“O Ocidente ainda precisa do regime de Bashar Assad”
A França, a Grã-Bretanha, os EUA e seus aliados não deverão fazer uma guerra na Síria, mas sim o que no jargão militar é conhecido como uma “expedição punitiva”. Essa é a convicção de um dos maiores consultores militares da Europa, o general Vincent Desportes, ex-diretor da Escola Superior de Guerra da França, hoje professor-associado do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po). A seguir, os principais trechos da entrevista que o especialista concedeu ao Estado ontem.
– A fala de Françoís Hollande é uma declaração de guerra?
– Não creio que a França esteja partindo para a guerra, mas creio ser quase inevitável uma ação militar contra a Síria. Os EUA, a Grã-Bretanha e a França estavam adiando a intervenção o máximo possível. Mas com o massacre recente em Damasco, se o relatório da ONU confirmar os fortes indícios de que Bashar Assad usou armas químicas, não restará alternativas.
– Como o senhor qualifica essa ação militar?
– Será o que nós chamamos de “expedição punitiva”. Assad ultrapassou uma linha que havia sido estabelecida. Haverá uma ação, mesmo que a Rússia se oponha – e vai continuar a se opor. Não haverá uma guerra, mas um ato de guerra para aplicar uma punição.
– Qual deve ser o resultado?
– Essa expedição não será para derrubar Assad. Nao creio que o Ocidente vá cometer o mesmo erro que cometeu na Líbia, onde o caos sucedeu a intervenção militar porque a ação não foi até o fim. Não se pode fazer Assad cair, porque há meios de continuar a intervenção militar e política. Se Assad cair, haverá massacres mais graves. Cristãos, xiitas e alauitas podem pagar. O Ocidente ainda precisa de Assad.
– Que objetivo terá esta ofensiva, então?
– Fazer Assad mudar de opinião, mostrando que o Ocidente é capaz de agir. Ele compreenderá que sua posição política não é forte o suficiente, porque a expedição destruirá parte de seus meios militares. O objetivo será cessar o massacre e obrigar Assad a adotar posições conciliatórias. Em termos de alvos, haverá palácios governamentais e sítios estratégicos, como centros de comando, bases aéreas e tudo o que levar as posições de Assad à erosão.
Andrei Netto CORRESPONDENTE / PARIS – Estadão.com.br