Em 10 de maio, data do nascimento do Marechal Manoel Luis Osorio, o Marquês do Herval, o Exército Brasileiro comemora o Dia da Arma de Cavalaria.
Nascido em 1808, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, atual município de Tramandaí (RS), Manuel Luis Osorio, desde cedo, já demonstrava muito interesse nas campanhas militares do pai, aprendendo a montar, a saltar, a domar e a jogar o laço e as boleadeiras.
Assentou praça aos 15 anos, na Cavalaria da Legião de Tropas Ligeiras de São Paulo, tendo seu batismo de fogo à margem do arroio Miguelete, em 1823, nas proximidades de Montevidéu, em um combate contra a cavalaria portuguesa nas lutas pela independência.
No período de 1825 a 1827, participou das campanhas da Cisplatina quando, junto ao arroio Sarandi, sob o comando de Bento Manuel, o Alferes Osorio combateu os orientais à testa de seus lanceiros e se destacou por salvar a vida de seu comandante. Tal fato ensejou o Coronel Bento Manuel a declarar: “Hei de legar-lhe a minha lança, alferes, porque a levará aonde a tenha levado”.
Lutou nas campanhas contra Oribe e Rosas (1851-1852), destacando- se durante a Batalha de Monte Caseros, ocorrida nos subúrbios de Buenos Aires, oportunidade em que, à frente do 2º Regimento de Cavalaria, na vanguarda das tropas brasileiras, rompeu o dispositivo inimigo, liderando decisivas operações de aproveitamento do êxito e perseguição e sendo promovido a coronel no ano de 1852.
Em 1855, foi nomeado para comandar a fronteira de São Borja quando, após a promoção a brigadeiro-graduado, foi incumbido de organizar uma expedição para descobrir ricos ervais no Alto-Uruguai, recebendo, como reconhecimento pelo sucesso da missão, o título nobiliárquico do Marquês de Herval.
Promovido a marechal de campo no início da Guerra da Tríplice Aliança, Osorio vivenciou diversos embates: Estero Bellaco, Tuiuti, Humaitá e, a maior das batalhas, Avaí, na qual sofreu um grave ferimento no rosto. Mais tarde, deixou em definitivo a campanha, forçado pela piora de sua saúde.
De praça do Império a Ministro da Guerra, galgou todos os postos da hierarquia militar até sua morte, em 4 de outubro de 1879. O Marquês do Herval era modelo de soldado, líder e cavalariano. Homem simples e nada aristocrático, conhecido por ser o possuidor do “vício da bravura”, Osorio era dotado de liderança incomum sobre seus subordinados, evidenciando em todas as suas ações coragem, espírito de corpo e audácia diante do perigo, sendo, assim, cognominado de “O Legendário”.
Em 13 de março de 1962, o Exército Brasileiro reconheceu seu valor e heroísmo e o eternizou, por meio do Decreto nº 51.429, como o Patrono da Arma de Cavalaria.
A Cavalaria teve suas origens na idade antiga, no final do século V e início do século IV antes de Cristo, com a finalidade de apoiar os infantes nas falanges gregas e macedônicas, sofrendo inúmeras modificações ao longo do tempo.
Tais transformações tiveram início quando o homem deixou de combater somente a pé e começou a lutar com o emprego de plataformas empurradas, inicialmente, pelo próprio ser humano, mas, depois, por animais, tais como o camelo, o elefante e o cavalo. Assim, uma nova forma de combater foi surgindo, que influía no emprego de tropas nas mais diversas batalhas que ocorreram em várias partes do mundo. Persas, árabes, mongóis, francos, alemães, ingleses e indianos, entre outros povos, colocavam a “Arma Ligeira” em destaque nos seus exércitos.
No Ocidente, durante a Idade Média, somente os nobres podiam se tornar cavaleiros e, durante as batalhas campais, havia condutas e normas que deviam ser adotadas e respeitadas. Honra, glória e nobreza são aspectos que, desde aquela época, conformam a Arma, tanto nas suas atividades de emprego militar, como na convivência entre seus integrantes.
Inicialmente, foram utilizadas plataformas empurradas pelos próprios soldados e, posteriormente, carros de guerra tracionados por asnos selvagens, elefantes, camelos e cavalos. O incremento na mobilidade, na posição superior e no poder de choque motivou a larga utilização dessas plataformas por grandes guerreiros como Alexandre, o Grande; Aníbal; Átila; e Gengis-Khan.
Do emprego dessas plataformas dominantes, surgiu um novo modo de combater, origem do que, mais tarde, seria chamado de Cavalaria: nominação herdeira do termo sânscrito AKVA, que significava combater em vantagem de posição.
Arma das “lanças cruzadas”, das lendárias cargas, do destemor no campo de batalha, a Cavalaria rejubila-se de haver recebido a alcunha de “Arma de Heróis”. Notáveis líderes militares contribuíram com a história nacional e da Cavalaria: Marechal José Pessoa Cavalcante de Albuquerque, reformulador do ensino militar, idealizador da Academia Militar das Agulhas Negras e pioneiro na inserção dos blindados no Brasil; General José Joaquim de Andrade Neves, o Barão do Triunfo, combateu em diversas campanhas, sendo contra Solano Lopes a mais destacada; General Plínio Pitaluga, comandante do 1º Esquadrão de Reconhecimento da Força Expedicionária Brasileira; Tenente Antônio João, o Herói de Dourados, que resistiu até a morte frente à invasão do solo pátrio pelo Exército Paraguaio; e Osorio, o Legendário.
Desde a última carga a cavalo em embates no Passo do Guedes (Santana do Livramento – RS) até os dias atuais, a Cavalaria tem-se modernizado para atender à fugacidade do combate multidimensional moderno. Os cascos foram trocados por pneus e lagartas, possibilitando multiplicar a mobilidade, o poder de choque, a potência de fogo, a proteção blindada e a capacidade de empregar comunicações amplas e flexíveis.
No Brasil, a Cavalaria modificou-se profundamente na década de 1960. Com o Acordo Militar Brasil – Estados Unidos da América, os regimentos foram dotados dos mais modernos materiais blindados da América do Sul à época. No início deste século, o Exército adquiriu novos carros de combate, como o M 60 A3 TTS (norte-americano), o Leopard 1A1 (alemão, de procedência belga) e, mais recentemente, o Leopard 1A5 e as viaturas Lince (italianas), essas últimas para o uso inicial na Intervenção Federal no Rio de Janeiro, em 2018.
Atualmente, a Cavalaria está estruturada em três tipos: a de guarda, responsável por operações de defesa interna, cerimoniais militares e missões de representação do Exército; a mecanizada, caracterizada pela mobilidade e pelo poder de fogo, possibilitando executar missões de reconhecimento e segurança; e, por fim, a blindada, que é altamente capacitada na operação das novas plataformas de combate e tem como fundamento o emprego combinado dos carros de combate e dos fuzileiros blindados, com a finalidade precípua de destruir o inimigo pelo poder de fogo de seus canhões e pela capacidade de manobra. Ela realiza missões relativas à defesa da Pátria, além de combater ilícitos transnacionais apoiada por projetos tecnológicos como COBRA, SISFRON e GUARANI. Também é empregada na garantia da lei e da ordem e no apoio à Defesa Civil, contribuindo com a sociedade brasileira.
Tais atividades da “Arma Ligeira”, concomitantemente com ações conjuntas entre as Armas, Quadros e Serviços, são fundamentais para que a Força Terrestre execute suas missões com êxito, contribuindo para a defesa da Pátria.
Nobres cavalarianos, na data em que homenageamos seu legendário patrono, que a liderança, o espírito agressivo, o patriotismo, a coragem, a lealdade e a bravura sejam o apanágio de suas condutas, mantendo vivos os valores, as raízes e as mais caras tradições da “Arma Ligeira” com a absoluta certeza de que SEMPRE HAVERÁ UMA CAVALARIA!
Brasília-DF, 10 de maio de 2022.