As cada vez mais frequentes demonstrações de poderio militar de Pyongyang aceleraram a corrida armamentista no Leste da Ásia. Após a ilha de Hokkaido, no Norte do Japão, ser sobrevoada por um míssil norte-coreano no início da semana, o Ministério da Defesa japonês propôs ao Parlamento o maior orçamento militar do país até hoje, com US$ 48 bilhões. A maior parte do aumento de 2,5% em relação ao ano passado será utilizada em mísseis interceptadores de longo alcance e outras armas defensivas, numa tentativa de fazer frente à ameaça norte-coreana.
O pedido foi criticado pela China e ocorreu no mesmo dia em que aviões de guerra americanos — entre os quais bombardeiros nucleares — japoneses e sul-coreanos fizeram uma operação conjunta na Coreia do Sul simulando o ataque a alvos no Norte, no encerramento de exercícios militares anuais.
Caso seja aprovado pelo Parlamento japonês, o aumento no orçamento de Defesa será o sexto consecutivo durante o mandato do primeiro-ministro Shinzo Abe, após uma década de cortes e reduções. Além do programa de desenvolvimento de mísseis, a compra de aviões, navios militares e novos interceptadores balísticos também é destacada como um dos objetivos do Ministério da Defesa. Embora o órgão afirme que o aumento no orçamento tem como meta a proteção da nação, alguns deputados do Partido Liberal Democrata — legenda de Abe — defendem abertamente a aquisição de mísseis para deter possíveis investidas da Coreia do Norte. O tema gera apreensão entre os vizinhos, em especial, a China, com quem o país trava uma disputa territorial no Mar da China Oriental.
“O Japão tem exacerbado a ideia de uma ‘ameaça chinesa’ para ampliar seus gastos com a Defesa”, afirmou, em comunicado à imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying. “Independentemente de suas razões, os gastos japoneses com a Defesa têm aumentado anualmente e atingiram um recorde histórico. Isso nos preocupa”.
Em maio, Abe anunciou planos de revisar completamente, até 2020, o Artigo 9o da Constituição japonesa, que impede o uso da força militar do país na resolução de disputas internacionais e limita a capacidade militar do Japão.
Ontem a Guarda Costeira japonesa divulgou que enviou, desde meados de julho, pelo menos 820 advertências a embarcações norte-coreanas que pescavam ilegalmente na zona econômica exclusiva do país. Foi o primeiro anúncio de expulsão de barcos norte-coreanos da zona, e autoridades acreditam que se trate de pescadores que se aventurem em águas japonesas numa tentativa de aplacar a escassez alimentar que assola a Coreia do Norte.
As medidas adotadas pelo governo japonês receberam uma resposta desafiadora. A KCNA, agência oficial de notícias do regime norte-coreano, afirmou que “o Japão agora arregaça as mangas para apoiar os movimentos bélicos de seu amo contra a Coreia do Norte”, e alertou Tóquio para que “não se descontrole ao seguir cegamente os Estados Unidos, sem consciência de sua autodestruição iminente”.
Se por um lado Japão e Estados Unidos têm fortalecido o discurso contra as aspirações militares de Pyongyang, por outro, China — principal potência militar da região — e Rússia relutam em aplicar novas sanções à Coreia do Norte após o lançamento de míssil sobre o arquipélago japonês.
“Alguns países ignoram de forma seletiva as exigências de diálogo e falam apenas de sanções contra a Coreia do Norte”, afirmou o Ministério chinês das Relações Exteriores, numa aparente referência a Estados Unidos e Japão. “Suas ações e suas palavras desempenham um papel destrutivo, ao invés de um papel construtivo para resolver o problema nuclear norte-coreano, o que prejudica os esforços para retomar as negociações com Pyongyang.”
Já o chanceler russo, Sergei Lavrov, alertou o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, de que as sanções contra a Coreia do Norte podem ser perigosas e contraproducentes, durante um telefonema na noite de quarta-feira. Detalhes da conversa foram divulgados pela Associated Press com base numa transcrição distribuída pela chancelaria russa, mas, em Washington, o Departamento de Estado não comentou o tema.
Por sua vez, o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, pediu a Pequim que amplie as retaliações contra Pyongyang. “O que devemos fazer é deixar a Coreia do Norte completamente isolada economicamente. Se cortarmos suas fontes de renda e acesso à energia, o regime terá que lutar para sobreviver. E é isso que a China deve fazer”.
O lançamento de bombas na operação aérea conjunta próximo à fronteira norte-coreana foi encarado como uma clara resposta ao lançamento de mísseis e às ameaças do regime de Kim Jong-un.
“As ações da Coreia do Norte são uma ameaça a nossos aliados, parceiros e à nossa nação, e serão respondidas à altura”, afirmou, em comunicado, o general Terrence J. O’Shaughnessy, comandante da Força Aérea americana no Pacífico.
FONTE: O Globo via Agências internacionais