O General François Lecointre, 55 anos, nomeado novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas francesa, construiu uma carreira brilhante no terreno e possui uma sólida experiência em gabinetes militares, à sombra do poder político.
Formado na prestigiosa escola militar de Saint-Cyr, era desde setembro chefe do gabinete militar do primeiro-ministro.
Trabalhou sucessivamente para os socialistas Manuel Valls e Bernard Cazeneuve, e ao atual chefe de governo, Édouard Philippe, de um partido de direita.
“É alguém muito carismático, inteligente e culto”, elogia um conselheiro que trabalhou ao seu lado em Matignon.
No Exército, serviu no Iraque durante a primeira Guerra do Golfo (1991), em Djibouti (1991-1993), na Somália (1992) e em Ruanda, em pleno genocídio, como parte da operação Turquoise (1994) e durante a guerra na ex-Iugoslávia (1995).
“A sua experiência de campo e de combate, é obviamente algo de notável nos tempos atuais e é particularmente importante para nós, num momento em que as tropas francesas estão mobilizadas no Sahel e no Oriente Médio para combater o terrorismo”, ressaltou Christophe Castaner, porta-voz do governo.
Jovem capitão de infantaria, Lecointre se destacou em Sarajevo na década de 90 durante a retomada pelo Exército francês de uma ponte, em Vrbanja, controlada pelas tropas sérvias. É um “herói reconhecido como tal no Exército”, segundo o presidente centrista Emmanuel Macron.
“Após o ataque da ponte Vrbanja, onde tivemos dois mortos e 38 feridos graves, pedi a uma psiquiatra que fosse ver os homens. Foi em Ruanda que ele falou com eles”, relatou em 2014 o general Lecointre ao Le Monde. Neste país, onde cerca de 800.000 pessoas foram massacradas, em sua maioria da etnia tutsi, “eu aprendi sobre a minha própria violência. A morte chama a morte”, confidenciou.
Após passar pelo Estado-Maior do Exército (2001-2005), assumiu um regimento de infantaria (2005-2007) e participou de uma operação de manutenção da paz na Costa do Marfim.
Integrou em 2009 o gabinete militar do ministério da Defesa, antes de comandar uma brigada de infantaria naval. Em 2013, tornou-se chefe da missão europeia para treinar o exército do Mali (EUTM).
Retornou ao Estado-Maior do Exército de 2013 a 2016, quando deixou o cargo de vice-chefe para dirigir o gabinete militar do primeiro-ministro.
“É um homem que transmite confiança, que é confiável, com um sentido de Estado”, disse outro conselheiro, acrescentando: “Sua lucidez às vezes é um pouco assustadora (…) ele não vende sonhos”.
Casado, Lecointre é pai de quatro filhas.
Em sua nova função, François Lecointre deverá mobilizar toda a sua experiência nos corredores do poder para defender os interesses orçamentais das Forças Armadas, que Emmanuel Macron acaba de cortar em € 850 milhões este ano.
“Ele é muito inteligente e bastante flexível”, garantiu um alto funcionário, referindo-se ao seu antecessor, o general Pierre de Villiers. Muito crítico em relação aos cortes, este último teve que renunciar ao mandato nesta quarta-feira.
FONTE: AFP