Por Julio Shidara, Presidente da AIAB
A indústria aeroespacial brasileira tem conquistado reconhecimento global, destacando-se pela excelência tecnológica e pela capacidade de inovar. A Embraer é um exemplo desse protagonismo no segmento aeronáutico, evidenciando que investimentos consistentes em desenvolvimento tecnológico e valorização dos profissionais brasileiros podem posicionar o Brasil na vanguarda do setor. Essa mesma vocação deve ser aproveitada para fortalecer a indústria espacial, que caminha para conquistar maior autonomia e relevância no mercado internacional.
A dependência do Brasil por satélites estrangeiros é uma vulnerabilidade que precisa ser urgentemente mitigada. Diversos países reconhecem a infraestrutura espacial como estratégica para sua soberania, e o Brasil não pode ficar para trás. A recente iniciativa da FINEP, que destinou as maiores subvenções econômicas de sua história para o desenvolvimento, pela indústria brasileira, de um satélite óptico de alta resolução e de lançadores de nanossatélites, representa um marco na busca por essa autonomia. Essa decisão posiciona o Brasil em uma trilha de boas práticas, seguindo modelos bem-sucedidos de programas espaciais internacionais.
Contudo, para que o Programa Espacial Brasileiro (PEB) avance com consistência, é imprescindível que ele seja tratado como sendo de Estado. O comprometimento de alocação de recursos, com investimentos previsíveis e de longo prazo é essencial para que o Brasil, não apenas reduza sua dependência externa, mas, também, para que conquiste papel de destaque global em aplicações espaciais como observação da Terra, navegação e comunicação por satélite, dentre outras.
É também essencial que a sociedade compreenda a importância do setor espacial para o desenvolvimento do país. Sem esse apoio, persistirão visões limitantes que colocam a exploração espacial como supérflua diante de outras demandas sociais. A história recente de nações como Índia e China mostra que investimentos sólidos no setor espacial resultam em desenvolvimento tecnológico, geração de empregos qualificados e fortalecimento da soberania nacional.
A inovação, pilar essencial para a indústria aeroespacial, deve ser incentivada com mecanismos de financiamento estáveis e previsíveis. É necessário que o Brasil amplie o apoio à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, adotando modelos bem-sucedidos de políticas públicas, como ocorreu no setor de energia eólica com o PROINFA. Programas como esse proporcionam organização da demanda e incentivo para que empresas nacionais ganhem espaço em mercados globais.
Outro aspecto determinante para o crescimento da indústria é o incentivo à formação de profissionais altamente qualificados. Instituições como o ITA são fundamentais para preparar engenheiros e cientistas capacitados a enfrentar os desafios tecnológicos. O diferencial do profissional brasileiro é reconhecido mundialmente por sua criatividade, engenhosidade e flexibilidade, qualidades que devem ser amplamente aproveitadas para impulsionar a inovação no setor espacial.
O Brasil tem potencial para se tornar uma potência nesta área. O caminho passa por decisões estratégicas que priorizem a inovação, organizem a demanda por soluções tecnológicas nacionais e ampliem os investimentos em formação de profissionais. O sucesso da Embraer é a prova cabal de que somos capazes de superar desafios e conquistar protagonismo global. Agora é a vez de replicar essa história de sucesso na indústria espacial, consolidando um futuro de protagonismo e soberania para o Brasil.
FONTE: Rossi Comunicação