O Haiti enfrenta uma escalada de violência às vésperas das eleições presidenciais – marcadas para domingo – segundo relatou à BBC Brasil o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, comandante das forças de paz da ONU no país.
“Desde terça-feira houve um aumento considerável de incidentes (de violência) no país”, afirmou o general. Segundo ele, foram registrados episódios de grupos armados ligados a partidos políticos entrando em choque entre si e gangues tentando incendiar locais de votação com coquetéis molotov.
O general disse que as tropas internacionais e a polícia local estão posicionadas nas principais cidades do país para garantir o pleito. “Estamos prontos. A eleição vai acontecer”, disse o general.
O país vive uma profunda crise política; o principal candidato oposicionista retirou sua candidatura e promove um boicote eleitoral.
Na quinta-feira, tropas brasileiras foram despachadas com urgência para a cidade de Jacmel, no sul do país, para proteger urnas eleitorais armazenadas em um aeroporto. Grupos locais ameaçavam incendiar o local para prejudicar a realização da eleição.
Militares do Chile tiveram que destruir um grande fosso cavado em uma das principais estradas do Haiti para interromper o tráfego. Além disso, a capital, Porto Príncipe, vive uma rotina praticamente diária de protestos, barricadas e choques de manifestantes com a polícia.
Crise política
A recente crise política do Haiti foi deflagrada no segundo semestre do ano passado, junto com o início do processo eleitoral. Os primeiros distúrbios, ainda em pequena escala, começaram durante o primeiro turno das eleições parlamentares em agosto. Em outubro, quando houve votações simultâneas para o segundo turno das eleições parlamentares e o primeiro turno da corrida presidencial, a violência cresceu.
Segundo autoridades da Missão da ONU para a Estabilização do Haiti (Minustah), grupos armados ligados a partidos políticos provocaram tiroteios em redutos eleitorais de seus opositores. Eles tentavam impedir que a votação ocorresse em locais estratégicos, para assim prejudicar seus oponentes.
Os grupos foram reprimidos por autoridades locais e internacionais e a votação ocorreu com elevados índices de comparecimento de eleitores às urnas, segundo autoridades da ONU.
Oficialmente, o candidato Jovenel Moïse, apoiado pelo presidente Michel Martelly, teve 32% dos votos e o oposicionista Jude Célestin, que participou do governo do ex-presidente Renè Preval, 25%.
Mas a crise política se agravou após a divulgação dos resultados. A oposição fez denúncias de supostos casos de fraude eleitoral, como eleitores votando mais de uma vez, pagamento de propina a autoridades eleitorais e adulteração de cédulas e folhas de apuração.
Isso deu origem a uma série de manifestações de rua e a debates no Parlamento, controlado pela oposição ao presidente Martelly. Uma comissão de apuração do governo analisou posteriormente parte das urnas e documentos eleitorais. O grupo concluiu que apenas 8% das folhas de apuração não continham erros, 30% tinham votos de pessoas que não constavam na lista de eleitores e metade tinha números de identificação de eleitores incorretos, segundo o jornal New York Times.
Contudo, essa comissão afirmou que os erros não haviam sido causados por fraudes, mas sim por falta de precisão e profissionalismo de mesários e pessoas envolvidas na organização da eleição.
A OEA (Organização dos Estados Americanos) também analisou os registros da votação e constatou irregularidades. Mesmo assim, o órgão endossou o resultado do primeiro turno.
Segundo turno
A polêmica sobre a fraude levou ao adiamento do segundo turno da eleição presidencial. Ele deveria ter ocorrido em 27 de dezembro do ano passado, mas só vai se realizar neste domingo – próximo do prazo limite para que o novo presidente tome posse: em 7 de fevereiro, como manda a Constituição do Haiti.
O candidato oposicionista Célestin anunciou que, por causa das supostas fraudes, não participaria do segundo turno. Mas ele não oficializou essa decisão e seu nome aparecerá nas cédulas de votação no domingo. Célestin convocou a população a boicotar a eleição.
De acordo com a agência de notícias Associated Press, soma-se a esse cenário uma iniciativa do Senado, que aprovou uma resolução (não vinculante) para cancelar o pleito de domingo. O presidente Martelly disse porém que a votação seguirá em frente.
Analistas locais dizem que se a eleição for adiada, o presidente terá que deixar o cargo em fevereiro e será substituído por um governo provisório até a realização de um novo pleito. Por outro lado, há a possibilidade de uma intensificação da violência caso a eleição ocorra e de seu resultado ser contestado.
Missão
“Para a comunidade internacional e para nós (militares da ONU) a eleição vai ocorrer”, disse Ajax Pinheiro.
A missão do general brasileiro é apoiar a Polícia Nacional do Haiti e garantir que as urnas e cédulas eleitorais cheguem aos 1.508 locais de votação até sábado.
“Nos dois dias anteriores à eleição (esta sexta-feira e sábado), por informações que temos, esperamos um aumento das tensões, dos ataques, das tentativas de bloqueio de estradas e até o uso de coquetéis molotov contra os centros de votação numa tentativa de que não haja eleições”, disse o general.
Segundo ele, até a noite de quinta-feira, o cenário de violência era crescente, mas ainda menos grave que o ocorrido dias antes da votação de outubro de 2015. Além de lidar com esse cenário pré-votação, a ONU e as autoridades locais terão então que garantir a segurança dos eleitores no domingo e recolher as urnas o mais rápido possível para evitar que sejam destruídas após a votação.
A tarefa de garantir a segurança é oficialmente da polícia local, que tem 11 mil agentes. Mas Ajax Pinheiro precisa usar seus 2.370 militares para garantir que a operação vai dar certo.
Ele já enviou pelotões para 16 cidades críticas – em seis dos nove departamentos (Estados) do Haiti. Cada uma dessas unidades é formada por 40 combatentes (infantaria e tropas de choque), dois blindados, dois jeeps e um caminhão de transporte.
Eles carregam armas de controle de multidões (gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha) para agir em caso de distúrbios urbanos. Além disso possuem armamento letal para eventuais combates contra grupos armados e têm suprimentos para resistir a nove dias, até a chegada de reforços.
Essas unidades são formadas por militares do Chile, Uruguai, Peru e Brasil.
Na região da capital, uma das áreas mais críticas, a segurança será tarefa do batalhão brasileiro, da polícia da ONU e de unidades de choque da ONU.
Além disso, há uma “Força de Reação Rápida” da ONU – 60 militares distribuídos em cinco helicópteros de grande porte que podem se mobilizar em 30 minutos e voar para pontos do país onde haja problemas.
Voltando para casa
O general Ajax Pinheiro está otimista e disse que a realização do pleito no domingo pode influir positivamente no cronograma de retirada das tropas internacionais da missão de paz no Haiti.
O Brasil lidera a missão militar no país há 11 anos e foi um dos principais responsáveis, entre 2004 e 2007, pela desarticulação dos grupos rebeldes e gangues que motivaram o estabelecimento da missão de paz há mais de uma década.
A violência atual no país ocorre em escala bem menor do que a presenciada nos anos iniciais da missão, segundo o general. Se as forças de segurança conseguirem manter a paz no país até o fim do processo eleitoral, aumentam as chances das tropas brasileiras começarem a voltar para casa a partir de 15 de outubro – a atual data estimada pelas Nações Unidas para o fim da missão de paz.
“Pode significar a volta em outubro de todo o componente militar da ONU, de todos os países, inclusive, lógico, dos brasileiros”, disse.
Mas Ajax Pinheiro afirmou que essa não é uma decisão definitiva. Em março, uma comissão da ONU reavaliará a situação e deve decidir sobre o futuro da Minustah. Na opinião dele, a projeção de cenário mais provável é que a votação do domingo ocorra de forma relativamente tranquila e que em outubro a missão não acabe definitivamente, mas mude de perfil.
Dessa forma, a maioria dos militares retornaria a seus países, mas um pequeno contingente seria mantido no Haiti para cuidar da segurança de funcionários civis da ONU. Não se sabe se haverá brasileiros nesse grupo.
“O país está progredindo economicamente depois de um choque muito grande que teve em 2010 com o terremoto. O turismo tem melhorado e as eleições fazem parte desse grupo de medidas que vão sinalizar que a missão da ONU teve sucesso”.
“E tendo sucesso é natural, como em todos os países onde a ONU tem missões de paz, que ela reduza o seu componente militar e até civil”.
FONTE: BBC Brasil
Sobre a atuação no Haiti, é necessário explicar GEOPOLITICAMENTE, o porquê a Minustah é tão importante para o Brasil ontem, hoje e para o futuro.
Quem conhece os documentos de estratégia do governo brasileiro sabe que a longo prazo a ambição de ser um player internacional do Brasil está calcada em ser a nação líder na América do Sul e ampliadamente exercer sua influência no continente africano (ou ao menos na sua costa atlântica).
É esperado que neste século Africa do Sul, Brasil e China disputem corações e mentes na África em oposição aos EUA e Europa. Um verdadeiro campo de batalha onde não é impossível que os três países possam se articular numa política comum BRICS para a África.
O Haiti é o ÚNICO pais das Américas onde se pode dizer que temos um país eminentemente AFRICANO estrutural e socialmente.
Envolver-se e ajudar ao Haiti a superar suas dificuldades é a longo prazo uma prova CABAL as nações africanas da capacidade Brasileira de entender, ajudar e apoiar sociedades majoritariamente negras e sem impor soluções “brancas”…
Este é um valor de longo prazo que não pode ser ignorado…
Somado as ações brasileiras em curso na África Ocidental como Namíbia, Costa do Marfim, Congo e Angola…
Como disse acima, estas expectativas que a Minustah seria dispensada este ano do Haiti eram mais que otimistas (para não dizer irrealistas), hoje a mídia internacional informa que face a situação de violéncia política no Haiti as eleições deste final de semana foram adiadas pelo governo haitiano por falta de segurança, e sem data prevista para a realização…
Segue o baile…
Gilberto, num mundo real q poderia ser no Brasil e seus politicos e outros incrustados no poder, este pragmatismo colocado por vc seria fantastico caso vingasse. Porem, no momento, a situacao nao nos trouxe nenhum beneficio e acredito q nao trara. Convivi por muitos anos c o consul do Haiti aqui onde resido e isso a epoca do Baby Doc……..mas hoje, nem ele acredita numa possivel estabilizacao do pais. Nos eventualmente ficaremos c as sobras , os imigrantes haitianos e todos os encargos q isso esta nos trazendo neste momento dificil. Enfim, minha opiniao vai mais no rumo daquela colocada pelo Cesar Pereira de forma resumida, ate pqe, quem tem condicoes financeiras para ajudar e suportar qualquer transicao economica no Haiti , sao estes paises citados. Sds
Engana-te redondamente, na ONU a atuação do Brasil no Haiti foi tão destacada que o General Souza Ramos, MESMO depois de ter ido para reserva foi solicitado para chefiar por quase dois anos a MONUSCO (que recentemente terminou).
A ONU está enviando contingentes militares de vários países para fazer a preparação de missões da ONU no Crentro de GLO do Brasil no Rio de Janeiro (onde nossas tropas fazem sua preparação para as missões ONU) e há uma negociação em curso para que a experiência se efetive de modo que o Brasil passe a ser o responsável permanente por esta preparação em uma parte significativa (treinamento de missões da América do Sul e África) recebendo recursos da Organização para ampliar e manter a estrutura brasileira.
Quanto as condições de ajudar ao Haiti, o Brasil tem tamanho econômico mais que suficiente para ajudar o Haiti, a questão que somos bem melhor aparelhados a entender e a ajudar os Haitianos… E apesar de tudo, mesmo assim, não será uma tarefa fácil e nem temos garantia de sucesso. Apesar de seu CLARO pré-conceito tanto em relação a capacidade de sua própria Pátria e aos incômodos imigrantes Haitianos, felizmente durante todo este período e até que uma nova eleição presidencial e democrática mude o status atual da situação, são as forças de esquerda lideradas pelo partido que governa o país que comandam nossa política internacional para o Haiti e nossa participação nas operações de Paz da ONU… Chora…
Excelentes colocações GR.
A ONU fracassou no Haiti essa é a verdade, é melhor deixar os franceses e os EUA cuidarem dessa situação juntamente com a ONU, o BRASIL já deu a sua contribuição,já se vão 11 anos !
????
Como se o Brasil não tivesse SALVADO a situação caótica provocada justamente pela atuação tradicional e desastrada dos EUA e da França no Haiti…
Sabes muito pouco sobre a situação do Haiti ANTES da intervenção brasileira, quando os EUA correram da raia e deram a liderança ao Brasil para se livrar deste problema para concentrar seus esforços no Oriente Médio e Afeganistão. O Brasil foi “brindado” com a liderança na Minustah com a expectativa de DESASTRE num país insolúvel, que a expectativa era a pior possível.
Se não resolvemos a questão, o Haiti está muito melhor de quando o brasil começou sua atuação. Só quem não enxerga são os coxiitinhas…
Sim o Brasil gasta dinheiro, mas recebe experiência militar e reconhecimento internacional pelo que fez e como se vê acima FAZ no Haiti.
Se o pais quer ser algo mais e relevante no plano internacional este “CUSTO” tem de ser encarada como investimento de longo prazo. O Brasil para o bem ou para o mal, com estes 11 anos de operação/ocupação do Haiti, estará ligado a esta nação e não será com o eventual fim da Minustah que estes laços diplomáticos/comerciais terminarão. Nas próximas décadas, o quanto o Haiti puder evoluir e se desenvolver continuará sendo problema nosso e o país caribenho, até onde a vista alcança, será por muito tempo uma zona de influência brasileira no Caribe. Desenvolver laços turísticos e de transformar o Haiti numa plataforma de exportação de açúcar e álcool de empresários brasileiros em associação aos haitianos será um objetivo do Brasil.
Repassar para o governo Haitiano o conhecimento dos programas sociais brasileiros é outra vertente para o aprofundamento desta relação.
A própria economia Haitiana já começa a ser fortemente influenciada pelas remessas de capital enviadas por Haitianos emigrados para o Brasil e o governo Brasileiro abriu várias portas para estudantes haitianos estudarem nas universidades FEDERAIS brasileiras.
O Haiti é o CASE do Brasil como líder regional, o sucesso (ou não) do desenvolvimento social no Haiti nas próximas duas décadas estará indelevelmente ligado a posição geopolítica do Brasil no plano Internacional…
O Brasil gasta e vai continuar gastando pois tenho sérias dúvidas que a Minustah se encerre este ano…
o exercito adquiri mais experiência militar mandando tropas para combater as milícias armadas nas favelas do rio de janeiro do que fazendo um “showzinho” politico no haiti, se for comparar o nivel de armamento os bandidos do rio são dezenas de vezes superiores, visto que até .50 já foi apreendida pela a policia civi.
se o brasil estivesse realmente interessado em aparecer no cenário politico mundial estaria apoiando a campanha armada contra o ISIS, sendo que o maximo que o nosso pais recebeu de “projeção” mundial da ONU por ter ajudado os famintos haitianos foram meros salve palmas
para o lula, que hoje ninguem deve lembrar….
a relação economica não poderia ser pior, afinal, foram gastos 2 ou 3 bilhões de reais ali para receber basicamente nada, já que um pais agrícola, pobre, e com o sistema politico absurdo não poderia nos oferecer nada em troca, bom, ganhamos alguns imigrantes que contribuem com a pobreza no norte do pais e sobrevivem de bolsa-familia.
investir no haiti é sem futuro( na verdade não tem nada em que investir lá ), tragam os soldados de volta e acabem logo com isso, o brasil ajudou muito quando houve os terremotos, mas já se passaram 5 anos e o haiti ainda vive nos escombros.
o brasil ainda gasta dinheiro no haiti… ?