Por Carlos Silva Júnior
A presença argentina no Atlântico Sul vai além dos discursos políticos. Desde o início do mandato do presidente Alberto Fernández, em dezembro de 2019, foram tomadas medidas concretas para garantir a presença e reforçar os interesses nacionais no seu território marítimo, tais como: o relançamento do programa “Pampa Azul”, a criação de um conselho nacional específico para Assuntos Marítimos e a demarcação do limite externo da plataforma continental, bem como o enfrentamento à pesca ilegal nas suas águas jurisdicionais.
Ademais, constata-se a manutenção das ações realizadas no ano anterior, especialmente, no campo político-econômico. Recentemente, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), petrolífera estatal argentina, junto à empresa norueguesa Equinor decidiram se associar à Shell na primeira exploração de águas profundas do país, no bloco offshore CAN100, situado no norte do Mar Argentino. Essa parceria da YPF e da Equinor já se estende por outros dois blocos offshore, enquanto o trio já estava junto na exploração do bloco onshore Bandurria Sur, na área de exploração de Vaca Muerta, no norte da Patagônia.
Evidentemente, esse primeiro movimento de exploração em águas profundas fomentará os incentivos às pesquisas sobre os recursos marinhos, previstas no programa “Pampa Azul”, principalmente na nova área demarcada para a plataforma continental, a fim de encontrar reservas de hidrocarbonetos.
Dicotomicamente, a Argentina encontra expectativas para o seu principal pleito marítimo em uma nova realidade internacional. As Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sanduíche do Sul fazem parte dos territórios ultramarinos do Reino Unido, todavia, a soberania delas é pleiteada pelo país sul-americano. Com a concretização do Brexit, o governo argentino espera ganhar apoio da União Europeia (UE) no seu pleito, que outrora estava alinhado institucionalmente ao Reino Unido, uma vez que os territórios ultramarinos desse também estavam inseridos no bloco.
Para além dos desgastes na relação Reino Unido-UE e Ilhas Falklands/Malvinas-Reino Unido, esse por conta da ausência de um acordo comercial que preserve os benefícios comerciais e fiscais da pesca do arquipélago sul-atlântico com a UE, será necessária uma forte articulação da política externa argentina para conseguir o apoio europeu. A articulação pode vir, por exemplo, de uma postura ativa de mitigação dos impasses no Acordo Mercosul-UE e aproximação junto ao governo local do arquipélago pleiteado, que enxerga a Argentina até mesmo como uma ameaça.
FONTE: Boletim Geocorrente