A Índia deu início à produção em série de um novo míssil balístico de 4 mil quilômetros de alcance e com capacidade de transportar ogivas nucleares.
Os peritos falam com preocupação de uma nova espiral na corrida aos armamentos regional. No pior dos casos, as coisas podem acabar num conflito nuclear localizado.
O míssil de que falamos tem o nome de Agni IV. Depois de uma série de três testes com resultados positivos, os militares indianos se preparam para recebê-lo. Entretanto, há dois anos, a Índia lançou com sucesso o míssil intercontinental Agni V com 5 mil quilômetros de alcance. Os mísseis estratégicos com esse raio de ação são considerados excessivos se pensarmos num conflito com o Paquistão. Os alvos mais adequados para o Agni V (tal como para o Agni IV) se localizam em território da China. O politólogo Piotr Topychkanov considera:
“O desenvolvimento das forças nucleares da Índia pretende alcançar vários objetivos. O primeiro é a resposta a ameaças nucleares. Essas ameaças incluem não só o vizinho Paquistão, mas também a China. Para fazer face a essas ameaças, a Índia tem de criar uma “tríade nuclear”. A componente aérea dessa tríade indiana ainda é extremamente incipiente. Por enquanto a prioridade é dada aos sistemas terrestres e, em perspectiva, à força naval.”
A tríade nuclear clássica é composta pelos elementos terrestre, naval e aéreo (a Rússia e os EUA são os países que possuem essas tríades). Mesmo com a aniquilação completa de duas dessas componentes, a terceira tem capacidade para garantir um ataque de resposta. A Índia possui, além dos mísseis estratégicos, meios aéreos para o transporte de ogivas nucleares como os aviões Mirage 2000. Além disso, em breve estará concluída a construção do primeiro submarino nuclear indiano capaz de transportar mísseis balísticos.
Visto de fora tudo isso faz pensar em pretensões a um domínio regional e a uma escalada da corrida armamentista, se bem que os indianos, evidentemente, não concordem com essa análise. O perito militar Viktor Baranets apresenta a sua opinião:
“Já há muito tempo que a Índia tenta ocupar um lugar digno dela na Região da Ásia-Pacífico. Ela enfrenta uma série de problemas territoriais e tem adversários estratégicos, antes de mais a China. A Índia não pode desenvolver as suas forças armadas sem ter esses fatores em consideração. Não podemos esquecer que a Índia possui uma vasta zona marítima em que ela também quer estar presente em permanência. Sem dúvida que o fator Paquistão também é tido em conta.”
Uma série de peritos considera que a corrida às armas regional alcançou um patamar em que os testes de mísseis com ogivas nucleares já não provocam emoções nem aos potenciais aliados, nem aos potenciais adversários. Contudo, a corrida às armas é um dos fatores mais desestabilizadores da geopolítica, considera Piotr Topychkanov:
“Tanto Nova Deli, como Islamabad e Pequim, dizem não haver uma corrida armamentista na região, mas a concorrência entre as indústrias militares é visível. Por enquanto a Índia, o Paquistão e a China não se sentem indefesos perante os outros. Não estamos falando de uma paridade absoluta, mas existe um determinado equilíbrio. Esses países não têm tendências ofensivas, mas todos entendem que o aparecimento de novas tecnologias cria novas ameaças. Em princípio, surge a possibilidade de lançar um primeiro ataque incapacitante. Se essa competição resultar em sentimento de vulnerabilidade por parte de um desses países, não será de excluir que se iniciem negociações sérias para um controle do armamento nessa região.”
Um diálogo para o desarmamento ainda pertence a um futuro indefinido. Mas será que podemos aplicar a doutrina da dissuasão nuclear na Ásia Meridional? A Índia e o Paquistão são vizinhos, o tempo de voo de um míssil é de 3-5 minutos, o que não deixa margem para tomar uma decisão equivalente. Isso provoca a desconfiança entre os países, que vai aumentando à medida que cresce o potencial militar. Sabemos que as capacidades paquistanesas são consideravelmente inferiores às indianas, mas Islamabad tem meios para estragar a vida aos indianos, considera Piotr Topychkanov:
“A grande aposta do programa nuclear paquistanês é feita nos mísseis de cruzeiro e nas armas nucleares táticas. Isso é compreensível. Nenhuma defesa antimíssil, que a Índia está desenvolvendo, poderá proteger o seu território, especialmente os alvos próximos da fronteira indo-paquistanesa, de ataques de mísseis de cruzeiro e de armas nucleares táticas. O Paquistão não pretende criar o mesmo tipo de mísseis que a Índia já possui. Ele tem recursos limitados e por isso a resposta é assimétrica.”
O problema é que uma corrida aos armamentos envolvendo a Índia, o Paquistão e a China pode, em determinadas circunstâncias, resultar num conflito nuclear localizado. Numa região densamente povoada mesmo uma troca limitada de ataques significará a morte de vários milhões de pessoas nos primeiros segundos depois do ataque e mais centenas de milhões nos primeiros dois ou três dias que se lhe seguirem.
No total, a contaminação radioativa do ambiente, a fome e outros fatores dessa catástrofe ambiental e humanitária irá provocar todos os meses a morte a 10-20 milhões de pessoas. A escala dessas calamidades deve fazer pensar os países que pretendem continuar a reforçar a sua supremacia, quando os meios existentes já são plenamente suficientes para atingir os seus objetivos estratégicos.
Fonte: Voz da Rússia