Por meio do lançamento de cabos de fibra óptica no leito dos rios amazônicos, o Exército e instituições parceiras querem fazer a distribuição de banda larga para quase 4 milhões de pessoas.
Por Andréa Barretto
Em uma região coberta por florestas e cortada por rios que desenham estradas naturais, a instalação de cabos ópticos subfluviais tem se demonstrado como a melhor solução para levar banda larga a milhões de cidadãos ribeirinhos. Essa é a proposta do Programa Amazônia Conectada, concebido e realizado pelo Exército Brasileiro (EB) em parceria com outras organizações. “Após seis meses de planejamento, a iniciativa concluiu seu terceiro estágio em seis dias”, contou o General-de-Divisão do EB Decílio de Medeiros Sales, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia Industrial do Ministério da Defesa e coordenador geral do Programa Amazônia Conectada.
Entre 8 e 14 de maio, 600 quilômetros de cabos ópticos foram lançados no rio Solimões – passando pelas cidades de Manaus, Maracapuru e Coari – e no rio Negro, ligando Manaus a Novo Airão. “Existe uma estrutura de cabos submarinos que vem de outros continentes e chega por três vias até Manaus. Por meio da instalação dos cabos de fibra óptica no leito dos rios, fazemos a distribuição do sinal de Manaus para o interior do Amazonas”, explicou o Gen Div Decílio.
O trecho entre Manaus e Coari faz parte da chamada infovia Alto Solimões, que prevê a passagem dos cabos por mais de uma dezena de municípios. Já o trecho de Manaus a Novo Airão integra a infovia do Alto Rio Negro, que abrangerá mais três localidades na rota em direção à Amazônia ocidental, chegando a São Gabriel da Cachoeira, cidade situada nos limites do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, base de pelotões especiais de fronteira do EB.
Globalmente, o programa Amazônia Conectada planeja a construção de cinco infovias interligando um total de 52 localidades com quase 8 mil km de cabos ópticos. Ao final, cerca de 3,8 milhões de pessoas deverão ser beneficiadas com os serviços de banda larga.
Formação da rede
Cerca de 20 militares do EB participaram da terceira fase do programa, incluídos nesse número a equipe envolvida no planejamento, que fica em Brasília, e o pessoal empenhado efetivamente no lançamento. Juntamente com esses últimos, também trabalharam aproximadamente 40 profissionais civis.
Uma vez lançado na água, o cabo de fibra óptica deposita-se naturalmente no leito do rio. “Os mergulhadores só precisam ajudar na fixação do cabo em locais críticos, que têm pedras, por exemplo”, contou o Gen Div Decílio.
Finalmente, a estrutura chega a um ponto de ancoragem montado nas cidades previamente definidas. A partir do ponto de ancoragem, é feita a ligação entre o cabo subfluvial e os cabos terrestres, permitindo assim a transmissão de dados.
O sinal é direcionado prioritariamente para organizações militares, escolas, instituições de saúde e outros órgãos públicos, mas a capacidade não utilizada pode ser comercializada para a população em geral. Para isso, é feito um chamamento público a fim de escolher empresas provedoras interessadas em explorar o serviço. “Uma das condições é que a empresa ofereça um pacote social, com preço acessível à população de baixa renda. Além disso, estipulamos um teto para o valor do serviço, que não pode ultrapassar o valor praticado em Manaus”, ressaltou o Gen Div Decílio.
Passado, presente e futuro
“É fato que hoje a internet e os serviços de Tecnologia da Informação disponíveis no interior do estado do Amazonas são muito precários”, avaliou o Tenente-Coronel do EB Marcelo Corrêa Horewicz, chefe do 4º Centro de Telemática de Área, que gerencia o programa. A unidade é subordinada ao Centro Integrado de Telemática do Exército (CITEx) e vinculada ao Comando Militar da Amazônia (CMA).
O Ten Cel Corrêa explicou que atualmente a internet usada pela população amazônica ainda chega principalmente via satélite, mas sofre intercorrências com muita frequência por conta da umidade local e das fortes chuvas. “Há necessidade de uma infraestrutura que mantenha esse sinal constantemente funcionando, e os cabos ópticos fornecem muito mais capacidade para isso”, afirmou o Ten Cel Corrêa.
A partir dessa ideia, o EB resolveu testar a possibilidade do lançamento de cabos ópticos nos rios por meio de um projeto-piloto desenvolvido em 2015. Na época, foram usados 10 km de fibra, no rio Negro, para ligar dois quartéis militares, ambos localizados em Manaus. O projeto deu certo e abriu caminho para que o programa avançasse para todo o resto da Amazônia.
Sobre os próximos passos, o Ten Cel Corrêa contou que a equipe do programa está desenvolvendo, nesse momento, o planejamento das ações que vão dar seguimento às infovias do Alto Rio Negro, em direção as cidades de Barcelos e Alto Solimões, até a cidade de Fonte Boa, que fica na direção a Tabatinga, município na tríplice fronteira do Brasil com Peru e Colômbia. “Esse será o quarto estágio do programa, que possivelmente irá também abranger a instalação de cabos no rio Amazonas”, afirmou. Nesse caso, a infovia irá tomar o rumo oposto ao das anteriores, apontando para o leste do Amazonas, em direção ao estado do Pará.
FONTE: Diálogo Américas