira de Uganda, as forças de paz estão sob intensa pressão internacional para tirar de ação os combatentes originais da guerra, as FDLR.
A oferta de desarmamento voluntário do grupo convenceu as forças da ONU a postergar ações militares, enquanto os diplomatas buscam um acordo negociado. Para a cerimônia em Kigogo, compareceram dignitários estrangeiros. Mas a meia dúzia de embaixadores presentes não quis assumir qualquer compromisso firme. “Os combatentes que ainda estão na selva precisam se entregar”, disse Wilbard Hellao, embaixador da Namíbia.
A ONU estima que haja menos de 2.000 combatentes ativos das FDLR no Congo. Nos últimos anos, milhares deles se entregaram às forças de paz, que os repatriaram para Ruanda. Aqueles que decidiram sair da selva agora estão sendo abrigados, alimentados e guardados pela ONU em campos temporários. O Congo sugeriu enviá-los para o oeste do país, longe da fronteira ruandesa. Também há discussões para encontrar um terceiro país no qual alguns dos ex-combatentes possam ser reassentados.
Os membros das FDLR se veem como protetores das minorias hutus no Congo, especialmente contra grupos guerrilheiros apoiados pelo governo de Ruanda, liderado pelos tutsis. Essa visão não é inteiramente infundada. O M23 saqueou as riquezas minerais do leste do Congo e deixou uma trilha de terror na região rural do país. Um antigo líder do M23, Bosco Ntaganda, enfrenta 18 acusações por crimes de guerra no Tribunal Criminal Internacional.
Irategeka não foi capaz de evitar o assunto dos crimes de guerra cometidos pelos membros de seu grupo. Ao responder se essas pessoas deveriam ser colocadas em julgamento, disse:
“Pode haver algumas pessoas assim em nossas fileiras. Aceitamos o Tribunal Criminal Internacional”.
FONTE: Folha de São Paulo
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