Por Carlos Abreu – Exclusivo Expresso
Os russos andam por cá com bombardeiros e a NATO por lá com fragatas e destroyers. Este é o diário de bordo de um exercício no Mar Negro liderado por um almirante português, que a bordo da fragata D. Francisco de Almeida comanda uma das forças navais permanentes da Aliança Atlântica.
Atlântico, Mediterrâneo, Estreito de Dardanelos, Mar de Mármara, Bósforo. A mais de 2600 milhas náuticas de Lisboa (quase cinco mil quilómetros) navegou em julho a fragata D. Francisco de Almeida. Nas águas do mar a que chamam Negro, cumpriu ao serviço da NATO a sua primeira missão. Juntamente com a fragata holandesa Tromp, formam até dezembro o núcleo duro de uma das duas forças de navios escoltadores da Aliança Atlântica, a Standing NATO Maritime Group 1 (SNMG1). A comandar esta força naval estará até ao Natal o contra-almirante Silvestre Correia, 55 anos de idade, 37 de Marinha.
Estreia absoluta para estes dois navios nas águas que banham a anexada península ucraniana da Crimeia e uma das principais bases navais russas, Sebastopol, mas também os ex-Pacto de Varsóvia, Bulgária e Romênia, agora membros da aliança defensiva que há mais de uma década se estende muito para lá do Atlântico Norte.
Holandeses e portugueses estão aqui para reforçar o sentimento de segurança por via de uma intensa presença militar da NATO. Para além da SNMG1, também está por aqui uma das duas forças de navios draga-minas. Portugueses e holandeses vieram participar em dois exercícios: um com a marinha búlgara e outro com a romena.
O Expresso acompanhou com exclusividade a bordo da D. Francisco de Almeida, onde seguiu embarcado o estado-maior que apoia o almirante português, constituído por 21 militares de seis diferentes nacionalidades, o exercício com os búlgaros, o Breeze 2015, onde também participaram um navio norte-americano e um romeno.
Entre 8 e 10 de julho, esta força naval tentou detetar e abater um submarino, navios e caças virtualmente inimigos. E como se esperava, os russos estavam à espreita. Segue o diário de bordo…
ATÉ JÁ, Ó CAIS DE VARNA!
Varna, 8 de julho. 6h20 (menos duas horas em Lisboa). “Neste momento, o vento sopra a cerca de dois a três nós pela amura de bombordo.” Uma brisa suave de lado esquerdo à frente, entenda-se. “Visibilidade: céu limpo. Temperatura do ar: 20 graus. Previsão para hoje: vento de nordeste moderado entre 10 a 15 nós mais para o final do período, boa visibilidade. Não está prevista precipitação durante o período da missão. Mar chão.”
Momentos antes de zarpar, o tenente Monteiro Teixeira, oficial navegador, dá ao comandante Manuel Silvestre Correia toda a informação necessária para executar a largada.
As palavras do militar escondem um amanhecer memorável com a praia ali ao lado, num sereno despertar. Mas na ponte da D. Francisco de Almeida cruzam-se olhares tensos.
Manobrar mais de três mil toneladas de aço, muita tecnologia, combustível e armamento distribuídos ao longo de 122 metros de comprimento por 14 de largura, cercado pelos cais, exige concentração. Absoluta. Quase toda a guarnição, formada por mais de 200 militares, participa na faina. No convés recolhem-se as amarras. Há fuzileiros armados, com colete à prova de bala e capacete, atentos aos que se passa nas imediações. Um navio está especialmente vulnerável nestes momentos. Sobretudo a pequenas embarcações. Velozes. Ataques assimétricos na terminologia militar.
“Quanto mais perto se está da costa maior é a possibilidade de sofrer um atentado”, explica o comandante Fernando Fonseca, oficial de relações públicas do Almirante Silvestre Correia. No interior, há equipas distribuídas pelos vários pavimentos. “Há uma série de coisas que podem correr mal durante as manobras”, explica o mesmo oficial. Estão preparados para combater um eventual incêndio ou alagamento. Mas à hora prevista, com o sol pela proa, a fragata da armada portuguesa está de saída. E o Tromp segue nas nossas águas…
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OLH´ÓS RUSSOS
Por mais que estivessem à sua espera (e estavam, como há de contar mais adiante o almirante Silvestre Correia), a presença de um navio russo ao largo de Varna não deixa de colocar os militares em alerta.
Um fuzileiro sniper toma posição a estibordo (o lado direito do navio) com a sua Windchester. Calibre 7.62 milímetros. 1200 metros de alcance. “Temos um patrulha russo a cerca de duas milhas da nossa força. Não tem a bandeira içada, no entanto, pelo número pintado na amura do navio, confirmamos visualmente que é um navio russo equipado com mísseis superfície-superfície e superfície-ar. Também tem uma peça de artilharia de 76 milímetros”, conta o comandante Véstia Cagarrinho, das operações da D. Francisco de Almeida.
“Neste momento ainda não entrou em contacto connosco por rádio. Está apenas a observar os nossos movimentos e mantém-se junto a nós a uma baixa velocidade, cerca de cinco nós, mais ou menos nove quilômetros por hora. E também tem desligado o equipamento que permite identificá-lo. No entanto, está a transmitir com o radar e já detectamos as suas emissões eletromagnéticas através do sistema de guerra eletrônica”, prossegue.
Trata-se do Ivanovets, ao serviço da esquadra russa do Mar Negro desde dezembro de 1989. 56 metros de comprimento por dez de largura. Completamente carregado desloca 493 toneladas.
“Prevê-se que seja uma situação recorrente durante a nossa permanência no Mar Negro. É normal. Não oferece qualquer ameaça. O que eles fazem aqui é o fazemos lá quando detetamos navios russos no nosso mar. Não há hostilidade nenhuma. É a forma deles operarem, sobretudo quando existem navios norte-americanos e da NATO no Mar Negro”, desdramatiza o comandante Cagarrinho. É o caso. O destroyer USS Porter transporta mísseis de longo alcance capazes de atingir Moscovo.
TÁTICA EMBRIONÁRIA
A presença dos russos não altera uma vírgula ao plano inicial. Os exercícios sucedem-se: de guerra de superfície, aérea e antissubmarina. “Os búlgaros não têm a doutrina da NATO tão enraizada como nós, nem se treinam tão frequentemente. São exercícios mais simples do que aqueles que fazemos habitualmente”, explica o comandante Cagarrinho.
E o almirante Silvestre Correia confirma: “É um exercício com características muito particulares e desenhado à imagem e à semelhança e de acordo com os interesses nacionais [da Bulgária] no qual temos, naturalmente, muito interesse em participar no sentido de nivelar os procedimentos e criar a necessária interoperacionalidade entre a força da NATO e as dos países locais que, como se sabe, só muito recentemente é que aderiram à NATO e, portanto, ainda estão numa fase muito embrionária em termos de tática e procedimentos.” E os russos? Estavam à vossa espera? A explicação segue, em jeito de balanço, na camarinha do comandante da D. Francisco de Almeida.
AGULHA EM PALHEIRO
E a noite chega com a força liderada pelo almirante português a procurar uma agulha num palheiro. O mesmo será dizer um submarino da marinha turca. Se abatê-los não é missão impossível, garantem os especialistas em luta antissubmarina, detetá-los é bem mais complexo. Mas basta o periscópio vir à tona para se tornar presa fácil.
“Estamos a investigar o último local onde detetamos o submarino para tentar perceber onde é que ele está agora e o que está a fazer. Como são muitos navios, serão divididos em dois grupos por questões de segurança da navegação. Cada grupo terá hipótese de investigar, tentar descobri-lo e trazê-lo à superfície. Os navios seguem em matilha, isto é, lado a lado, de sonares ligados ao encontro da posição provável do submarino”, explica o tenente Alves Teixeira, de olhos postos num dos muitos ecrãs do Centro de Operações da lusa fragata, cinco pisos abaixo da ponte. É para aqui que aflui toda a informação captada pelos sensores e radares.
Desta e das restantes unidades navais que integram a força. Um complexo sistema permite partilhar toda a informação mas mostrar apenas nos ecrãs os dados mais fiáveis. “Todos juntos conseguimos ter mais capacidade de deteção e de identificação. No limite, até poderíamos desligar todos os sensores da D. Francisco de Almeida e continuar a ver o que se passa à nossa volta”, refere Alves Teixeira.
SONAR OFF, RADAR ON
Se a primeira noite foi passada à procura de um submarino, o segundo dia há de ser dedicado a tentar abater dois caças MIG-25 da Forças Aérea búlgara que a meio da tarde surgem no firmamento. Têm por missão atacar um navio classificado como “unidade valiosa” que a força tem de proteger. Cercam-no criando em seu redor uma espécie de bolha. Cada navio tem de garantir a segurança em seu redor e, em conjunto, à tal “unidade valiosa” que segue no centro dessa bolha.
Acompanhamos este exercício no Tromp, a fragata holandesa especialmente equipada com um radar que permite ver a longas distâncias e baterias de mísseis antiaéreos. No centro de operações o oficial de defesa aérea está a tentar localizar os caças inimigos. “O aviso de ameaça aéreo está amarelo. Suspeita-se de que em qualquer altura a força possa estar sob ataque mas ainda não tem nenhum contacto no sistema que lhe dê essa indicação. Assim que tiverem passa a vermelho”, explica o comandante Fernando Fonseca, oficial de relações públicas da SNMG1.
À chegada dos caças, os navios lançam-se num incessante zigue-zague, guinando 180 graus, ora a estibordo, ora a bombordo. Pretendem, desta forma, escapar a um eventual disparo inimigo. E tudo termina em poucos minutos com os dois aviões virtualmente abatidos, garante um dos militares do Tromp. Aproveitemos o sentimento de vitória e vamos conhecer esta alma quase gémea da fragata portuguesa…
ÚLTIMOS CARTUCHOS
Ao terceiro dia, antes de voltar a atracar em Varna ao por do sol, tempo ainda para um exercício de tiro com a peça de 76 milímetros instalada na proa da D. Francisco de Almeida. Os navios seguem em fila, formatura 1 ou formation foxtrot, na terminologia militar, e ao chegarem a uma determinada posição executam cinco disparos com munições de tiro prático, inertes, sem qualquer tipo de explosivo, sobre um contentor branco que serve de alvo.
Nos minutos que antecedem os disparos verifica-se, constantemente, se existe algum impedimento para fazer fogo: aeronaves, outros navios nas proximidades. Para além dos radaristas, no centro de operações, estão atentos os vigias, de binóculos, nas asas da ponte, as duas varandas sobre o mar. “Bombordo safo. Estibordo safo”, informam estes militares. Fogo!
Regressar a Varna não significa descanso garantido. Para o staff e para o almirante Silvestre Correia os dias passados nos portos em missões ao serviço da NATO são preenchidos com um sem número de encontros com autoridades civis e militares. Para a guarnição, vira o disco e toca o mesmo. Mal o navio atracou, foi necessário tirar o helicóptero Lynx do hangar e montar um enorme toldo no convés de voo. No dia seguinte, Portugal agradece a hospitalidade búlgara com uma recepção. Dentro de 48 horas, a D. Francisco de Almeida voltará a zarpar, agora rumo a Constanta, Romênia. Novo exercício pela frente. Ainda mais próximo de Sebastopol.
O Mar Negro é um lugar inóspito… qualquer um que olhar de atravessado corre o risco de levar chumbo grosso e desencadear uma guerra… É tenso.
Eu gosto dos russos, mas quero a paz, não a guerra! Uma guerra hj em dia é um grande retrocesso mundial!! Os líderes mundiais tem que engolir o orgulho, pos no final todos sairam perdendo!
Quer dizer que a Otan esta a defender os nazi da Ucrania?? “ta serto”
sim contra os comuna