Com um mega esquema de segurança reunindo 85 mil homens, sendo 35 mil das Forças Armadas e 47 mil das Polícias Civil e Militar, da Polícia Federal e da Defesa Civil, o Governo brasileiro espera garantir o país contra qualquer ameaça do crime, principalmente dos temidos ataques terroristas, durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Em entrevistas exclusivas para a Sputnik Brasil, o especialista em Segurança Pública e ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais (BOPE-RJ), Paulo Storani, e o coronel reformado da Polícia Militar do RJ, criador do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e também especialista em Segurança Pública, Paulo César Amêndola, mostram visões contrárias sobre a confiabilidade do esquema de segurança divulgado, que tem o dobro do efetivo usado nos Jogos de Londres, em 2012.
Paulo César Amêndola acredita que os efetivos determinados para o patrulhamento dos Jogos são satisfatórios, com agentes qualificados para esse tipo de ação. “O efetivo que vai atuar na segurança é bem expressivo, muito bem dimensionado pelos planejadores. Eu creio realmente que vai funcionar muito bem com este número. Nós já temos experiência aqui no Brasil de cobertura de grandes eventos envolvendo efetivos militares e policiais, tipo Copa do Mundo, em que deu tudo certo.”
Amêndola destaca que sempre que há uma competição em nível internacional no país, o Brasil busca informações e exemplos de países que já foram sede das competições, para estudar o planejamento, o efetivo empregado e os problemas ocorridos, a fim de adequar as situações ao Brasil. O especialista acredita que para os Jogos do Rio 2016 com certeza os exemplos dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e os Jogos Olímpicos de Inverno, na Rússia, em 2014, foram estudados.
“O Brasil trouxe farto material informativo dos eventos em Londres e na Rússia, e o material deu lastro para efetuar esse planejamento muito bem elaborado, detalhado, prevendo todas as possibilidades de ocorrências, inclusive até na possibilidade, que pode ser pequena mas foi considerada também no planejamento, que é a questão de atos de terrorismo e a ação reativa.”
Já o especialista em Segurança Pública e ex-oficial do Batalhão de Operações Especiais da PM-RJ, Paulo Storani, pensa que o mega efetivo policial mostra que o Brasil não investe em segurança preventiva. “Essa é a resposta brasileira, quando você não investe em tecnologia e em prevenção. É você atuar na resposta, na reação a um fato.”
Segundo Paulo Storani, de acordo com o discurso que vem sendo feito pela Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, fica claro que a mobilização do efetivo trata de responder a fatos que ocorram, e que todas as medidas de prevenção que poderiam ter sido feitas não foram implementadas e serão tomadas apenas um mês antes das Olimpíadas.
“A ocupação de território é uma filosofia eminentemente militar, onde se previne o problema, diminuindo a oportunidade do acontecimento. Estamos falando de delitos em que possam ocorrer grandes concentrações de pessoas, como esses grandes eventos. Contudo, a grande ameaça é terrorista, que muitas vezes se vale da concentração de pessoas para que a pessoa que for perpetrar o ato terrorista possa dissimular, se perder na massa e acabar alcançando o seu objetivo. E aí, sim, você vai ter uma resposta por parte dos 85 mil homens.”
Paulo Storani afirma de modo crítico que essa mobilização e o acompanhamento do terrorismo já deveriam estar sendo feitos desde os Jogos de Londres, em 2012. “Mas se apenas se mobilizar em julho, um mês antes, você pode ter certeza de que não vão conseguir identificar células terroristas e movimentação de recursos financeiros, de materiais e de pessoas que possam realizar um atentado terrorista, e esse é o grande risco.”
Para Paulo Storani, a organização da segurança em relação a ações terroristas para os Jogos no Brasil deveria ter sido iniciada desde a escolha do Rio de Janeiro como sede do evento. “Como não temos uma legislação sobre isso, eu creio que agentes da Polícia Federal já deveriam estar acompanhando a organização dos Jogos de Londres, estarem lá no momento em que aconteceu.
E ao término, com todo o conhecimento da inteligência que foi montada, deveriam dar continuidade a um processo, com a criação no Rio de Janeiro ou em Brasília de um escritório para monitoramento desse movimento, a ligação com os serviços de inteligência dos países que colaboraram com Londres, para que nesse momento se conheçam exatamente as possíveis ameaças em um evento como esse.”
FONTE: Sputniknews