Por Maj Diego Ébio de Sant’ana
Os combates no conflito entre Rússia e Ucrânia estão se caracterizando pelo elevado emprego de carros de combate, outras viaturas blindadas e sistemas de artilharia[1], o que traz impacto direto à logística, com destaque para as funções logísticas manutenção e salvamento no nível tático.
Isso fica evidenciado ao verificar-se que várias unidades do sistema de mísseis móveis Pancir-S, de milhões de dólares, ficaram retidos na lama após poucas semanas de combate devido a pneus defeituosos em decorrência da não realização do giro técnico com as viaturas provavelmente por um ano.
Essa situação, em que Produtos de Defesa (PRODE) estão danificados e incapacitados de se locomoverem em posições mais avançadas na zona de combate, diminui a capacidade operativa e dificulta a progressão das peças de manobras.
Além disso, a incapacidade de rebocar sistemas de armas danifcados impede o deslocamento desses meios para as áreas mais à retaguarda, a fim de serem reparados e dificulta a recuperação do poder de combate das tropas empregadas.
Como exemplo, tem-se os vários comboios russos parados nas vizinhanças de Kiev nas primeiras semanas de combate, isso ocorreu devido à resistência das forças ucranianas e também porque havia uma baixa capacidade da Rússia de remoção, reboque e manutenção dos seus sistemas de armas danificados. [1]
Os aspectos apresentados acima mostram a relevância da manutenção e do salvamento na zona de combate. Na Força Terrestre, tem-se como principal fração responsável por essas atividades, no âmbito das Brigadas de Infantaria e de Cavalaria, a Companhia de Manutenção (Cia Mnt) do Batalhão Logístico (B Log).
A Cia Mnt/B Log tem por missões realizar o apoio de manutenção de 2º escalão, o salvamento do material e complementar a manutenção de 1º escalão das Organizações Militares (OM) apoiadas.
Para isso tem a seguinte estrutura organizacional: Comando; Seção de Comando (Seç Cmdo); Pelotão de Apoio de Material Bélico (Pel Ap MB); Pelotão Leve de Manutenção (Pel L Mnt); 1º Pelotão Pesado de Manutenção (1º Pel P Mnt); e 2º Pelotão Pesado de Manutenção (2º Pel P Mnt).
Dentro do cenário anteriormente apresentado, da grande importância das funções logísticas salvamento e manutenção na zona de combate nas operações militares modernas, destaca-se na organização da Cia Mnt/B Log a Seção de Salvamento (Seç Slv) do Pelotão de Apoio de Material Bélico (Pel Ap MB).
Essa fração tem entre suas missões realizar “[…] a remoção e o reboque de recursos materiais acidentados, salvados e capturados ou cargas ou itens específicos em proveito dos elementos apoiados” [2, p. 3–8].
A Seç Slv está organizada em 4 (quatro) Grupos de Salvamento (Gp Slv), que são divididos em 2 (duas) Equipes de Salvamento. Essas frações possuem meios de grande mobilidade e capacidade de salvamento adequada à natureza das Organizações Militares (OM) apoiadas.
Diante dos aspectos já apresentados e de acordo com o Programa Estratégico Forças Blindadas, o Exército Brasileiro recebeu recentemente em solo brasileiro 20 Viaturas Blindadas Especiais Socorro (VBE Soc) 6×6, modelo MaxxPro Recovery Vehicle, fabricadas pela empresa estadunidense Navistar Defense.
A referida viatura possui proteção blindada, suportando disparos dos calibres 5,56mm e 7,62mm, além de artefatos explosivos improvisados, minas e estilhaços de artilharia [3]. Características que garantem a essa VBE Soc a capacidade de prestar o apoio mais cerrado às OM apoiadas, com o desdobramento das Equipes de Salvamento o mais à frente possível na zona de combate, e ainda proporciona maior segurança aos militares que compõem a guarnição da viatura.
Além disso, o emprego das Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal (VBTP) Guarani pelas Brigadas de Infantaria Mecanizada e pelas Brigadas de Cavalaria Mecanizada impuseram novas demandas técnicas e operacionais, relativas à função logística salvamento, para as Cia Mnt/ B Log dessas Grandes Unidades.
Essas necessidades serão atendidas pela capacidade técnica da VBE Soc MaxxPro Recovery Vehicle. O mencionado PRODE possui lança hidráulica, suporta 27,2 Ton de içamento de carga no guindaste, 22,6 ton de arraste no cabo de aço, 42 ton para reboque e 15,8 Ton durante o uso da “asa delta” traseira.[3]–[7]
Dessa forma, a VBE Soc MaxxPro Recovery Vehicle irá aumentar a prontidão logística das Cia Mnt/B Log, isto é, “[…] a capacidade de pronta resposta das organizações militares logísticas para fazer face às demandas de apoio à F Ter em tempo de paz e em operações[…]”. [2, p. 1–4]
Conclui-se que, nos combates modernos, uma logística eficiente e eficaz é a base para a geração e a sustentação da capacidade operativa da Força Terrestre, sendo a aquisição e o início da operação da VBE Soc MaxxPro Recovery Vehicle um aumento de capacidade significativo para as funções logísticas manutenção e salvamento em operações, adestramento e nas atividades rotineiras das Cia Mnt/B Log das Grandes Unidades Mecanizadas.
Referências Bibliográficas:
[1] Marinko Aleksić, Dražen Božović, e Sead Cvrk, “Analysis of Land Army Maintenance Techniques in the War in Ukraine”, Military Review, p. 33–45, maio de 2023.
[2] Brasil. Ministério da Defesa.Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestres, “Companhia de Manutenção do Batalhão Logístico”, Brasil, 2022.
[3] Centro de Comunicação Social do Exército, “Exército Adquire Frota de Blindados de Resgate”, 11 de agosto de 2023.
[4] Navistar Defense, “MaxxPro® Recovery Vehicle – Performance (MRV-P)”, 10 de agosto de 2023. https://www.navistardefense.com/NavistarDefense/vehicles/maxxpromrap/maxxpro_recovery_vehicle (acessado 9 de agosto de 2023).
[5] Luiz Padilha, “Exército recebe 20 blindados gigantes dos EUA no Porto de Paranaguá”, Defesa Aérea & Naval, 10 de agosto de 2023. https://www.defesaaereanaval.com.br/exercito/exercito-recebe-20-blindados-gigantes-dos-eua-no-porto-de-paranagua (acessado 9 de agosto de 2023).
[6] Guilherme Wiltgen, “Exército Brasileiro adquire 20 viaturas MaxxPro Recovery Vehicle da Navistar Defense”, Defesa Aérea & Naval, 1o de fevereiro de 2023. https://www.defesaaereanaval.com.br/exercito/exercito-brasileiro-adquire-20-viaturas-maxxpro-recovery-vehicle-da-navistar-defense (acessado 9 de agosto de 2023).
FONTE: EBlog
SOBRE O AUTOR: O Maj QMB Diego Ébio de Sant’ana, além dos cursos de formação e aperfeiçoamento, possui Mestrado Profisional em Ciências Militares, com ênfase em Gestão Operacional, pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (2018); Especialização em Comunicações pela Escola de Comunicações (2013); Especialização em Logística Empresarial pela Faculdade Unyleya (2020); Logistics Captains Career Course pela Army Sustainment University/US Army (2022); Graduação em Administração pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2014). Exerceu as funções de Comandante de Companhia e Pelotão, no 18 Batalhão Logístico, de Instrutor do Curso de Material Bélico da AMAN e de Chefe do Centro de Operações Logísticas do 2 Batalhão Logístico. Atualmente é Ajudante de Ordens do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.
Ok. Excelente veículo. Mas um caminhão Guincho com a cabine blindada poderia ser tranquilamente fabricado no Brasil. Qual será o custo de manutenção dessas duas dezenas de caminhões? Será que a Avibras, Agrale, Imbra, Columbus não seriam capazes de fazer alguma coisa parecida ou atéelhor?
Parabéns a este sítio por ser referido como fonte do artigo, isso só mostra o profissionalismo do site, site este que eu acompanho desde 2014.