Por Felipe Salles
Defesa Aérea e Naval entrevistou de forma exclusiva no passadiço do PHM Atlântico, o contra almirante Don D. Gabrielson, Comandante da USNAVSO/4ª Frota.
DAN: Qual sua visão sobre o futuro do exercício UNITAS?
CA Gabrielson: “Nós construímos este exercício buscando responder ao que vem ocorrendo no mundo ao nosso redor. Dentro da perspectiva dos EUA, tem havido uma mudança do nosso foco operacional de volta para o que nós chamamos de “Great Power Competition”. Então, na minha perspectiva de quem precisa efetivar este direcionamento superior, eu tenho que buscar aumentar a capacidade de cooperação com parceiros em exercícios que incluam um espectro completo de capacidades, incluindo as mais tradicionais. As capacidades com guerra antissubmarino nunca desapareceram de nosso relacionamento, mas o foco central de alguns exercícios está mudando. Eu não chamaria essa mudança propriamente de um ‘retorno aos temas básicos’ por acreditar que agora as coisas tendem a ser bem mais complexas e mais difíceis de serem conduzidas nos tipos de cenários que abarcam múltiplas formas de guerra.
DAN: E sobre o futuro emprego de datalinks dentro de um contexto estrito EUA-países sul-americanos?
CA Gabrielson: O sistema CENTRIXS é completamente digital e vem instalado em Laptops equipados com ferramentas criptografadas e com meios de comunicação via satélite. Eles são bastante empregados pela US Navy em exercícios navais com países não pertencentes à OTAN. O Brasil, assim como muitos outros países parceiros já adquiriram seus próprios terminais do sistema CENTRIXS e eles o operam em tempo integral. Nós sempre trazemos conosco mais destes sistemas para a UNITAS, disponibilizando o sistema para as nações parceiras caso elas queiram ter uma disponibilidade ainda maior de terminais. Desta forma, este tipo de capacidade já existe e já está disponível. Além do CENTRIXS existem outros datalinks de emprego tático específico como Link 11 que é utilizado por vários dos nossos parceiros na América do Sul, mas, para além disso existe ainda o Link 16 que os EUA continua a desenvolver com muitos de nossos parceiros para seu uso ou alternativamente explorar as possibilidades para sua integração, assim isso é um tema em permanente diálogo. Quando você olha para a evolução do combate moderno, sistemas como o Link 16 realmente são ferramentas vitais para nos permitir combater neste ambiente.
DAN: A promoção do Brasil para a posição de “major non-NATO ally” causaria mudança na escala de intercâmbio de militares entre os dois países?
CA Gabrielson: Meu objetivo é de fazer sempre o máximo possível juntos. O desafio de uma força global é equilibrar isso com dúzias de nações simultaneamente. Por maior que seja nossa Marinha, ela não é infinitamente grande, assim nós temos o mesmo desafio ao redor do mundo, e eu lhe digo que continuaremos a nos esforçar para conseguir ter o máximo de integração que nós conseguirmos alcançar. Ao longo de cada ano haverá diferentes tipos de oportunidades assim em alguns anos haverá muita integração, muito trabalho conjunto e não podemos esquecer que as disponibilidades das nações parceiras também variam ano a ano e que nós teremos que nos adaptar a isso. No caso do Brasil, em especial devido ao status de ‘major non-NATO ally’, isso indica que nós realmente desejamos aprofundar este relacionamento.
Concluindo, perguntamos se o novo status do Brasil indicaria o potencial convite para participação da nossa marinha em missões militares fora de área, como foi o caso da marinha argentina na década de 90. Neste momento, o almirante indicou com um sorriso que esse tipo de pergunta, por sua natureza, provavelmente caberia ao comandante da US Navy responder e a não ele.