KIEV — Num dia de intensos esforços diplomáticos para conter a crise na Ucrânia, os Estados Unidos negaram que tenham chegado a um acordo com a Rússia para uma saída da crise no país, como afirmou anteriormente o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
Em Paris, o chanceler se reuniu com o secretário de Estado americano, John Kerry, que defende contatos diretos entre Moscou em Kiev para resolver o problema.
— Não houve acordo durante essa reunião e jamais haverá um acordo sem um envolvimento direto do governo ucraniano — afirmou uma fonte do departamento de Estado, depois de uma reunião na capital francesa.
Mais cedo, EUA, Reino Unido e Ucrânia emitiram um comunicado conjunto pedindo que observadores internacionais sejam enviados imediatamente à Península da Crimeia, onde forças pró-Rússia controlam bases militares. O pedido veio no mesmo dia em que o enviado da ONU na Crimeia foi cercado e ameaçado por mais de dez homens armados na Crimeia, ressaltando a dificuldade que observadores poderão enfrentar, caso uma missão seja aprovada. Robert Serry foi abordado por homens armados fora de um quartel-general naval em Simferopol e alertado de que deveria deixar a região. Alguns locais chegaram a noticiar que ele havia sido sequestrado, informação que foi negada pela ONU. Aparentemente, ele está bloqueado numa cafeteria, com uma equipe de TV britânica.
“O enviado especial da ONU Robert Serry está comigo numa cafeteria. Do lado de fora, uma milícia bloqueia a porta”, escreveu o repórter James Mates, da emissora britânica ITV, no Twitter. “Ele se recusou a sair com os homens que bloqueavam o carro, desceu e achou a cafeteria. Ele pediu que a equipe da ITV ficasse com ele.”
A ONU protestou diante da ameaça a Serry. Segundo o subsecretário-geral da ONU, Jan Eliasson, Serry está em boas condições físicas.
— Ele não foi sequestrado. Está agora voltando para seu hotel depois de parar em um café para obter indicações para chegar ao hotel — disse Eliasson.
Otan reforça cooperação com a Ucrânia
Diplomatas europeus tentam fazer com que o presidente russo, Vladimir Putin, aceite o monitoramento e uma mediação, possivelmente da Organização para Segurança e Cooperação na Europa. A União Europeia deu até quinta-feira para Moscou retirar suas tropas da Crimeia ou enfrentar sanções. E, apesar da reunião amanhã em Bruxelas para discutir os próximos passos sobre o assunto, é pouco provável que medidas contra a Rússia sejam adotadas. Muitos países têm relações muito próximas com Moscou ou dependem da energia russa.
— Qualquer sanção deve ser olhada apenas se negociações não procederem — disse o primeiro-ministro finlandês — Jykri Katainen. — Sanções sempre têm um impacto negativo para quem lança. É provável que haja contra sanções.
Em Moscou, parlamentares já estudam medidas que o governo russo possa adotar caso sanções sejam adotadas contra ações do país na Ucrânia, como o confisco de bens de empresas americanas e europeias.
Em meio ao impasse, a Aliança Atlântica decidiu nesta quarta-feira reforçar as cooperação com a Ucrânia e estudar uma redução da que mantém com a Rússia, assim como suspender uma operação conjunta Otan-Rússia, indicou seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen. Segundo ele, a Otan decidiu colocar entre parênteses “todo o leque de cooperação com a Rússia”.
— Estas medidas enviam uma clara mensagem à Rússia, que deve ajudar na desescalada do conflito na Ucrânia — afirmou Rasmussen ao término de uma reunião Otan-Rússia em Bruxelas.
Premier já admite mais autonomia para Crimeia
Em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo, o primeiro-ministro da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, afirmou nesta quarta-feira que a Crimeia deve continuar na Ucrânia, mas que a região poderá ter mais poderes locais. Aprovado pelo Parlamento em 27 de fevereiro, Yatsenyuk negou a informação de que o governo estaria negociando com os Estados Unidos a implantação de defesas antimísseis em troca de ajuda financeira. E revelou que uma força-tarefa especial poderá ser estabelecida “para analisar qual tipo de autonomia adicional poderá ser concedida à Crimeia”.
— Isso não é verdade. Nós não temos negociações com o governo dos Estados Unidos para nenhum tipo de implantação de forças militares.
Os EUA acusam a Rússia de enviar tropas para a Crimeia, classificando a movimentação de um “ato de agressão” — o que o Kremlin nega. Nesta quarta-feira, em visita a Madri, o chanceler russo, Sergei Lavrov, tentou desvincular o papel de Moscou ao das forças pró-Rússia que, segundo ele, tomaram o controle do território de população majoritariamente russa.
Numa tentativa de aliviar as tensões entre os países, Lavrov e o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, se reunirão frente a frente pela primeira vez desde que a crise se agravou na Ucrânia.
Na terça-feira, um conselheiro do Kremlin advertiu que a Rússia iria reduzir a dependência econômica aos Estados Unidos a “zero”, caso o governo americano aprove sanções contra o país pela intervenção na Ucrânia, e isso causaria um “colapso” do sistema financeiro dos EUA. Em seguida, no entanto, o conselheiro disse que se manifestou pessoalmente e que sua opinião não refletia a posição oficial de Moscou.
FONTE: O Globo
Que deixem de mise en scene, a Crimeia já é da Russia.