Por Subtenente Fábio César Santos de Assunção
Após a conquista de Monte Castelo e o rompimento da Linha Gótica, o avanço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, encontrou um novo desafio: a luta pelo domínio sobre a região do rio Panaro, cujo curso d’água tem início na região de Montese.
Essa região era guarnecida por uma nova linha defensiva que os alemães haviam estabelecido: a chamada Linha Gengis khan. Ao contrário da Linha Gótica que foi projetada, a Linha Gengis khan se formou naturalmente enquanto os aliados avançavam e os alemães recuavam.
Embora Montese fosse uma cidade bem pequena, ela representava, para os alemães, o último posto privilegiado de defesa contra o avanço aliado. Eles sabiam que, se perdessem essa linha defensiva, as portas em direção ao Vale do Rio Po estariam abertas.
Por isso, o caminho até aquele povoado de ruas estreitas e sinuosas, privilegiadamente situado na encosta de um morro foi amplamente minado, as casas esvaziadas e os alemães nelas se entrincheiraram.
Do alto da Torre de Montese, os alemães possuíam um excelente posto de observação, que permitia 360 graus de visibilidade contra qualquer tropa que se aproximasse.
O ataque a Montese teve início no dia 14 de abril de 1945. No dia seguinte, às oito horas, o Tenente Iporan se apossou da Torre que dominava Montese. Nela, aprisionou dois artilheiros alemães.
Embora a FEB tenha tomado a cidade, os inimigos se retiraram para as elevações que rodeavam Montese. Dessas posições, onde o terreno privilegiava a realização de uma defesa, os alemães ainda conseguiram resistir até o dia 17 de abril.
A Batalha de Montese é considerada a mais sangrenta que a FEB enfrentou. Naquele local, com características de ambiente urbano e sob fortes bombardeios que destruíram a cidade, foram realizadas buscas de rua em rua, desalojando alemães escondidos dentro de casas e prédios.
Vários fatores contribuíram para que a artilharia inimiga despejasse seu poder de fogo sobre nossa tropa. Os alemães acreditavam que o ataque da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária a Montese seria o principal alvo aliado naquele setor, e temiam que por ali rompesse uma Divisão Blindada. Por isso, desencadearam sobre aquela frente, a maior concentração de fogos de sua artilharia. Além disso, o Comando alemão sabia que todas as pontes na margem do rio Po estavam destruídas e caso realizasse a retirada de suas tropas, elas não poderiam transpor o rio conduzindo munições devido ao seu peso, e nem as abandonar no local. Assim, o alemão despejou em Montese, sobre os brasileiros, toda a sua munição, média e pesada.
Com a conquista de Montese, o fulcro da resistência alemã desmoronou e não houve mais condições, principalmente topográficas, para que eles estabelecessem um novo sistema defensivo e a FEB inicou o aproveitamento do êxito e a perseguição às tropas inimigas, que culminou com a captura da 148ª Divisão de Infantaria alemã.
Hoje, 78 anos depois, aquele cenário destruído pela guerra encontra-se reconstruído e, as marcas do passado foram apagadas. Porém, a passagem de nossos heróis por aquela cidade ainda se mantém viva. Em Montese, uma praça da cidade recebeu o nome de “Piazza Brazile”, nas imediações daquela torre medieval, outrora Posto de Observação alemão, há um Museu com uma sala de exposição dedicada à FEB, crianças italianas cantam em português a Canção do Expedicionário e os nossos pracinhas são lembrados como “l liberatori”.
FONTE: Espaço Cultural da Aviação do Exército