Exercício de logística conjunta, multinacional, interagências e humanitária – vetor de suporte ao enfrentamento dos desafios amazônicos
Por General de Divisão Racine Bezerra Lima Filho*
Ao ser convidado pelo Comandante Logístico para planejar e coordenar o Exercício AMAZONLOG17, percebi que o desafio seria grande, porém, motivante, e que me traria a oportunidade de trabalhar com antigos companheiros, com os quais compartilhei diversas lides da caserna, como as de instrutor de Logística na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), no Rio de Janeiro (RJ); instrutor convidado no Western Hemispheric Institute for Security and Cooperation (WHINSEC), nos EUA; Comandante da 16ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tefé (AM); e Chefe da Representação do Brasil na Junta Interamericana de Defesa (JID).
Uma vez apresentado à logística e ciente da importância deste sistema, constatei, mais à frente, o quanto os militares norte-americanos a valorizam e a reconhecem como fator determinante para a viabilidade e, mais que isso, para o sucesso ou o insucesso de uma operação. Já servindo na Amazônia, pude entender a observação de certo empresário em um simpósio, quando disse ser “mais fácil encontrar um elefante caminhando num shopping no Sudeste do Brasil do que um iogurte na prateleira de um supermercado em algumas cidades da Amazônia”. Na JID, percebi a grande lacuna que é, hoje, a integração entre as Forças Armadas dos países americanos, vasto campo a ser explorado.
A essa altura, o leitor pergunta-se: mas, afinal, o que é o AMAZONLOG17? Respondo em poucas linhas.
É um Exercício Combinado de Logística Humanitária na Região Amazônica, amparado em nossas leis internas e em acordos de cooperação com países amigos. Além disso, é direcionado para a consecução dos objetivos estratégicos do Exército Brasileiro e das demais Forças, bem como é focado na cooperação e na busca da interoperabilidade entre as Forças Armadas e as Agências brasileiras e de países amigos. Cabe destacar que foram convidados todos os países que integram a JID, como também o foram as nações amigas que têm adidos militares acreditados no Brasil.
O AMAZONLOG17 é baseado no “negócio” do Comando Logístico do Exército (COLOG) e tem como principal objetivo melhor cumprir seu papel, respeitando o dos demais atores. Ainda nesse contexto, registra-se a aproximação de nossas Forças coirmãs com as de outros países e com as agências, que participam direta ou indiretamente do Exercício. São mais de duas dezenas de países e outras tantas agências com presença confirmada.
Apenas Brasil, Colômbia e Peru, condôminos de uma fronteira comum, tem tropa no terreno. Todo o efetivo está concentrado em Tabatinga (AM), porém, atuando sempre no respectivo território. As ações são planejadas por um Estado-Maior Combinado Interagências e o Comando Combinado é figurado pela direção do Exercício.
Como novidade doutrinária, o apoio logístico ocorre a partir de uma Base Multinacional, composta por Unidades Logísticas Multinacionais Integradas (ULMIs). Estas são constituídas de meios e de pessoal do Brasil e de diversos países amigos. Alguns produtos de defesa são utilizados de forma prática nessas ULMIs, abrindo espaço para a divulgação de nossa indústria, atividade que conta com a presença de autoridades nacionais e estrangeiras.
Assim, a iniciativa do Comandante Logístico, aprovada pelo Comandante do Exército e pelo Ministro da Defesa, mostra-se, a meu ver, além de pertinente e atual, extremamente corajosa. Pertinente, porque, de fato, a logística é o maior desafio na Amazônia, não obstante o trabalho messiânico de nossos soldados. Atual, posto que o conceito de Base Logística Multinacional, composta por ULMIs, vem sendo adotado por países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não só com o objetivo de integrar esforços, mas também e, sobretudo, como forma de otimizar a utilização de preciosos recursos. Corajosa, uma vez que ideias novas, via de regra, enfrentam a barreira da quebra de paradigmas.
Pela primeira vez, o COLOG organiza e conduz um exercício. Mas, trata-se de um Exercício Logístico, que vai ao encontro dos objetivos estratégicos do Exército, levando meios ao terreno; testando novos eixos de suprimento que possam conectar o Sul e o Sudeste à Amazônia; incentivando e abrindo espaço para a indústria de defesa nacional; e compartilhando experiências com países amigos, que enfrentam desafios comuns na tríplice fronteira Brasil – Peru – Colômbia.
Já realizamos duas conferências internacionais de planejamento em Brasília (DF); um evento teste (Exercício de Mesa) em Manaus (AM); e o Simpósio de Logística Humanitária, com exposição de produtos de defesa, também em Manaus. De 6 a 13 de novembro de 2017, ocorre o Exercício propriamente dito, em Tabatinga, sendo o dia 11, sábado, destinado a visitas e demonstrações.
A fim de entender a dimensão do esforço, convém lembrar que o primeiro comboio partiu ainda em julho, do Sudeste em direção à Amazônia, para poder cobrir uma distância de cerca de 6.500 km, sendo os últimos 2.680 km, de Porto Velho (RO) a Tabatinga (AM), por rio. Ainda em relação a números, cito mais alguns, que refletem a participação multinacional e interagências, e que impressionam pela magnitude: cerca de 1.800 pessoas diretamente envolvidas; 22 agências do governo brasileiro; 13 helicópteros; 11 aeronaves de asa fixa e 29 empresas.
Nossa impulsão já permite visualizar que o AMAZONLOG17 é um jogo em que ganharão todos os participantes do Brasil e das Nações Amigas, a nossa doutrina de operações combinadas, as sofridas populações da área, as instituições e todas as esferas de governo, consoante a estratégia de fazer-se presente.
Acreditando no axioma “Treinamento difícil, combate fácil” – estamos nos adestrando para cumprir nossa principal missão constitucional: a Defesa da Pátria e, em particular, de nossa brasileira Amazônia.
Selva!
*Assessor Especial do Comandante Logístico do Exército
Caros
O ponto de maior probabilidade de conflitos sempre foi a região amazônica. Temos dificuldades de vigiar as fronteiras secas e molhadas e ainda devemos proteger nossos cidadãos amazônicos. Este exercício de uma magnitude jamais vista no país criará uma doutrina de ação e reação na amazônica permitindo uma resposta rápida em qualquer situação seja em áreas de conflito, sejam em área de calamidade.
O motivo real deste exercício na Amazônia com participação estrangeira é para mostrar que neste território quem dá as cartas é o Brasil. Se os estrangeiros aceitaram participar é porque reconhecem quem manda no território. Ou seja você só entra porque foi convidado pelo dono. Esta é a estratégia geopolítica.
Bom dia senhores ! Ate hj nao entendi o porquê desses exercícios , ajuda humanitária ? fala sério ! Esta mais para a internacionalização da Amazônia de vez .
Uma vez o general Vilas Boas disse que a Amazônia era uma”” província “” dentro do país, isso em pleno século 21 ! O problema logístico existe por causa do descaso do Estado Brasileiro, que a séculos deixou essa região a mercê da própria sorte, a pesar de sua importância! Messiânico é quem vive nessa região, com todo respeito às nossas forças armadas, mas quem mantém mesmo essa região como parte do BRASIL é o cidadão que vive na Amazônia!
Afinal de contas, o exercício é para controlar drogas ou para a favor dos EUA?
Pedro, o desastre mais visível é a falta de integração de povoados e cidadelas isoladas. Também existe a questão de defesa das fronteiras (narcotráfico). Outras questões não citadas são: possibilidade de mega tsunami na área litorânea Norte/Nordeste caso o vulcão Cumbre Vieja entre em erupção (Canárias) – a presença de um rio termal cujas altas temperaturas ainda não foram explicadas – a presença do mais antigo vulcão do planeta (extinto sim, mas nunca se sabe). Tráfico de animais, tráfico de nossas riquezas vegetais que são levados para o exterior e cínicamente patenteados. Além disso qualquer ação de prevenção, qualquer operação visando conhecimento, treinamento e auxílio humanitário a nossa gente tão humilde e indefesa vale ouro e merece ser Abençoada.
Qual foi o GRANDE DESASTRE NATURAL que já ocorreu na Amazônia nos últimos anos que justifique um exercício desse tamanho com a desculpa de “ajuda humanitária”???
Que eu sei, e se é o Brasil que eu vivo, já vi tragédias naturais no Sul, no Sudeste, no Nordeste… Por que na Amazônia?
Quem quiser acreditar que isso é exercício de “ajuda humanitária” fique a vontade. EU não acredito!
Sds.