Por Karina Oliani
Eles são acionados quando nada mais deu certo. Pensa em uma unidade que é treinada pra entrar em ação quando já tentaram de tudo e nada deu certo.
Os soldados mais fortes, habilidosos e treinados das Forças Armadas vão parar nas conhecidas “Forças Especiais”.
Eu tive o enorme prazer de conhecer de perto e ainda participar de alguns treinamentos desse grupo de elite da Amazônia: a 3ª Companhia de Forças Especiais. Também conhecida como “Força 3”, consiste de elementos altamente especializados – Comandos e Forças Especiais – vocacionados para atuar na região Amazônica.
Já começou com o Treinamento Físico Militar (TFM), como eles chamam: 2 horas de educação física que não deixa nenhum crossfit pra trás. A diferença é que aqui não é só um treino mega intenso, quando ele acaba está apenas começando a corrida de 10 km.
Terminada a 1ª parte do dia que é igual pra todos, do Coronel ao soldado, agora cada um se dirige pra sua área de especialidade. Mergulhar pra desarmar bombas, fazer uma infiltração aérea (de paraquedas) com óculos de visão noturna, se camuflar pra virar um caçador e atirar com um lança-granadas ou passar por uma simulação de busca e apreensão real enquanto todas suas capacidades cognitivas estão sendo testadas são apenas algumas atividades de rotina pra esses guerreiros.
Comecei aprendendo a abandonar o paraquedas no caso de pouso na água. Uma plataforma de saltos ornamentais de 10 metros e uma corda para segurar o paraquedas. Alguns metros abaixo e você já está pendulando no ar. Um frio na barriga pra ajudar a você fazer o procedimento de liberação do paraquedas em segundos e um salto na piscina.
Já que estava molhada mesmo, na piscina ao lado estava tendo um treinamento de flutuação. Parece tranquilo né?! Uma pausa pra descanso… NUNCA! A flutuação é de roupa militar e coturno, que ao molharem parece que te arrastam pro fundo… Ainda por cima segurando um fuzil de mais de 5 kg. Eu só perguntava pra Deus como iria durar ali por mais de alguns minutos.
Eles ficam horas assim, devo admitir que isso é uma das atividades físicas mais desafiadoras que já fiz na minha vida e para sobreviver tive que desistir. Ou morria afogada. Os soldados juraram pra mim que era só uma questão de “técnica”.
Depois de tudo isso ainda tinha que dar 4 voltas na piscina semi-olímpica, nadando embaixo d’água e respirando apenas nos cantos onde havia algum cilindro pra você. Tava fácil, tava favorável…
Adoro água, mas dessa vez saí tão exausta que mal lembrava meu nome!
E agora era a hora do estande de tiro. Um prédio completamente construído com essa finalidade, onde os caçadores, ou snippers são treinados.
Com todo meu equipamento de proteção, comecei a aprender sobre todos os tipos, modelos e calibres de armas: do fuzil HK 417 a armamentos de emprego coletivo.
O recuo de alguns fuzis fez com que o próprio instrutor tentasse me segurar pra não cair pra trás. Até que nessa parte me saí razoavelmente bem e agora era hora de treinar essas habilidades do estande na mata. Em um cenário muito próximo à realidade.
Devidamente equipada com roupa de caçador saímos corremos pro meio da trilha. Na floresta, essa camuflagem se enrosca em tudo. Encontramos um lugar para o esconderijo, cobrimos com folhagem e depois esperamos, como todo bom caçador espera pacientemente sua caça. Com binóculos de longo alcance, fotos e completamente encolhidos fizemos o reconhecimento dos suspeitos.
Para encerrar um dia e tanto, tivemos mais uma tarefa: sair correndo, o mais rápido que conseguíssemos e dar 2 voltas no quartel. Com a frequência ainda acima de 170 bpm tivemos que separar munições de diferentes calibres, decorar uma sequência alfa-numérica, reparar nos detalhes do cenário e fazer flexões, eu e minha dupla.
O intuito dessa loucura faz sentido quando se entende que esses homens são treinados para agirem em situações de enorme pressão com grande responsabilidade.
Um cenário real com pessoas reais e fomos vendados. Guiados por duas mãos nos ombros chegamos em uma sala com pessoas, vítimas e suspeitos. Muitos simulando ter uma arma, mas poderia ser apenas um celular. Uma pessoa gritava estericamente. Nossas vendas foram retiradas e agora a gente tinha que controlar esse caos sem deixar com que ninguém se machucasse, preferencialmente.
Desde sempre estava claro que se tratava de um exercício tático, mas a adrenalina sobe tanto nessa hora que você se sente dentro de um filme policial.
Salto noturno, pouso na água, identificação e controle de suspeitos, tiro com diversos armamentos e assim foi meu dia com a Força 3, tentando sobreviver no meio dos homens mais fortes e treinados das Forças Armadas.
SELVA! FORÇA!
FONTE: Estadão