Por Alex Gatopoulos
Ataques de drones em um oleoduto saudita a oeste de Riad na terça-feira revelaram um aparente salto significativo nas capacidades do grupo de combate Ansar Allah, também conhecido como Houthis.
O gasoduto Aramco Leste-Oeste, que se estende por todo o país até o porto e o terminal de petróleo em Yenbu, foi danificado em dois lugares, à medida que as estações de bombeamento foram atingidas. Os ataques causaram danos menores, mas alarmaram uma comunidade internacional já abalada pela forte queda nas relações entre o Irã e os Estados Unidos. As informações sobre os ataques são escassas, levantando mais dúvidas do que fornecendo respostas.
Sinais de sofisticação
Os drones têm sido cada vez mais usados pelos Houthis em operações contra a coalizão liderada pelos sauditas e pelos Emirados Árabes Unidos. Em julho de 2018, um drone explodiu no aeroporto de Abu Dhabi causando apenas pequenos danos, mas enviando uma mensagem aos Emirados Árabes Unidos de que seus interesses econômicos não eram invulneráveis. Em janeiro de 2019, um chefe de inteligência sênior, junto com vários oficiais, foi morto na base da força aérea de al-Anad, nos arredores de Áden, por um drone armado que explodiu acima da delegação. Em março, os Houthis divulgaram um vídeo de um drone sobrevoando a usina de tratamento de água e energia al-Shuqaiq da Arábia Saudita, a 130 km da fronteira iemenita. Não foi atacado, mas o aviso foi claro, com a água sendo um recurso vulnerável e muitos países do Oriente Médio confiando pesadamente em usinas de dessalinização.
Como Houthis conseguiu isso?
Os analistas estão divididos sobre a extensão da ajuda dada aos Houthis pelo Irã. Um relatório da ONU apresentado ao Conselho de Segurança da ONU em janeiro de 2018 encontrou evidências convincentes de que os drones produzidos localmente tinham uma estrutura e capacidade quase idênticas as do UAV iraniano Qasef-1, ou veículo aéreo não-tripulado.
Este drone é guiado por GPS até seu alvo, muitas vezes mergulhando no alvo para causar dano. Embora os Houthis tenham se apoiado fortemente na ajuda iraniana no passado, os drones Houthis usam cada vez mais peças que estão comercialmente disponíveis no mercado internacional, com o próprio conflito agindo como um catalisador para inovações de design. Sami Hamdi, editor-chefe do periódico International Interest, não está surpreso que os drones estejam sendo usados em números crescentes.
“Os Houthis alegam que estão criando seus próprios drones, que aprenderam como fazê-los. Fora da guerra do Iêmen, por exemplo no Iraque, também vimos isso entre as forças curdas. Eles também conseguiram. Criar seus próprios drones e usá-los. Então, não é particularmente estranho que encontremos drones entre os Houthis. Não nos esqueçamos também que eles são apoiados logisticamente pelos iranianos que continuam a fornecer-lhes conhecimentos sobre como desenvolver algumas dessas armas”, acrescentou Hamdi.
O que há de diferente nesses drones?
Este último ataque significa um grande salto nas habilidades como o drone voou mais de 800 km para a Arábia Saudita para atacar com sucesso seu alvo, o drone foi guiado usando tecnologia de satélite, pois além de um certo alcance, os drones precisam de um link de dados de satélite para serem enviados de volta ao piloto.
Os satélites tecnicamente permitem que os drones voem do outro lado do mundo, como muitos drones militares, mas também precisam de uma segunda estação piloto com acesso de linha de visão para decolar e aterrissar. O atraso nas comunicações via satélite, embora menor, causa atrasos que podem ser fatais para um drone chegando à terra. Os iranianos e os Houthis não têm satélites de comunicação conhecidos e precisariam depender de um espaço de satélites comercialmente disponível. Tudo isso significa que analistas de imagens, especialistas em comunicações, engenheiros de uplink, equipes de dois pilotos, armeiros e mecânicos precisam trabalhar em uníssono para que um ataque seja bem-sucedido. Isso implica níveis de treinamento cada vez mais sofisticados.
Por que a Arábia Saudita não conseguiu detectá-los?
Uma aeronave lenta e insalubre foi capaz de voar por várias horas até a Arábia Saudita e não foi detectada e interceptada em tempos de guerra. Isso soará alarme, como disse o general da Força Aérea jordaniana, Mamour al-Nowar, à Al Jazeera. “Seu sistema de defesa aérea falhou completamente em lidar com esses ataques” e os Houthis agora têm a capacidade de “alcançar Riyadh e Abu Dhabi,” potencialmente paralisando o país “se atingirem estações de dessalinização de água ou a usina nuclear [quase construída] em Abu Dhabi “.
Por que esse alvo?
Os analistas estão divididos sobre se o ataque do oleoduto e os ataques anteriores de sabotagem contra os petroleiros ao largo da costa do porto dos Emirados de Fujairah estão ligados de alguma forma. A economista de petróleo e gás Cornelia Meyer é enfática ao dizer que um link é tangível: “Absolutamente, e o que isso me diz é que não é apenas um grupo rebelde isolado fazendo isso, é uma campanha muito bem orquestrada”. Hamdi é mais cauteloso: “As circunstâncias dos ataques de sabotagem em Fujairah ainda não estão claras. Os Houthis anunciaram que são os responsáveis pelo ataque de Riad, mas, até onde sei, ninguém assumiu a responsabilidade pelo ataque sobre os petroleiros em Fujairah”.
O oleoduto é um alvo interessante por várias razões; está na mesma latitude que Riade, o que significa que a capital saudita está dentro do alcance. É também uma escalada graduada, evitando as baixas em massa e visando interesses econômicos. Enquanto o dano foi mínimo, um aviso foi enviado, no entanto. O oleoduto em si foi construído durante a guerra Irã-Iraque como uma alternativa à Arábia Saudita, caso o Estreito de Ormuz fosse fechado por qualquer razão, assim como o terminal de petróleo no porto dos Emirados de Fujairah. A mensagem enviada, segundo o analista militar Elias Farhat, é que “não é seguro” que os Emirados Árabes Unidos ou a Arábia Saudita “contornem o Estreito de Ormuz”. Apesar dos pequenos danos no ataque, há agora uma crescente preocupação de que, dada a tensão atual, pequenos atos de violência militar poderiam desencadear um conflito regional.
FONTE: AL JAZEERA
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN
Trecho do texto da matéria:
“economista de petróleo e gás Cornelia Meyer é enfática ao dizer que um link é tangível: “Absolutamente, e o que isso me diz é que não é apenas um grupo rebelde isolado fazendo isso, é uma campanha muito bem orquestrada”.”
Só para ressaltar, a propaganda de guerra vende os Houthis como “um grupo rebelde isolado”, coisa que nunca foram, uma vez que as forças armadas do Iemem lutam em conjunto com os Houthis na resistência contra a invasão saudita.
E a Cornélia aí da citação, faz parecer que é um mistério a organização das forças do Iemem…
Sem dúvidas existe ou existiu assistência iraniana, porém não se deve esquecer que os Houthis não são simplesmente um bando de camponeses iletrados lutando.
As forças armadas nacionais do Iemem, desde o princípio se opuseram a agressão saudita, é justamente a presença de um exército nacional já anteriormente organizado, que consegue assimilar e reproduzir as tecnologias que são transmitidas pelas forças externas apoiantes.
A ultima frase do texto deveria merecer maiúsculas em negrito….
Daqui a cinco anos nós nós voltaremos a refletir sobre esta frase e o que aconteceu depois dela…