Por Gen Div Tales Villela e Cel Juacy (*)
A prontidão para o combate é o estado ideal de qualquer força militar, pois garante sua utilidade para o país. Um exército em constante prontidão oferece dois efeitos cruciais para a defesa nacional. O primeiro é a dissuasão, já que potenciais adversários podem evitar o confronto militar ao perceberem que essa opção não é viável ou factível. O segundo efeito é a maior chance de vitória em caso de conflito, uma vez que a força defensiva estará preparada para proteger os interesses da nação.
Reconhecendo essa importância, o Comandante do Exército Brasileiro, em sua Diretriz de 2023-2026, prioriza o estado de prontidão: “Priorizaremos nossa operacionalidade, mantendo a coesão e o estado de prontidão”. Isso evidencia a necessidade de manter a Força Terrestre preparada para qualquer eventualidade e em condições de pronta resposta.
A prontidão operacional depende de vários fatores, como a formação dos militares, treinamentos e a aplicação de doutrinas de emprego. No entanto, um aspecto fundamental para garantir a prontidão operacional é a prontidão logística. Não há como falar de prontidão operacional sem antes alcançar a prontidão logística, que envolve fornecer às Organizações Militares (OM) os meios necessários em quantidade, local e momento adequados no Teatro de Operações (TO). Essa capacidade deve ser desenvolvida e treinada em tempos de paz, para ser imediatamente utilizada em conflitos e guerras. Em situações de crise, a prontidão logística regular pode não ser suficiente para atender às demandas da Força Terrestre, exigindo um esforço de Mobilização Nacional. Neste contexto, a Mobilização Industrial desempenha papel central, pois garantirá o fornecimento de itens essenciais para as operações militares, diretamente aumentando a prontidão logística.
Assim, o Exército busca a prontidão operacional, que depende da prontidão logística. Isso é adequado para operações de baixa intensidade e curta duração. No entanto, em operações de média ou grande escala e duração, é necessário também ter prontidão fabril e tecnológica para sustentar as operações militares.
Nesse cenário, destaca-se a capacidade fabril do Exército Brasileiro, coordenada pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), por meio da Diretoria de Fabricação (DF) e seus Arsenais de Guerra (AG). A missão da DF é planejar, coordenar e controlar a fabricação, revitalização, adaptação, modernização e nacionalização de materiais de interesse da Força Terrestre em parceria com a Base Industrial de Defesa.
A DF e seus três Arsenais – Arsenal de Guerra do Rio (AGR), Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) e Arsenal de Guerra General Câmara (AGGC) – compõem o Sistema Fabril do Exército Brasileiro (SisFab). O AGR e o AGGC, com mais de dois séculos de existência, têm uma longa história de contribuição à defesa nacional, tendo produzido itens até para a Guerra da Tríplice Aliança e a Segunda Guerra Mundial.
O SisFab tem desempenhado papel crucial no fortalecimento das capacidades militares. Entre as entregas mais importantes estão morteiros de 120 mm, 81 mm e 60 mm, equipamentos de engenharia, blindagens para veículos, manutenção e revitalização de obuseiros e morteiros, além de armamentos leves como fuzis e pistolas. Além disso, o SisFab também fabrica e realiza manutenção de equipamentos de comunicações e de visão noturna, utilizando também tecnologias de manufatura aditiva para produzir componentes.
A DF também atua em projetos complexos de Sistemas de Materiais de Emprego Militar, como a nacionalização das Viaturas Blindadas Multitarefa – Leve Sobre Rodas (VBMT-LSR) 4×4 Guaicurus, do Míssil Tático de Cruzeiro (MTC300), e a atualização da torre UT30 das Viaturas Guarani, além da atualização tecnológica dos radares SABER M60. Esses projetos envolvem estreita cooperação e confiança mútua com a indústria nacional.
A capacidade fabril do EB, representada pela DF e seus Arsenais, será estratégica em uma situação de mobilização industrial, uma vez que os Parques Regionais de Manutenção (PqRMnt), apesar de sua importância, não possuem as mesmas habilidades críticas dos Arsenais. Entre as capacidades exclusivas dos Arsenais têm-se a liderança dos Engenheiros Militares apoiados por seu corpo técnico multidisciplinar, destacam-se também expertise de gerenciamento de projetos e produção de Sistemas de Materiais de Emprego Militar (SMEM), desenvolvimento de soluções próprias de engenharia, laboratórios de qualidade e parcerias com a Base Industrial de Defesa (BID), além da produção de itens críticos e nacionalização de componentes.
Diante desse panorama, a manutenção e ampliação da capacidade industrial do EB é essencial para garantir uma prontidão logística, tecnológica e industrial robusta. Uma possível solução seria transformar os PqRMnt em Arsenais de Guerra, o que ampliaria a capacidade de sustentação das operações militares de grande escala e longa duração.
Entendendo a Prontidão Operacional como o objetivo primário do EB e, entre outros fatores, a prontidão logística e prontidão tecnológica/industrial são as estratégias para alcançar esse objetivo. E um núcleo estratégico é o conjunto de fatores, atores ou capacidades fundamentais que servem de base para a implementação e o sucesso dessa estratégia em nível nacional ou organizacional. Desta forma, as capacidades industriais orgânicas do EB passam a ser os núcleos estratégicos, os quais desenvolveram, desde os tempos de paz, os processos industriais que alavancarão as atividades industriais de obtenção de SMEM numa mobilização industrial.
Por fim, é possível constatar que o SisFab, composto pela DF e seus Arsenais, possui uma estrutura que oferece respostas, frequentemente, mais completas e sustentáveis às demandas tecnológicas da Força Terrestre, sendo os núcleos estratégicos do EB de seus processos industriais. Logo, transformar os Parques Regionais de Manutenção em Arsenais de Guerra consolidará este núcleo estratégico das capacidades industriais do Exército Brasileiro, garantindo a sustentabilidade da prontidão logística e operacional, especialmente em operações de maior intensidade e duração.
FONTE: EBlog
(*): General de Divisão Tales Eduardo Areco Villela e Coronel Juacy Aderaldo Menezes
Com todo respeito ao EB, o que adianta ter 3 ou 300 AGs se nenhum deles tiver proteção ativa (defesas anti aéreas eficazes) ou proteção passiva (estar escavado profundamente dentro de montanhas ou no subsolo a exemplo do que é feito no IRAN) ? Serão 3 ou 300 alvos fáceis para os mais variados tipos de mísseis, bombas e drones existentes no mercado em grande quantidade nos dias de hoje.