Ilhas ‘são parte inseparável da Argentina’, afirmou Diego Luis Suñer. Reino Unido domina território desde 1833; países entraram em guerra em 82.
O chefe do Exército da Argentina, Diego Luis Suñer, disse nesta sexta-feira (2) que as Malvinas continuam sendo “um objetivo nacional permanente e irrenunciável” do país, no dia que marca os 34 anos conflito com o Reino Unido.
“As Malvinas não se reduzem a um sentimento: são parte inseparável da Argentina. É presente e desafio de futuro”, afirmou Suñer em comunicado.
“O dia 2 de abril de 1982 é uma data indelével nas páginas de glória da vida da pátria”, destaca Suñer, sobre a data considerada como o “aniversário da recuperação das Ilhas Malvinas”.
A declaração é dada na semana em que a ONU concluiu que as Malvinas estão em águas argentinas, reacendendo polêmica sobre a ilha, controlada pelo Reino Unido.
Argentina e Reino Unido entraram em guerra pelo controle das ilhas em abril de 1982, quando tropas argentinas desembarcaram no arquipélago. O confronto durou 74 dias, até a rendição argentina em junho, após o envio de soldados britânicos à região.
“A Guerra das Malvinas representou o primeiro conflito entre dos países do bloco ocidental depois da Segunda Guerra Mundial. Nossos adversários, apesar da grande assimetria em equipamento e tecnologia, combateram corpo a corpo”, disse o chefe do Exército argentino.
“Seria injusto esquecer os heróis que lutaram bravamente. Oficiais, suboficiais e soldados deram o melhor exemplo e sofreram de tudo, até a ingratidão que os aguardava ao voltar”, afirmou Suñer.
As Malvinas são controladas pelo Reino Unido desde 1833. O governo do país se nega a negociar ao alegar que a decisão corresponde aos moradores da região, que decidiram em um referendo realizado em 2013, não reconhecido internacionalmente, se manterem sob domínio britânico.
Na nota, o chefe do Estado-Maior do Exército afirmou que, “tal como indica a constituição, a causa Malvinas continua sendo um objetivo nacional, permanente e irrenunciável do povo argentino”.
Eventos oficiais
O evento central pelo aniversário do conflito ocorreu às margens do Canal Beagle, em Ushuaia, capital da província Terra do Fogo, no sul da Argentina, em frente aos monumentos da guerra.
Participaram das celebrações os ministros do Interior, Rogelio Frigerio, e o de Educação, Esteban Bullrich.
O presidente argentino, Mauricio Macri, que voltou dos Estados Unidos após participar da Cúpula de Segurança Nuclear de Washington, fez uma oferenda floral no monumento em homenagem ao conflito situado na Praça de San Martín, em Buenos Aires, onde também houve um evento para lembrar dos combatentes mortos no conflito.
“Essas ilhas no Atlântico, que nos trazem todas essas lembranças, seguem sendo inexoravelmente nossas: nos esperam com uma paciência continental. Nós voltaremos”, escreveu posteriormente Macri em uma rede social.
FONTE: G1
Sr. HMS_Tireless:
Inicialmente, esclareço que o apanhado histórico apresentado serve somente para demonstrar que a questão do direito de soberania sobre as Ilhas Malvinas não é assim tão simples quanto o senhor tenta fazer parecer. A análise é justamente o que embasa, ou não, tal direito, e foi justamente tal análise que sempre faltou em seus comentários sobre a questão das Malvinas, pelo menos desde que posso me lembrar, e os venho observando de longa data. Seu comentário imediatamente anterior, por outro lado, quebrou essa tendência, e, se, por um lado, é parcial, no sentido de veicular os interesses britânicos, ao menos tem o mérito de entrar no debate, ao invés de apenas lançar frases de efeito.
Todos os argumentos apresentados pelo Sr. representam apenas o viés britânico do assunto, e podem ser contrapostos pelos argumentos argentinos. O Direito Internacional é matéria bastante complexa, e há vários fundamentos que podem sustentar cada uma das posições. De sua parte, são arrolados, em resumo, os seguintes fundamentos: (1) o Império Britânico não teria abandonado as ilhas, pois lá deixou uma plaquinha, que asseguraria seus direitos futuros sobre o local; (2) as Províncias Unidas do Rio da Prata nunca poderiam ter outorgado direitos de exploração a um terceiro, pois tais direitos não lhes pertenciam por não terem sido herdados do Império Espanhol; (3) a Argentina, ao longo de sua consolidação territorial, não foi capaz de impor sua soberania sobre as Malvinas, ao contrário do que se deu com Brasil e EUA; (4) o Império Britânico colonizou as ilhas; logo, isso teria conferido aos colonos a capacidade de autodeterminação e (5) o Direito do Reino Unido às Falklands é inequívoco.
Sem pretender esgotar o assunto, é possível dar uma resposta razoável a cada um de seus argumentos: (1) penso que uma placa reivindicando soberania não deve ser título mais importante do que todos os que a Argentina apresenta (dentre outros, ocupação efetiva –tanto pela Espanha quanto pela Argentina, sendo que, no primeiro caso, para os argentinos, vigora o uti possidetis juri, o qual, aliás, foi empregado na divisão das possessões espanholas na América–, continuidade geográfica, direitos históricos (inclusive em relação ao descobrimento do arquipélago); (2) é amplamente discutível se as Malvinas não são direito de herança da Argentina em relação à Espanha: os platinos alegam justamente que são; (3) a Argentina ocupou, de forma pacífica, as ilhas depois do abandono britânico. O fato de o Império Britânico, em conluio com os EUA (aliança que, diga-se de passagem, persiste até hoje, e que é, possivelmente, a principal razão para a importância artificial que o Reino Unido possui no sistema global), ter conseguido expulsar um Estado mais fraco de um território que lhe pertencia não legitima a pretensa soberania britânica sobre as ilhas; (4) falar em autodeterminação é algo extremamente discutível quando se está tratando de uma possessão colonial de potência estrangeira. De fato, apenas se pode falar em autodeterminação quando se fala em povo, e só se pode falar em povo quando existe uma nação. Evidentemente, esse não é, nunca foi e nem será o caso dos habitantes das Ilhas Malvinas, que somam em torno de 3.000 pessoas e dependem inteiramente, tanto militar, quanto economicamente, do Reino Unido (no segundo caso, a situação poderá mudar se também for usurpado o petróleo argentino situado no mar ao redor das ilhas). Ora, como se pode falar em nação quando se está tratando de uma possessão de ultramar?; (5) o direito do Reino Unido sobre as Malvinas está muito longe de ser inequívoco, tanto é verdade que o assunto é discutido no âmbito do Comitê de Descolunização da ONU.
Quanto à virtual impossibilidade de retomada do arquipélago pela Argentina pela via militar, sou forçado a concordar com o Sr. Nossos vizinhos cometeram uma série de erros táticos que terminaram por permitir ao Reino Unido que retomasse a posse do território usurpado. A base de Mount Pleasant é algo impressionante e sem paralelo no hemisfério sul, e o susto que a rainha Isabel tomou certamente teve o efeito de redobrar os cuidados com o butim. No entanto, a opção militar não é a única alternativa, e a Argentina faz muito bem em manter acesa a determinação em retomar o que é seu.
O que precisa ficar claro, não para o Senhor, é claro, mas para outros que eventualmente venham a se inteirar desta discussão é o seguinte: não se trata apenas da posse daquelas ilhas geladas e ventosas onde agora, por um (infeliz?) acaso se descobriu petróleo. Trata-se de algo muito mais importante: do controle da confluência dos Oceanos Atlântico e Pacífico e também de outra coisa, que, a partir de 2048 se fará bem clara: a questão é a projeção sobre a Antártida. A posse das Malvinas, bem como das ilhas Sandwich e Geórgia do Sul legitimam as pretensões britânicas sobre uma boa fatia do continente austral. Salta aos olhos o fato de, dentre todas as reivindicações territoriais sobre a Antártida, as únicas que se sobrepõem são as da Argentina, do Chile e do Reino Unido. Todas as demais (da Austrália, da Nova Zelândia, da França e da Noruega) se encaixam perfeitamente (inclusive a da Noruega em relação à britânica), ou seja, nenhum desses países reivindica o mesmo território dos outros, e todos reconhecem mutuamente suas reivindicações, mas não reconhecem as pretensões de Argentina e Chile, que são exatamente os países mais próximos da Antártida. Como sempre, existe um orquestramento dos países centrais, no sentido de negar às nações periféricas o acesso aos recursos naturais.
Por fim, para mim ainda permanece completamente nebulosa a razão de seu pseudônimo: será o senhor apenas mais um quinta-coluna que busca solapar toda e qualquer iniciativa latino-americana na direção da autonomia e do progresso? Ou será que o senhor é, como, aliás, me parece bem provável, alguém com laços diretos com a Grã-Bretanha, e que procura ocupar espaços no fóruns de discussão para defender os interesses desse país, induzindo os nativos menos patriotas a odiarem ainda mais seus países? Talvez um dia essa dúvida seja esclarecida. Mas posts como o seu, de ontem, talvez venham a nos ajudar a elucidar essa dúvida. Keep trying.
P.S. Faço um apelo aos editores, no sentido de recolocar a presente matéria na primeira página, de modo a que os leitores possam de inteirar da discussão e terem uma noção de tudo o que está envolvido quando se fala nas Malvinas.
Mais uma vez o Sr. HMS Tireless se utiliza de falácias para desmerecer o direito argentino ao arquipélago (“retórica chorosa, vitimicista e mentirosa argentina” e “as ilhas, de fato e de direito, pertencem à Grã-Bretanha”). Para não incorrer no mesmo erro que ele, apresento uma breve revisão histórica da situação das ilhas, de resto já trazida em post publicado há mais ou menos um mês atrás:
a) o Império Britânico, de fato, em 1765 tomou posse de parte da denominada West Falkland (isla Gran Malvina), fundando Port Egmont (especificamente na ilha Saunders ou Trinidad) em 1766. No entanto, em 1764, os franceses já haviam ocupado East Falkland (isla Soledad), com a fundação de Port Saint Louis. As pretensões francesas foram cedidas à Espanha em 1767, passando o povoado a se chamar Puerto Soledad. Nem os britânicos foram os primeiros, nem se apossaram da totalidade do arquipélago, o qual, aliás, é composto de quase 800 ilhas.
b) em 1774, os britânicos abandonaram o arquipélago, tendo Port Egmont sido destruída em 1780 pela armada espanhola. A Espanha abandonou as ilhas em 1811, na esteira da descolonialização da América.
c) de 1811 a 1826, as ilhas ficaram desabitadas, exceto, segundo consta, pela presença de uns poucos gauchos e eventuais pescadores.
d) em 1823, as então Províncias Unidas do Rio da Prata (antecessoras da atual República Argentina) outorgaram ao comerciante Luís Vernet uma concessão para a exploração da pesca e do gado deixado na ilha. Em 1826, Vernet estabelece uma base nas ruínas de Port Saint Louis, vindo a fundar uma colônia permanente no local, que passou a se chamar Puerto Soledad e hoje se chama Port Louis.
e) a política argentina de regulamentação da pesca ao redor das ilhas Malvinas afetou os interesses norte-americanos no arquipélago (na época os EUA já se destacavam na caça à baleia e ao lobo marinho). Em 1831, ocorreu o confisco da carga de três navios norte-americanos, o que terminou por desencadear o ataque do USS Lexington a Puerto Soledad. A povoação foi saqueada e destruída e os EUA declararam as ilhas Malvinas terra nullius, ou seja, terra de ninguém. Esse fato é considerado a primeira violação da Doutrina Monroe, criada pelos próprios EUA apenas oito anos antes.
f) em 1833, o caminho estava aberto para o Reino Unido tomar de vez a ilha. É importante que se tenha em mente que em 1810 (pouco mais de vinte anos antes) a Argentina se tornara independente da Espanha. Ou seja, tratava-se de um Estado ainda em formação, inclusive territorial, que passou boa parte do século XIX buscando consolidar seu território continental e que não tinha, no momento, a menor possibilidade de impor seu direito contra os desmandos britânicos em ilhas oceânicas.
De qualquer modo, sempre acho estranho que um sujeito cujo pseudônimo homenageia navios da Royal Navy venha continuamente criticar, de maneira tão deselegante, nossos vizinhos nessa questão que lhes é tão importante.
Interessante você fazer uma digressão histórica no intuito de tentar defender o suposto direito argentino às ilhas. Pena que esse resumo histórico, sendo jogado sem análise, nada contribui para legitimar o pleito argentino. Aliás as muitas lacunas ora existentes apenas servem para afastar qualquer pretensão do governo de Buenos Aires. E você ainda omitiu alguns detalhes não tão pequenos que fazem a diferença senão vejamos:
Os britânicos, embora de fato tenham saído do arquipélago, o fizeram pelo fato de estarem tendo que arcar com os custos da guerra de independência dos EUA. E mesmo assim deixaram uma placa reivindicando sua posse sobre as ilhas. Ou seja, não se tratou do abandono que você mencionou.
Ao conceder o direito à exploração de pesca a uma comerciante francês, o governo das províncias do Prata outorgou um direito que não lhes pertencia pois o fato de ter se tornado independente não tornou esse governo herdeiro imediato de Madrid.
A desculpa de que “A Argentina não tinha aquele momento de impor seu direito contra os desmandos britânicos” chega a ser uma pérola do vitimicismo. A expansão e consolidação territorial dos países ao longo dos séculos se deu pelas condições dos mesmos em impor a sua soberania à novos territórios, Foi assim com o Brasil colônia, que se expandiu muito além da linha do tratado de tordesilhas, e com os EUA que foram além das 13 colônias até chegar ao Pacífico. Se a Argentina foi incapaz de projetar sua soberania sobre as ilhas, azar o dela.
Em 1833, a Grã-Bretanha ao retomar a posse das ilhas apenas encontrou uma pequeníssima guarnição argentina refugiando-se das intempéries em um navio. E depois disso tratou de povoar as ilhas, que hoje possuem uma população autóctone que em sucessivas ocasiões demonstrou inequívoca vontade de permanecer como súdita da Coroa Britânica. E caso não seja sabido a autodeterminação dos povos é um dos pilares da Carta da ONU.
Como se vê o que eu havia dito não se trata de falácia mas sim do inequívoco direito britânico à soberania sobre as Falklands, direito esse reafirmado após a vitoriosa Operação Corporate em 1982, quando as tropas de Sua Majestade, sob o resoluto comando da Dama de Ferro e de oficiais generais brilhantes como o Almirante Sandy Woodward e o General Jeremy Moore, derrotou a espúria invasão comandada pela genocida junta militar que assolava a Argentina.
Outrossim, não se trata de “crítica deselegante” mas sim de crítica realista, inclusive nos adjetivos que empreguei. E se essa questão é “tão importante” para os argentinos trata-se de um equívoco pois esse pleito inexistente tem sido manipulado por sucessivos governantes para distrair a atenção do povo argentino para os problemas internos. Foi assim em 1982 pela ditadura militar genocida, corrupta e incompetente de direita, foi assim recentemente por uma governante corrupta e incompetente de esquerda.
Por fim, cabe lembrar que caso o argentinos ousem qualquer aventura militar o cenário mudou. Se em 1982 haviam apenas 79 Royal Marines, hoje a ilha é defendida por mais de 1.500 soldados, 6 caças Eurofighter Typhoon além da presença constante de navios da Royal Navy, inclusive submarinos nucleares armados com mísseis Tomahawk. E a partir de 2018 piora pois entrará em serviço o novíssimo HMS Queen Elizabeth e seu grupo aéreo composto por aeronaves F-35B.
Antes de mais nada a ONU não decidiu que as Ilhas Falklands estão em águas argentinas mas sim que a plataforma continental argentina se estenderia até onde se situam as ilhas, o que tem efeitos na questão da ZEE e não no mar territorial, que é limitado a 12 milhas.
No mais a mesma retórica chorosa, vitimicista e mentirosa argentina visto que as ilhas, de fato e de direito, pertencem à Grã-Bretanha.
Com esta nova afirmação que elas estão em aguas argentinas fica mais difícil sustentar o território ultramarino britânico. Pra refletir? Qual a posição do Reino Unido em relação ao leste da Ucrânia em especial a Criméia?
As Malvinas são argentinas, é bom sempre lembrar disso, parabéns ao povo argentino por sua determinação !
Espero que a Argentina consiga se recuperar economicamente, e possa fazer frente ao que restou do império colonial Britânico e que, infelizmente está em nossas barbas aqui no Atlântico Sul, oxalá novos ventos conduzam a Argentina a novos tempos e a mesma possa por meios diplomáticos, e em último caso; meios bélicos, recuperar as ilhas Malvinas.